Últimas indefectivações

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Claques

"Primeiro não sou, por defeito, contra a existência de claques organizadas. Na essência, elas dão aos clubes capacidade de mobilização e apoio. Segundo: há muita gente nas claques que se move apenas e só pela paixão ao jogo, ao clube, mesmo que aqui e ali, contagiados pela turba, cometam excessos. 
Dito isto, não sou a favor de cortar o mal pela raiz, mas sim de cortar a raiz do mal, são coisas diferentes. O problema das claques, de uma forma geral, é que foram evoluindo, ao longo dos anos, de grupos de apoio para braços-armados dos clubes, daí degenerando, em inúmeros casos, para violentas organizações de crime e violência, por vezes com inspirações políticas, como se vê, por exemplo, na América Latina, com as barras bravas, ou no leste europeu, fazendo reféns os próprios emblemas. No caso de Portugal, onde as claques de Benfica, Sporting e FC Porto apresentam currículos invejáveis (não vale a pena perder tempo a discutir qual a pior), o problema é de sempre: impunidade. Se eu passar numa zona de radares e souber que eles estão desligados ou só disparam a 200 Km/h, para quê tirar o pé do acelerador? A solução passa por identificar e retirar do cesto, uma a uma, as maças podres. Quem não sabe comportar-se, pura e simplesmente, deve ser banido de recintos desportivos, com penas exemplares e tanto maiores quanto a gravidade dos actos praticados (irradiação se for preciso, sem misericórdia).
Mas isto aconteceu a quantos? Nos tribunais, a coisa costuma ficar-se por multas e penas leves, que se juntam à complacência dos clubes. O que devia ser excepção, é regra. Veja-se o caso recente na Alemanha, em que 88 adeptos do Dortmund foram impedidos de entrar em estádios durante um mínimo de quatro meses até dois anos. E da próxima será pior. Em Portugal as leis também existem, basta que sejam aplicadas com coragem e mão pesada, como estes tempos exigem. O problema, neste caso e em tantos outros do nosso futebol, é que continuamos a tentar comer a sopa com um garfo. 
Boa sorte."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

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