"Ao ver o Itália-Alemanha no Europeu de futebol, que decorre em França, dei comigo a recordar a final entre as selecções destes países no Mundial de 1982. Vi-a em Burstadt, Alemanha, num écran gigante montado no pavilhão onde decorria o festival de ginástica que aí tem lugar todos os três anos, desde 1954. As gentes da ginástica conhecem bem este festival da pequena cidade perto de Frankfurt, por onde já passaram milhares de ginastas portugueses. Até aquela altura, apenas o Ginásio Clube Português, com a sua classe especial, e o Sporting, tinham sido convidados pela organização.
Frequentávamos um pequeno café italiano, onde já éramos conhecidos de participações anteriores. A proximidade cultural dos latinos levou ao fácil contacto com os muitos emigrantes italianos que, na época, por ali estavam. Procuravam-nos e apoiavam-nos nas exibições gímnicas. E, após a final ganha pela Itália, fomos os naturais companheiros com quem quiseram partilhar a imensa alegria que viviam. Muitos abraços, muitos gritos de 'Viva Itália' e 'Viva Portugal', muitas cervejas oferecidas pelos italianos que não nos permitiam a recusa... Ouvimos o coração que se lhes abria e os desabafos que não continham. Era um momento de afirmação do país amado que haviam sido obrigados a deixar. Mas também de ajuste de contas, porque diziam que, ao voltarem ao trabalho, na fábrica onde se sentiam menosprezados, e por vezes humilhados, por uma vez eram os mais fortes, sentir-se-iam superiores...
As reportagens que revelam a forma fantástica como os emigrantes portugueses estão presentes e apoiam a Selecção portuguesa em França expressam sentimentos muito semelhantes aos dos italianos com quem festejei a vitória de 1982. Os povos da Europa mediterrânica têm em comum aspectos essenciais da sua natureza e cultura. Que pena os políticos não o saberem aproveitar... Ah!, claro, fiquei triste com a eliminação da Itália. Pelos companheiros de 1982 e pela comunidade a que pertencemos."
Sidónio Serpa, in A Bola
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