Últimas indefectivações

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Guerra e paz em redor do futebol

"Começando quase sempre a vencer, nesta época, o Benfica deixou-se empatar ou perder em quatro jogos.

Há tempo e tempo. Há marcar e ganhar
Primeiro, a guerra. Dez jornadas volvidas, nada de novo, nem a Norte, nem a Sul. Três vitórias dos três grandes, para não variar. A do Benfica, quanto baste para vencer com indigência. A do Sporting com toda a sorte dos 90 minutos e um fantástico guarda-redes. A do Porto, em versão reduzida na 2.ª parte. Jonas, Rui Patrício e Brahimi lá vão, com mais ou menos obstáculos, fazendo pela equipa o que os outros fez jogadores nem sempre fazem.
O Benfica tem apresentado um futebol cinzento, senão mesmo triste. Nada tenho contra a entrada de jovens titulares. É um risco, mas no futebol, como na vida, quem não arrisca não petisca, ainda que anteriores casos de sucesso não impliquem que tal se volte sempre a repetir como uma regra sem falhas. Svilar é um (ainda) adolescente na idade e um (quase) adulto na baliza. Tem ainda um caminho a percorrer, onde vai cometer erros próprios da evolução, mas não engana. Vai ser um magnífico guardião. Tem-se falado de injustiça a propósito de Bruno Varela e do seu erro no Bessa. Mas, salvo o devido respeito pelo profissionalismo deste jogador, os erros não são necessariamente equivalentes. Uma coisa é um guarda-redes que foi titular partindo da posição de um (bom) suplente, outra é um atleta que se estabeleceu como titular, mesmo que com erros. Nesse sentido, faz bem Rui Vitória em dar confiança ao agora titular da baliza. Também creio que Rúben Dias pode dar um excelente central. Tem capacidade física e de antecipação, não é faltoso, tem auto-confiança e não adormece de quando em vez, como Lisandro. Na frente, Diogo Gonçalves tem condições para dar um bom contributo à equipa, ainda que, neste momento, eu prefira F. Cervi ou Zivkovic. A propósito, tenho-me lembrado muito da falta que faz um Gonçalo Guedes para agitar o jogo, torná-lo positivamente imprevisível e alegre. Pode ser que o agora novel titular evolua com segurança e sem deslumbramentos até ao patamar do agora ex-benfiquista do Valência.
Um ponto tão curioso, como intrigante no Benfica é a alteração do tempo dos golos, em comparação com a época passada. Nessa altura, os últimos minutos foram profícuos para se ganharem jogos ou para consolidar resultados. Este ano não tem sido tanto assim. Só em Chaves, os últimos minutos alteraram a natureza do resultado. Agora e pelo contrário, até se têm marcado golos bem cedo. Foi o caso dos jogos contra o Belenenses e Marítimo (aos 2 minutos), Boavista (aos 7 minutos), Feirense (aos 11 minutos) e Braga (aos 15 minutos). O problema é que parece que a equipa, em vez de ficar empolgada pela abertura, se retrai, algumas vezes inexplicavelmente. Foi, aliás, o que aconteceu no jogo contra o Feirense. Como já havia acontecido nos jogos com o Boavista (com derrota) e Marítimo (com empate). E até no jogo da Taça de Portugal contra o Olhanense (4 m.) e na Taça da Liga no empate contra o Braga (11 m.). Só num jogo (Portimonense), o Benfica virou o resultado. Ao invés, começando quase sempre a vencer, nesta época, deixou-se empatar ou perder em quatro (Boavista e Marítimo no campeonato, Braga na Taça da Liga, nem como CSKA na Champions).
Quanto à defesa, o Benfica ainda não sofreu golos na primeira parte, excepto quando o Sp. Braga ao cair do pano reduziu para 2-1 na 1.ª jornada. Todos os outros 6 golos consentidos foram-no entre os minutos 55 e 76.
Evidentemente que não sei ou não devo interpretar estes dados, embora, aparentemente, a questão física e de concentração mental possa ter alguma correlação. Marca-se cedo e sofre-se tarde.

Leões de Portugal
Agora a paz. A semana passada participei no Encontro de Fundadores da Associação de Solidariedade Social 'Os Leões de Portugal'. Inicialmente como Grupo, posteriormente como Associação, esta instituição de solidariedade perfez 33 anos de existência. Para quem entende a ideia do desporto também como espaço de convívio, partilha e solidariedade desinteressadas, e não apenas concentrada na competição, foi com júbilo que voltei às instalações da Associação no estádio de Alvalade. Lá pude reencontrar sportinguistas de alma e coração que muito considero. Lá pude verificar o sentido genuíno e autêntico (um bem tão escasso no mundo do futebol) de uma obra que, superando muitos obstáculos e alguma indiferença, prossegue apoiando pessoas de idade e jovens à procura da realização do sonho. Já lá tinha estado anos antes e senti estes momentos como um saboroso armistício de guerras e guerrilhas que nos exigem muita contenção, serenidade e lucidez, sob pena de intoxicação nefasta.
Transcrevo aqui e agora, o que, em Novembro de 2011, escrevi na minha anterior coluna em A Bola: reforcei, em mim, a ideia de que é possível (e desejável) - nesta estufa de paixões que é o futebol - o convívio entre emotividade e discernimento. Bem como a de realçar a ideia da responsabilidade social e ética dos clubes na sociedade. Como este exemplo, ou como a Fundação Benfica.
Sinceramente gostei. Sai lá, reforçando a ideia de que ganhar ou perder é muito, mas não é tudo. E, evidentemente, de lá saí também com o meu inegociável e inquebrantável benfiquismo, de quem não gosta de perder nem a feijões frade.

O repto do presidente da FPF
Agora entre a paz e a guerra. Apreciei as intenções do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Dr. Fernando Gomes. Exigentes, incómodas, pertinentes, oportunas, cristalinas. Assim possa levar a cabo este caminho de pedras. Ao seu lado, a Liga é um mero apêndice, sem voz a manietada pela aritmética dos equilíbrios e apoios de poder. Lamentavelmente, logo os do costume nos clubes vociferaram e expeliram ódio, não enxergando as consequências previsíveis do que significam os seus gestos e palavras.

Contraluz
- Número:100%
O meu Benfica teve um fim-de-semana cem por cento vitorioso nos desportos que acompanho: futebol sénior e júnior, hóquei em patins, voleibol, basquetebol e futsal. A primeira vez esta época.
- Expressão: Excesso de liquidez (I)
Não me refiro à politica monetária ou aos salários ultramilionários da elite desportiva. Falo da notícia de A Bola do passado domingo que nos fala de um guarda-redes do sexto escalão de Inglaterra, que levou com um cartão vermelho, quase no fim de um jogo, por não conseguir reter (na fonte) o líquido secretado pelos rins e excretado pela uretra, tendo assim urinado junto à baliza. Ao menos, coitado, deveria ter levado um cartão mais de acordo com o produto expulso, ou seja, amarelo.
- Expressão: Excesso de liquidez (II)
Na mesma Inglaterra, o Tottenham baniu dois adeptos que lançaram urina para os adeptos do clube rival (West Ham), após a derrota na Taça da Liga jogada em Wembley. «Este tipo de comportamento é inaceitável, pelo que vamos banir do nosso clubes os dois indivíduos identificados no vídeo», assim reza a notícia dada pelo porta-voz dos spurs. Alguém imagina esta profilaxia nos clubes portugueses, onde os porta-vozes são mais especializados a instigar ódio do que em preveni-lo?
- Memória: Arbitragem
No decurso do jogo de hóquei entre uma valorosa Juventude de Viana e o Benfica, veio-me à memória o peso da arbitragem no último campeonato. Neste jogo dificilmente ganho por Nicolia & Companhia (3-2) tivemos uma arbitragem in dubio pro adversário do Benfica. Uma coincidência ou um presságio?
- Incoerência: da Comissão de Instrutores da Liga
Andreas Samaris foi punido com três jogos de suspensão pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, na sequência do auto de flagrante delito que foi aberto por aquela comissão. E não é que na mesma Taça e contra o Leixões, o defesa Felipe do FC Porto teve duas entradas a matar e nada aconteceu? Onde mora a coerência mínima dos instrutores zelosos? Ou será que é só a pedido dos comunicadores do SCP e do FCP?"

Bagão Félix, in A Bola

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