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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sol na eira e chuva no nabal (a semana em revista)

"O presidente do FC Porto diz que é «estúpido» falar de árbitros. Terá exagerado. Ou então anda um artista à solta que lhe imita a voz na perfeição e que se anda a promover no YouTube

SEXTA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO
ESTAVA marcado para hoje o jogo de abertura da jornada número 12. Acabou por não se realizar porque o árbitro entendeu não haver condições para 90 minutos de futebol no relvado do Bonfim. Choveu. E quando chove já se sabe que o piso se ressente, seja o piso que for. Aparentemente, a decisão do árbitro satisfez os dois emblemas em causa porque ninguém protestou antes pelo contrário. O boletim meteorológico prevê fortes chuvadas para o fim de semana e a Protecção Cívil lançou o alerta amarelo para dez Distritos do país. Ou os tipos da metrologia são uns grandes nabos ou é de temer uma quantidade imensa de jogos adiados por todo o país e em todos os escalões das diversas provas oficiais por causa da maldita chuva que persiste em intrometer-se (abusivamente!) neste nosso Inverno.
É certo e sabido que nunca estão todos satisfeitos com o tempo que faz. São aquelas ganâncias humanas tão bem expressas no velho provérbio popular «sol na eira e chuva no nabal», ou seja, tudo a jogar a nosso favor e assim é que é bonito. Isso é impossível, meus bons amigos. Em relação ao adiamento do jogo de hoje não faltarão benfiquistas a elaborar intrincadíssimas teorias da conspiração com o intuito de explicarem a si próprias que a decisão do árbitro foi conivente com os obscuros interesses do FC Porto, a equipa visitante na presente ocasião. Imaginação não faltará com certeza.
Devo dizer, já que o assunto nos trouxe até aqui, que desalinho totalmente dessas teorias absurdas e considero-as mesmo infantis. A não ser que um bruxo qualquer tenha desaconselhado o FC Porto a jogar à chuva (reza o nosso anedotário que há 25 anos, em Tóquio, houve um bruxo que aconselhou a jogar na neve...), não vejo qualquer singular vantagem para o FC Porto pelo facto de Pedro Proença ter decidido adiar o jogo de Setúbal. Não vejo mesmo, sem qualquer espécie de ironia. Nem vantagem pontual, nem física, nem psicológica, nem mesmo vantagem meteorológica.
É que já disseram na rádio que o jogo pode vir a ser disputado a 23 de Janeiro mas, com todaa honestdade, e a mais de um mês de distancia quem é que pode garantir que a 23 de Janeiro não vai estar a chover na eira e no nabal, outra vez, para chatear? Só na NASA, francamente, trabalha com toda esta antecipação e mesmo assim tenho dúvidas que a agência espacial norte-americana possa garantir piso seco em profusão para o jogo em atraso. Veremos quando chegar o dia.
O campeonato só volta para o ano e hoje não houve jogo, nem golos, não houve nervos e não houve árbitro. E esta é a única parte que lamento e apenas por superstição, fraqueza minha. Lamento a parte de não ter havido árbitro. É que, em princípio e até em nome do bom senso, seria altamente improvável que Pedro Proença, nomeado para o jogo de hoje, viesse a apitar duas vezes a mesma equipa em três jogos, não lhe cabendo assim dirigir o Benfica-FC Porto do próximo dia 13 na Luz. Isto não passa de suposição, claro está.
Mas como hoje não houve jogo também não houve árbitro e agora Proença até pode vir a ser o escolhido de Vítor Pereira para o clássico que se avizinha. Não gosto da ideia, confesso, reconhecendo tranquilamente que Pedro Proença é o melhor árbitro português a actuar no estrangeiro ainda que, frequentemente, seja o pior árbitro do estrangeiro a actuar em Portugal. E é do Benfica. E a mim dá-me galo ver árbitros do Benfica em acção. É só por isto que lamento não ter havido jogo hoje em Setúbal.
Só mais uma coisinha de que me ia esquecendo:
E se o árbitro for Proença e estiver a chover a potes? Não há jogo a 13 de Janeiro? Ao menos que haja sol na eira e se houver chuva no nabal.

DOMINGO, 15 DE DEZEMBRO
O costume. O Benfica entrou lento, sofreu um golo e depois arrancou para uma bonita exibição. Por vezes até empolgante. Óscar Cardozo marcou 3 golos e atingiu (ou ultrapassou à vontade do freguês) a marca dos 100 golos na Liga portuguesa. Vá, assobiem-no lá mais um bocadinho a ver se ainda chega aos 125 golos até ao fim da saison. Esta noite, frente ao Marítimo, o segundo golo de Cardozo foi de penalty, concretizado com uma paradinha que nos ia parando o coração a todos. O castigo surgiu porque, bem dentro da área dos madeirenses, a bola sofreu um desvio depois de bater na mão de um jogador do Marítimo. Considerou o árbitro que foi um gesto intencional. No entanto, é um daqueles lances que se tivesse ocorrido no meio do campo nem se discutia: era falta. Mas dentro da área as mesmas faltas dão penalties e daí nascem as polémicas. O segundo cartão foi completamente escusado. O golo do Marítimo nasceu de uma situação irregular mas paciência. Estamos fartos de queixinhas.
O presidente do FC Porto também está farto de queixinhas, depreende-se da leitura dos jornais. E ainda foi mais longe. Diz que é «estúpido e ridículo» falar de árbitros. Neste ponto parece-me que terá exagerado. Ou então anda por aí à solta um artista que lhe imita a voz na perfeição e que se anda a promover à sua custa no YouTube. Nunca fiando.
Já à noitinha, o presidente do Sporting deu uma extensa entrevista num programa desportivo da RTP e, entre muitas coisas, disse que ao contrário de «outros que entraram e saíram», o Sporting «sempre esteve na Europa». Sobre a verosimilhança das coisas que disse sobre o Sporting opinarão os sportinguistas e entre médicos e engenheiros alguém terá razão. Sobre as coisas que disse sobre o Benfica, sentem-se os benfiquistas no direito de opinar.
E assim ao contrário do que disse Godinho Lopes esta noite, na RTP; o Sporting não «esteve sempre» ou «sempre esteve» na Europa. Na época de 1975/1976, o Sporting classificou-se em 5.º lugar e o vencedor da Taça de Portugal foi o Boavista. Na época seguinte, 1976/1977, o Sporting ficou fora das competições europeias. São coisas que acontecem e já aconteceram a todos, exactamente a todos. É estranho que o presidente do Sporting conheça melhor a história do Benfica do que a história do seu clube, pelo menos para o que lhe dê jeito. E mentir nunca dá jeito a ninguém.
Apesar deste deslize no compromisso com a verdade de Godinho Lopes continuo a considerar que, no final do jogo de Alvalade, na semana passada, o presidente do Benfica não deveria ter chamado o que chamou ao presidente do Sporting.
Felizmente, o tempo parece que amainou e não houve mais nenhum jogo adiado em Portugal e até em toda a Península Ibérica.

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO
TODOS os jornais desportivos fazem manchetes com a contratação de Jesualdo Ferreira para o cargo de «treinador de todas as equipas do clube até à formação» ou «treinador dos treinadores». Será que alguém já avisou Franky Vercauteren de que foi despedido?

TERÇA-FEIRA, 18 DE DEZEMBRO
DE manhã ouço notícias de Paulo Pereira Cristóvão desancando em Eduardo Barroso e à tarde ouço notícias de Paulo Pereira Cristóvão acusado pelo Ministério Público de sete crimes em consequência da investigação do caso Cardinal que, recorde-se, já foi arquivado pela justiça desportiva. À noite o Sporting empata com o Marítimo no Funchal para a Taça da Liga. Se o Sporting tivesse ganho seria caso para se dizer: «J+a se vê o dedo de Jesualdo Ferreira». Assim fica para a próxima.

QUARTA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO
A coisa esteve mal parada em Olhão mas, depois, aconteceu o costume. O Benfica deu a volta ao jogo na segunda parte e acabou por vencer pela diferença mínima mas com toda a justiça. É bom começar com uma vitória a Taça da Liga. Houve cinco cartões amarelos para jogadores do Benfica e todos bem mostrados por Paulo Baptista, um árbitro competente cujo low-profile não o terá ajudado para se transformar numa vedeta. Melhor para ele."

Leonor Pinhão, in A Bola

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