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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Bola na mão ou mão na bola? Toque acidental ou deliberado? Movimento natural ou anormal? Lance inesperado ou expectável?

"Ao contrário de muitas outras, mais objectivas, as infracções cometidas com as mãos são momentos de análise muito difícil para qualquer árbitro de futebol. Porquê?
Porque a sua (i)legalidade raramente é evidente. Porque a sua natureza técnica é quase sempre dúbia ou especulativa, o que torna a sua sentença mais falível e contestável.
Mas felizmente este fenómeno - o de nos habituarmos à ideia que há situações de jogo que não podem ter carimbos - parece agora ser melhor compreendido por todos os que amam o futebol. E ainda bem que assim é.
Acreditem quando vos digo: o futebol não é uma ciência exacta.
E por muito que se insista na vontade em ter clareza das decisões - preto no branco, ou é ou não é - há muitos momentos em que isso simplesmente não é possível.
Isso acontece, por exemplo, quando a intensidade é mais subjectiva (falta/não falta), o contacto no limite (tocou/não tocou) ou a entrada na fronteira (amarelo/vermelho).
Por alguma razão, a maioria das leis começa com um lacónico: “Se na opinião do árbitro”, que é como quem diz... desenrasquem-se.
Trata-se de um presente envenenado nas mãos de quem tem a responsabilidade de medir e julgar, num instante fotográfico, intenções, intensidades e afins.
O caro leitor não tem noção da dificuldade que é, para um árbitro, perceber se um jogador toca ou não na bola deliberadamente (com as mãos/braços).
É tão difícil e tão ingrato que a lei criou uma série de ferramentas, verdadeiras referências técnicas, para ajudar os juízes a tomarem a melhor decisão:
1. A mão/braço vai em direcção à bola? Ou é a bola que vai em direcção à mão/braço? No primeiro caso, o mais certo é haver infracção. No segundo, o mais certo é que não exista falta.
2. A distância entre os jogadores é significativa ou a bola surgiu de forma inesperada, tipo “queima roupa”? O primeiro caso pode evidenciar infracção. O segundo não.
3. A mão/braço do jogador estava ao longo do corpo e em posição natural para o seu movimento defensivo ou, pelo contrário, estava colocada em zona desnecessária? Ocupava um espaço anormal para a sua acção (volumetria)? No primeiro caso, não deve haver infracção. Nos outros é quase certo que exista.
4. A bola sofreu um desvio ou ressalto antes de tocar na mão/braço? Ou isso não aconteceu? Na primeira opção isso significa que pode não ter havido infracção. Na segunda sugere que esta possa ter ocorrido.
Além destes, permitam-me acrescentar um quinto: se um braço estiver predisposto para tocar na bola deliberadamente, o mais certo é que esteja tenso. Rígido. Para que a jogada morra intencionalmente ali.
Se, por outro lado, estiver mais flexível (mole) e for para trás (empurrado pela força da bola), é provável que só tenha havido contacto acidental, não corte faltoso.
Um dos problemas em avaliar este tipo de lances é que, não raras vezes, eles têm indicadores mistos. Ou seja, por um lado parece haver razão para punir (por exemplo, uma bola vir de longe), por outro não (braço ao longo do corpo).
Qualquer um destes argumentos, por si só, não garante existir ou não infracção. São apenas meios para atingir um fim: o de ajuizar bem.
Se o leitor estiver de espírito aberto e conseguir criar alguma distância face a lances que a sua razão ainda veja com emoção, conseguirá entender que tudo isto pode ser diabólico para um árbitro.
Tenha isso em conta da próxima vez que assistir a jogadas complicadas como estas, porque a sua tolerância também é fundamental na melhoria do ambiente crispado que agora se vive.
Perceba que aqueles milésimos de segundo em que tudo acontece quase não permitem raciocinar. Perceba ainda que há situações em que nem as imagens televisivas ajudam a descodificar, o que invalida qualquer possibilidade de video-apoio.
E é aí que importa dar o benefício da dúvida a quem decide.
É frustrante não haver uniformidade de critérios, que todos tanto desejamos e queremos, mas no futebol isso só é possível quando as situações são claras, objectivas e inequívocas.
Nas outras, poderemos sempre concordar ou discordar... mas o importante mesmo é aceitar e respeitar."


PS1: Existe uma grande diferença entre a Teoria e a Prática, por exemplo: Duarte Gomes, hoje, nas suas análises aos jogos de ontem da Champions, não conseguiu colocar a Teoria em Prática!!! No Barcelona - Sporting, com ajuda de uma foto afirma que que ficou por marcar um penalty a favor do Sporting por Mão de Digne, defesa do Barça; já no Benfica - Basileia, o lance no final da 1.ª parte, onde um defesa Suíço, joga a bola com o Braço, na área, após uma recepção do Pizzi, nem sequer foi mencionado...!!!
Conhecer as regras, e ter a capacidade de ser imparcial (seja lá porque razão...), são coisas bem diferentes!
PS2: Já em relação à escolha da foto para ilustrar esta opinião, julgo que a responsabilidade foi da redacção da Tribuna Expresso, pois encaixa bem na tendência...!!!

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