"Este texto não pretende falar de Gaibéus, nem de Ladrões de Bicicletas. Muito menos ficar para a história como um tratado de pessimismo, ou de optimismo. Quer ser, antes de tudo, um retracto fiel da correlação de forças que o Futebol português actualmente traduz.
Desde Setembro que Benfica e FC Porto não perdem um único ponto no Campeonato Nacional (salvo, naturalmente, o empate entre ambos). Olhamos para a tabela classificativa, e vemos o nosso Clube a realizar uma das melhores campanhas das últimas décadas. Mas, não estamos no 1.º lugar. Este estranho paradoxo deve ser entendido à luz de duas diferentes dimensões.
A primeira é a superioridade absoluta que os dois 'grandes' demonstram, e a fragilidade que todos os outros raramente conseguem disfarçar. Os efeitos da crise fizeram sentir-se sobretudo a 'Classe Média' da nossa Liga, o que a transforma num passeio semanal para 'Águias' e 'Dragões'.
A segunda remete-nos para o crescimento competitivo que o Futebol 'encarnado' manifesta, face a um FC Porto que há meia dúzia de anos dominava a seu bel-prazer quase todas as competições nacionais em que participava. Na verdade, se Vieira conseguiu a recuperação financeira e estrutural do nosso Clube, Jesus é o rosto da recuperação desportiva que nos levou de um patamar subalterno - em quinze épocas, o Benfica alcançara apenas um título e quatro segundos lugares -, para um plano de total paralelismo face ao nosso grande rival.
É preciso também dizer que este não é um rival qualquer. É o mais forte que o Benfica enfrentou na sua história, ocupando o 7.º lugar no ranking da UEFA, conquistando três Taças europeias numa década, e perdendo uma única vez nos últimos 86 jogos de Campeonato. Vamos lutar até ao fim pelo título. Mas não podemos, nem embandeirar em arco com o que alcançamos, nem exigir um final feliz. Os 50% de hipóteses que temos nesta altura são já um upgrade face a um Benfica menor, com o qual durante alguns anos tivemos de conviver, e do qual jamais nos devemos esquecer."
Luís Fialho, in O Benfica
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