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domingo, 5 de março de 2017

Da liga chinesa à Liga NOS

"Os clubes chineses gastaram mais de 400 milhões de euros - 407 milhões em rigor! - em aquisições neste mercado de inverno.

1. Sou filho da televisão. Nasci no tempo em que apareceu entre nós. Sou filho da televisão que era única. Era a RTP que agora mesmo completa sessenta anos de vida. De uma vida cheia de história e de episódios. De momentos extraordinários e de instantes dolorosos. Era à sua volta, à volta da televisão, que se reunia a Família para ver programas emblemáticos e que se enchiam os cafés, que passaram depois a balcões de bancos alguns deles agora estão a encerrar. Fui criança com televisão a preto e branco e assisti, por exemplo, às conquistas do Benfica na Europa, à presença de Portugal no Mundial de 1966 ou à chegada do Homem à Luz. Eu cresci e comigo cresceu a televisão. Mais tempo de emissão, outro canal, o dois. Passou de preto e branco a televisão a cores. Deixou de ser única e passou a ser múltipla. De televisão gratuita passou a ser paga. E codificada. Da televisão de uma comunicação de Estado e do Estado passou para um tempo de comunicação de mercado. Em que se acreditava que as regras que tinham presidido à atribuição dos canais privados seriam objecto de fiscalização e controle por parte dos reguladores criados pelo mesmo Estado, incluindo em sede constitucional. Mas os reguladores deste mercado são similares aos reguladores de outros sectores da nossa sociedade. Existem mas pouco fiscalizam. São tardiamente reactivos. Não são proactivos. Com custos indirectos para os consumidores, mesmo que não se apercebam desses custos neste tempo concreto. E é perante esta nova realidade que se saúda vivamente a aquisição por parte de A Bola TV de exclusivo da superliga chinesa de futebol. É um sinal de vitalidade e de competitividade desta televisão e do grupo a que pertence. Num tempo em que há canais de notícias e outros que nem sequer são radicalmente de notícias mas que quase são, aos fins de semana, canais desportivos. Esta singularidade no nosso espaço audiovisual nem se discute. Parece que se aceita... com uma paciência que perturba. Perturba mesmo.

2. O Mundo, incluindo uma Europa em contínuo ciclo eleitoral, vive tempos bem interessantes. a mudança presidencial nos EUA é perturbante e gera incertezas numa potência - dirão alguns ainda superpotência - global. A República Popular da China é hoje em dia outra potência geopolítica mundial. O seu Presidente Xi Jinping combina o seu lado de renovador com o estatuto crescente de novo imperador. E o futebol, como modalidade, ganha um estatuto de primazia, quase modalidade prioritária. Já que é acarinhada pelo poder político chinês, seja o poder central seja o poder das suas importantes províncias. O Mundial de 2030 é a sua grande aposta. Como País organizador e com uma ambição de conquista. E os tempos interessantes que vive o futebol na China devem ser encarados como uma oportunidade para jogadores e treinadores portugueses, para gestores e empresários desportivos. Como Jorge Mendes já percebeu. E o Benfica também. Tal como Luís Figo. Como, aliás, antecipara Paulo Futre. Esta Liga chinesa, com dezasseis equipas, é, no seu âmbito, a liga mais cara da história. Os clubes chineses gastaram mais de 400 milhões de euros - 407 milhões em rigor! - em aquisições de inverno. A atractiva Liga inglesa apenas gastou 262 milhões! E Carlos Tevez, contratado pelo Shanghai Shenhua, é o jogador que mais recebe no mundo do futebol: 38 milhões de euros. E Óscar, adquirido ao Chelsea, recebe 24 milhões e custou 70 milhões de euros! E o Villarreal recebeu 18 milhões pelo brasileiro Alexandre Pato! Mas ao mesmo tempo, e por sinal neste mesmo fim de semana, arranca a vigésima segunda edição da Liga americana de futebol. De uma América multicultural e em que a relevância hispânica impõe outras modalidades desportivas - para além do futebol americano, do basebol, do hóquei sobre o gelo ou basquetebol - e, em particular, o futebol. São vinte e duas as equipas participantes, das quais três canadianas. O que é interessante, para além da construção de novos estádios, como o de Orlando, é que já é a sétima liga do mundo em termos de assistências, com uma média de 21.692 espectadores por jogo. Os EUA e a República Popular da China são, assim, potências emergentes no futebol. E a liga chinesa vê-se n'A Bola TV. Com particular curiosidade de acompanharmos as equipas lideradas por André Villas Boas e Jaime Pacheco. E também o campeão em título, Guangzhou Evergrande cujo treinador é o nosso Luiz Filipe Scolari. Entre outros grandes nomes do futebol mundial. E neste caótico século XXI o futebol continua a cruzar fronteiras, a atrair novos investidores, a chamar adeptos. Muitos milhões de adeptos! Mesmo muitos!

3. Ontem Futebol Clube do Porto e Benfica venceram os seus jogos e a distância entre ambos não se alterou. O Benfica chegou, com a sua operária vitória face a um Feirense bem organizado, aos sessenta pontos e o Futebol Clube do Porto com os seus sete golos no Dragão chegou aos cinquenta e três golos. O Futebol Clube do Porto dizimou um Nacional que, nem com uma chicotada psicológica, consegue somar os pontos bem necessários para a manutenção de uma segunda equipa da Madeira no principal escalão do nosso futebol. Agora é o regresso, para ambas as equipas e em semanas diferentes, à Liga dos Campeões. Com o Benfica a deslocar-se, com uma vantagem mínima - mas sem golos sofridos! - ao Borussia de Dortmund que mostrou, ontem, a sua veia goleadora com os seis golos marcados ao Bayer Leverkusen. E vale a pena acreditar que, na Alemanha, o Benfica vai proporcionar uma imensa alegria aos milhares de adeptos que o acompanharão num dos Estádios mais emblemáticos do futebol europeu!

4. O Sporting mostrou, ontem, uma capacidade de mobilização associativa que importa evidenciar e enaltecer. A participação significativa nas suas eleições, com um recorde de votantes, é um sinal de vitalidade, de convicção e de esperança. Esperança e confiança. Palavras que marcam, no meu prisma, estas eleições. E, logo, os seus impressionantes resultados. Como escreveu Jean-Paul Sartre «não fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que somos: eis a verdade»!"

Fernando Seara, in A Bola

1 comentário:

  1. Seara igual a si proprio.Agradar a todos.Para este senhor e tudo cinzento.Nao vale a pena ler ou ouvir o que este nosso consocio explana.

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