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terça-feira, 5 de julho de 2016

Ganhar com sorte e não perder com azar

"O jogo com a Polónia foi o único que me agradou. Aquele em que, talvez por ter sido obrigado a isso em consequência do golo madrugador de Lewandowski, completamente fora do programa, Portugal voltou a ser Portugal, tendo libertado argumentos técnicos e outros atributos que andavam escondidos.
Que a Selecção teve passagem modesta pela fase de grupos é evidência do tamanho dos Clérigos. Por que razão isso aconteceu é enigma que entra no domínio dos mestres da táctica. Tal como o rendimento pouco entusiasmante com a Croácia, à excepção do golo mágico, ao minuto 117, levado à cena pelo bando dos quatro (Renato, Nani, Ronaldo e Quaresma) e que, nos cinco continentes, fez com que os portugueses se sentissem orgulhosos pela nacionalidade que os identifica: milagre que, com esta intensidade e amplidão global, só o futebol consegue.
De empate em empate até à vitória final, frase que circula já em todas as conversas, espécie de ponte que liga a inevitabilidade de não ganharmos em 90 minutos à certeza da presença na final e... vencê-la. Não produzirmos exibições reluzentes é para o lado que durmo melhor. Aliás, deve ter-se presente que neste Europeu a diferença entre o bom e o mau ou entre o bonito e o feio, não reúne muitos quadros para mais tarde recordar.
Ao contratá-lo, a FPF não deve ter pedido a Fernando Santos para colocar o acento tónico na vertente estética, porque jogar bonito nunca foi característica dominante na filosofia de jogo por si preconizada. Pediu-lhe resultados, e isso ele tem atingido com sucesso, à sua maneira sabendo que a memória só lembra as vitórias e a história só arquiva os títulos.
Êxitos intermédios e boas exibições depressa se esvanecem.

A jogar à bola ou a jogar futebol, sinceramente não alcanço a diferença entre uma coisa e outra nem o fim do seleccionador, são cada menos as vozes discordantes, assegurada a presença nas meias finais. O que não significa incondicional concordância. Aceito o caminho trilhado mas não vejo motivo para tanta retracção. Noto ali receio excessivo pelo atrevimento. Não me causa desconforto, confesso, e não tenho problema em dar à mão palmatória nem aceitar que o homem tem razão, por serem os resultados que separam os fortes dos fracos e tudo determinam. Neste momento, estamos na luta enquanto Inglaterra, Itália, Espanha, Bélgica ou Croácia já foram de férias...
'Como é bom invejarem a nossa sorte', titulou Ferreira Fernandes a sua crónica no DN no dia imediato a termos empurrado os croatas para fora do Euro; mil vezes melhor do que gozarem o nosso azar, como é (era) costume, acrescento eu. Desde que não se transforme Portugal-2016 em fotocópia da Grécia-2014. Isso, não, em respeito pela marca de qualidade do futebolista português, mundialmente reconhecida e apreciada!
A Grécia foi mais longe do que nós no Mundial do Brasil, mas, além de ter formado uma equipa com idades ao nível do Inatel, ninguém, no seu perfeito juízo, sairia de casa para ir a um estádio vê-la jogar. É essa fronteira que jamais deve ser violada: demos moral à Islândia com os nossos medos e a França provou que não havia necessidade...
Não dei até agora palpite sobre quem devia alinhar, se o António, se o Joaquim. Nem vou dar. Pronunciei-me, sim, em relação aos que me pareceram ser elementos estranhos; ou seja, opções merecedoras de reparo. Cristiano Ronaldo à parte, por ser a única referência da Selecção, a sua Estrela Polar, os restantes têm de estar bem física e mentalmente e justificarem a titularidade, o que, por motivos diversos, João Moutinho e, sobretudo, André Gomes, não fizeram. Há gente disponível e cheia de vontade para os substituir.
É defeito muito nosso metermo-nos onde não somos chamados, por incontrolável tendência para dizer coisas vãs ou viver mal com a prosperidade do vizinho, do amigo ou do colega. Jorge Jesus, sem que alguém lhe tivesse pedido, creio eu, do alto da sua inatingível erudição disparou uma farpa ao selecionador, proclamando que Renato Sanches não estava preparado para ser titular. Acertou ao lado. Fernando Santos, que conhece bem jogador e autor do disparo, revelou imunidade a recados de pacotilha. Imagine-se a barafunda se fosse ao contrário. Isto é, o seleccionador a imiscuir-se no trabalho do treinador do Sporting...
Em contraposição, Carlo Ancelotti considerou-o a revelação deste Europeu. Repare-se na disparidade de pensamento! Em que ficamos? É óbvia a resposta. A opinião de Ancelotti pesa mais. É a riqueza do currículo que lhe empresta a credibilidade que o autoriza também a vir a público defender Cristiano Ronaldo da escandalosa campanha a que tem sido sujeito: são três Ligas dos Campeões à cabeça de uma caterva de outras conquistas importantes. Jesus, aqui, no seu mundo, continua a pensar que é o que não é e, no caso, perdeu boa oportunidade para ficar calado. A opinião é livre, mas foi despropositado com o jogador e deselegante com o seleccionador. Aliás, não precisa importunar-se com a sorte dos outros. Vai ser o próximo campeão nacional. A vitrina já está reservada em Alvalade para receber o troféu...

NOTA - Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do Mundo e o melhor capitão do Mundo."

Fernando Guerra, in A Bola

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