"No final de uma digressão, a comitiva benfiquista experimentou a vida natural e urbana, em Moçambique
Em 1962, passavam 12 anos que o Benfica não ia a Moçambique, levando 'os laurentinos a perderem a cabeça' e a 'formarem bichas desde cedo, na ânsia de conseguirem um bilhete' para assistir ao jogo. Alguns portugueses da África do Sul viajaram mais de 500 quilómetros para ver a partida!
A equipa, que a 1 de Julho conquistara a Taça de Portugal ao Vitória de Setúbal, ingressou nesta digressão que decorreu entre 4 e 7 desse mês. Subordinado ao tema 'Rota da Saudade, Rota do Coração', o objectivo era defrontar as selecções de Luanda e Lourenço Marques, que acabaram derrotadas.
Dois dias depois do jogo em Lourenço Marques, a equipa benfiquista devia ter aterrado em Lisboa, na tarde de 9 de Julho de 1962. Porém, foram obrigados a manterem-se por mais tempo na capital moçambicana porque 'o avião ficou retido em Kano'.
Na cidade, 'três dirigentes e um jornalista', ficaram hospedados no Hotel Polana e os 'restantes componentes da embaixada benfiquista', no Hotel Tivoli.
Os três elementos da direcção, Manuel da Luz Afonso, Rui Guedes e Francisco Campas, e o jornalista Alberto da Maia decidiram dar um passeio 'à boa maneira africana' no rio Incomati, um longo rio que nasce no coração da África do Sul e vai desaguar no Índico, junto à cidade laurentina, num bonito delta, 'lugar paradisíaco, a convidar a férias de repouso'. Os jogadores, no entanto, não deram oportunidade de serem convidados. Rendidos 'à eterna «febre» das compras', não foi possível reuni-los, sendo que já tinham saído do Tivoli, andando 'uns por aqui, outros por acolá'.
Por trás da 'vegetação cerrada', no rio, os quatro aventureiros entraram numa 'barcaça ligeira', onde conseguiram ver dois grandes crocodilos, 'dos «dos filmes» (...) numa das margens, barriguinha ao sol'. Pouco depois, passaram no 'meio de nutrida família de hipopótamos'. Estes, ao contrário dos crocodilos, que 'mergulharam mal nos pressentiram', 'deixaram-se admirar de todos os ângulos' e até fizeram umas gracinhas'!
Já de regresso, motivados pelo iminente pôr do sol, foram surpreendidos pela '«deita» das aves, a empoleirarem-se num ou noutro arbusto a meio do rio', prontas para aí passarem a noite.
No dia seguinte, 11 de Julho, seguiram no avião que os levou a Lisboa, onde foram recebidos com um jantar oferecido pela AFL, num restaurante no Castelo de São Jorge, em virtude da conquista do bicampeonato europeu.
Costa Pereira, Coluna e Eusébio não regressaram à metrópole com o resto da equipa. Os jogadores, de origem moçambicana, continuaram a matar saudades da sua terra natal, enchendo o coração.
Poderá saber mais sobre digressões do Clube na área 26 - Benfica Universal, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Pedro S. Amorim, in O Benfica
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