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domingo, 28 de maio de 2017

A taça da revolução

"Hoje, no Estádio Nacional, arranca um 'novo tempo' no futebol português: a introdução oficial do videoárbitro. É o primeiro passo.

1. Hoje, no bonito e emblemático Estádio Nacional, bem fronteiro à atractiva Cidade do Futebol, disputa-se mais uma final da Taça de Portugal. A única competição que junta todo o futebol. É a Taça de todos. Do futebol profissional e do não profissional. Do futebol dos milhões e do futebol dos cêntimos. Antes diríamos o futebol dos tostões! Arranca bem cedo em cada época esta competição com alguns clubes das diferentes competições associativas, sejam distritais sejam regionais. Daqui a dois meses já estarão a lutar pela edição da próxima época! E, por vezes, surgem os denominados tomba gigantes. Mas esta é a única competição oficial que leva, em razão do sortilégio do sorteio, os grandes nomes do futebol a comunidades e vilas, a cidades e até aldeias deste Portugal que, nesse dia, ganham verdadeira dimensão nacional. Ontem em Londres e em Madrid também se disputaram as finais da Taça de Inglaterra e de Espanha. Tal como em Berlim teve lugar a final da Taça da Alemanha. As capitais dos diferentes Estados deste cada vez mais caótico Mundo e desta Europa que, neste tempo, não pode mostrar medo, acolhem as diferentes finais. Por cá, e salvo em momentos bem excepcionais, é o Estádio Nacional, no Município de Oeiras, o palco da festa cimeira do nosso futebol. Cada vez melhor organizada e cada vez com melhor acolhimento. E homenageando, com justiça, heróis contemporâneos...

2. Já presenciei muitas finais neste Estádio Nacional. Convivi muito antes de algumas finais e não esqueço aqueles momentos de partilha do chouriço e do vinho, da febra bem assada e já da precoce sardinha, do pão saloio e do pão de ló bem caseiro que nenhuma autoridade alimentar consegue, e bem, proibir. É caso para se proclamar que, aqui, também é proibido proibir! Já que este ambiente é singular. Este é o ambiente daquela mata do Jamor, daquelas sombras que sentem ao longo deste domingo sabores únicos, convívios impossíveis, dádivas que não se esquecem, palavras que ecoam naquele vale e que chegam a múltiplos ouvidos e a serenas consciências. Já vivi finais com dores imensas e já vivi finais com prazeres intensos. Antes e depois do 25 de Abril. Já presenciei, ali, reconciliações julgadas impossíveis e já senti, também ali, por mais justa e completa que seja, poderá descrever. E há quatro anos assisti a uma final com os mesmos protagonistas de hoje. Vivi um Benfica - Vitória de Guimarães que terminou com a vitória do clube então treinador por Rui Vitória. Recordo bem os momentos imediatos ao apito final do árbitro. E não esqueço que Luís Filipe Vieira, logo a seguir, reiterou a confiança em Jorge Jesus. Que levou, recordemos, o Benfica à décima dobradinha da sua história no final da época seguinte. E como nos legou Paul Valéry « a história justifica tudo quando se quer. Ela não ensina rigorosamente nada, pois contém tudo e dá exemplos de tudo»! E a história da Taça de Portugal mostra-nos muitos resultados inesperados e muitas conquistas julgadas impossíveis. Logo múltiplos exemplos! Daí que digamos, com Edgar Allan Poe, «para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto»! Por mim tenho vontade de ser feliz com a conquista de mais uma dobradinha pelo Benfica. Mas não deixarei de cumprimentar o Vitória de Guimarães, os seus fiéis e dedicados adeptos, o seu competente Presidente, o meu Amigo Engenheiro Júlio Mendes. A quem presto, aqui, o meu profundo reconhecimento pela sua Amizade. Em momento bem complexo da minha vida pessoal!


3. Hoje mesmo, a partir do Estádio Nacional, arranca um novo tempo do futebol português. A introdução oficial do videoárbitro vai marcar esta final. É a Taça da Revolução! E vai ser o primeiro passo para aquele tempo novo. Que vamos viver, em cada jornada, a partir de Agosto próximo. Em que, em algumas situações, os olhos da equipa de arbitragem vão ser ajudados e complementados com os olhos da televisão e não vistos pelos árbitros ganham dimensão efectiva e passam a contar. Passam a existir lances não vistos nos relvados e vistos na casa do videoárbitro. Com as devidas consequências. Como poderia ter acontecido ontem, acredito, em Londres no momento do primeiro golo do Arsenal! Hoje, a partir do Jamor, é o primeiro passo. E como aqui já referi, e a partir de Gilbert Cesbron, «a verdadeira revolução acontece quando mudam os papéis e não apenas os autores»! E o que, a partir de hoje, e graças à ousadia e ao empenho da nossa Federação e da sua liderança, vai acontecer no futebol português. Que vai ser olhado, com toda a atenção, pelo conjunto do futebol europeu e mundial. E esta reputação, a partir desta revolução, é, também ela, um marco. Um marco de excelência e um marco de referência!


4. Acredito que vai circular muito dinheiro no futebol europeu nos próximos cem dias. Mesmo muito. Muitas centenas de milhões de euros. A intermediação internacional está cada vez mais pujante e mais exigente. E cada vez mais apetecida e apetecível. Mesmo que utilize muitas empresas com sede em Malta ou em outros legítimos paraísos fiscais... Desta semana registamos, com particular regozijo e verdadeiro orgulho, a milionária transferência de Bernardo Silva do vitorioso Mónaco para o atractivo Manchester City. Bernardo Silva nasceu no Benfica e na Academia do Seixal, cresceu muito com Leonardo Jardim e vai ser, acredito, uma das novas pérolas de Pep Guardiola. Acredito que na Premier League Bernardo Silva vai ser, a par de José Mourinho, um dos nossos embaixadores de excelência de Portugal e do nosso futebol. Como é, em todo o Mundo, Cristiano Ronaldo. Recordo bem o assumido benfiquismo de Bernardo Silva. Proclama-o com chama imensa e sem qualquer receio. E se «não se diz não a Guardiola» também não nos esquecemos que Bernardo Silva chegou a treinar no Benfica como... defesa esquerdo! Mas como escreveu Epicteto «sucesso é encontrar aquilo que se tenciona ser e depois fazer o que é necessário para isso»! Parabéns Bernardo Silva! Toda sorte do mundo!"

Fernando Seara, in A Bola

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