"Em termos de emprego, o desporto tem uma dimensão semelhante à da indústria da madeira, papel e cartão (1,4%), superando ramos como a consultoria e programação informática (0,9%), as actividades imobiliárias (0,7%) e as telecomunicações (0,3%).
Qual é o valor da despesa pública com o desporto, nela incluindo o Estado, as autarquias e outros entes públicos?
Qual é o peso económico do benevolato no sector? Quanto vale a indústria do vestuário e do calçado desportivo? Qual é o valor do patrocínio desportivo?
Qual o peso, na economia nacional, do espectáculo desportivo e de tudo que o mesmo estimula (publicidade, media, segurança, bilheteira, viagens, hotelaria, restauração, etc.)?
Em Portugal, responder a estas perguntas, que poderiam ser multiplicadas por dezenas de outras, é um exercício difícil.
A produção de estudos estatísticos sobre o desporto é profundamente deficitária, o que torna o conhecimento do sector muito frágil. Há pesquisas que nunca foram feitas e, noutras, os dados publicados não estão actualizados e muitas das fontes que estão na origem de informações relevantes baseiam-se em estimativas. Não obstante, é de elementar justiça reconhecer o que de positivo foi feito.
Em 2006, a União Europeia (UE) constituiu um Grupo de Trabalho sobre Desporto e Economia, tendo em vista desenvolver uma abordagem metodológica comum para medir a relevância económica do desporto.
Posteriormente, e no contexto das conclusões do Conselho da UE de Novembro de 2012, recomendaram aos Estados-membros que seguissem os progressos realizados no desenvolvimento de contas-satélite do desporto com base nos instrumentos metodológicos disponíveis, recorrendo às estruturas de cooperação existentes a nível da UE e procurando associar as estruturas governamentais competentes, incluindo os institutos nacionais de estatística.
Neste contexto, em 2014, o Instituto Nacional de Estatística assinou um protocolo com o Instituto Português do Desporto e da Juventude em que se previa a elaboração de uma Conta Satélite do Desporto (CSD), a qual contribuiria para ampliar o Sistema de Contas Nacionais Portuguesas.
O objectivo essencial da CSD era o de providenciar um sistema de informação económica relacionado com o desporto, em linha com as contas nacionais e fornecendo uma representação completa, fiável, sistematizada e passível de ser comparada internacionalmente. Complementarmente seria uma base de evidência relevante e um instrumento fundamental de diagnóstico de apoio à construção da decisão politica em matéria de políticas públicas e associativas.
Em 2016, foram publicados os primeiros trabalhos da CSD referentes ao período de 2010/2012 e o resultado final foi altamente motivador atendendo a que foi possível coligir importantes dados estatísticos sobre o sector.
Por exemplo, que a dimensão relativa do desporto no valor acrescentado bruto da economia portuguesa é semelhante à do ramo de fabricação de produtos metálicos (1,2%), ultrapassando outros como a consultoria e programação informática (1,0%), a indústria do vestuário (0,9%) ou as actividades de arquitectura, de engenharia e técnicas afins (0,8%).
Em termos de emprego, o desporto tem uma dimensão semelhante à da indústria da madeira, papel e cartão (1,4%), superando ramos como a consultoria e programação informática (0,9%), as actividades imobiliárias (0,7%) e as telecomunicações (0,3%).
Os voluntários da área do desporto foram responsáveis por 14.617,8 mil horas de trabalho voluntário formal, em 2012, o que correspondia a 7,6% do total de horas de voluntariado formal, a nível nacional.
No domínio do voluntariado, o número de voluntários que desempenharam funções em instituições ligadas ao desporto (39.124) supera o de áreas como a arte e cultura (34.505), o ambiente (17.490), a educação e investigação (14.961), a saúde (9.009) e as associações patronais, profissionais e sindicais (5.326), entre outras.
A importância relativa do trabalho voluntário formal em organizações da área do desporto, em termos do número de voluntários, apenas foi superada pelas organizações que se dedicam ao apoio social, por instituições religiosas e por clubes de outras actividades de recreação e lazer.
A Pordata, com estatísticas oficiais e certificadas sobre o país e a Europa, tem igualmente produção estatística relevante sobre o desporto.
Os últimos trabalhos publicados sobre o sector (maio de 2020) respeitam a um horizonte temporal de 2013/2018, mas no qual é possível recolher elementos significativos sobre a despesa corrente dos municípios com o desporto (+68%) ou sobre o número de praticantes desportivos federados (+13%) para além de outros dados relevantes.
Tudo a confirmar a indispensabilidade de continuar a apostar neste trabalho reforçando os meios consagrados à produção de estatísticas sobre o desporto de modo a ser possível actualizar o conhecimento sobre o sector, avaliar medidas e tomar decisões baseadas em dados tangíveis e, consequentemente, alimentar uma planificação estratégica com base em evidências, mais do que em percepções."
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