"No Festival do Atlético, o Benfica defrontou o Belenenses num jogo que serviu para algumas experiências
As partidas amigáveis são a oportunidade ideal para os treinadores ensaiarem novas tácticas, processos ou jogadores, encontros de eleição para inovar sem correr o risco de perder pontos ou ser eliminado de uma competição, num contexto em que a intensidade é superior à dos treinos.
Assim, a 17 de Fevereiro de 1957, Benfica, Belenenses e Torriense associaram-se num evento de solidariedade a favor do Atlético, que atravessava graves problemas financeiros. Seriam disputados dois encontros no Estádio da Tapadinha, o primeiro entre a equipa da casa e o Torriense, e o segundo que opunha o Benfica ao Belenenses.
Para captar o interesse da imprensa e dos adeptos, o presidente dos 'encarnados', Joaquim Bogalho, propôs que a segunda partida fosse disputada sob novas regras. Inspirado por experiências feitas na Jugoslávia e em França, sugeriu que se abolissem os foras-de-jogo e que as reposições laterais fossem feitas com o pé ao invés das mãos. Na sua opinião, com a aplicação destas medidas, o 'espectáculo seria enriquecido, e muito'.
O debate prolongou-se nos dias seguintes, A Bola foi um dos jornais que mais destaque deu ao tema, mostrando-se contra, por considerar '«a lei do off-side» a principal lei do futebol e ela, sem o menor esforço, deve ser considerada a pedra-mestra do jogo! E é tão influente que, a nosso ver, o futebol, sem «off-side», transformar-se-á num jogo totalmente diferente e, porventura, menos atraente!'.
Apesar da chuva ter afastado algum público, as bancadas estavam em compostas de adeptos curiosos para assistir ao efeito das novas regras. Os jogadores ainda demoraram algum tempo a assimilar a abolição da regra, como foi o caso de Chipenda, preocupado 'em determinado momento da primeira parte, em não incorrer no «fora-de-jogo»'. Mas progressivamente foram-se adaptando. A equipa de Belém foi a que mais explorou essa ideia, como ficou evidente na jogada do segundo golo, em que Angeja, bastante adiantado em relação ao último defesa do Benfica, fixou o resultado em 2-0.
A experiência 'divertiu imenso o público (...) pelo ódio que tem ao famigerado «off-side». Se os avançados ao Benfica e do Belenenses tivessem dado ouvidos aos «conselhos» dos que estavam a jogar por fora, a lei do «off-side» não só teria sido desrespeitada, como foi, mas também espezinhada, esfrangalhada e ridicularizada, porque o público foi à Tapadinha para se vingar!'. Todavia, a imprensa não era da mesma opinião, sendo unânime em considerar que 'a abolição não deu indicação útil quanto à beleza do espectáculo tirando-lhe, por isso, grande brilho e dificultando ainda e já difícil tarefa do guarda-redes'.
Saiba mais sobre outras provas amigáveis na área 8 - Outras Conquistas do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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