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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pronto, lá relaxaram outra vez

"Os nossos rivais ficaram muito indignados com os vencimentos de Jorge Jesus porque concluíram, perante os números, que só muito dificilmente o conseguirão ter nos seus clubes

NA primeira semana de Janeiro se saberá o nome do vencedor da Bola de Ouro de 2012 e, cá para mim, Cristiano Ronaldo, na noite de passado sábado, hipoteceu definitivamente as poucas hipóteses que tinha de chegar em primeiro nessa corrida com Messi e com Iniesta, os outros predestinados a concurso.
À partida, sei que parece um contrassenso. Pois se no jogo com o Atlético de Madrid Cristiano Ronaldo marcou um golão, mandou duas bolas ao poste e encheu Chamartín com uma exibição notável, como é que poderá ter hipotecado as hipóteses de vir a ser considerado pela FIFA como o melhor jogador do mundo em 2012?
É verdade que o madeirense cometeu toda essa série de proezas, e para mais num clássico. Mas deitou tudo a perder ao minuto 77 dando razão à forte corrente teórica mundial que proclama Messi como o super-futebolista em que tudo é instinto e intelecto em detrimento das pretensões de Cristiano Ronaldo, o super-atleta em que tudo é circo e aparato físico.
Posto isto, na noite de sábado, com a data de grande decisão a aproximar-se, que necessidade havia, caro Cristiano Ronaldo, daquela correria louca?
O nosso compatriota foi pelo seu pé alado de um área à outra num ápice, estabelecendo a marca dos 92 metros em pouco mais de 10 segundos, e agora não se fala de outra coisa no mundo inteiro. Para os detractores do português, os que afiançam não haver comparação entre o seu futebol e o futebol de Lionel Messi, os que juram a pé juntos que Cristiano Ronaldo é um mero caso de exibicionismo físico, esta corridinha de sábado à noite caiu como sopa no mel.
Um futebolista profissional que depois de 77  minutos de um jogo intenso contra um rival desata a correr de modo a deixar-se comparar a Usain Bolt, o jamaicano que é recordista mundial de velocidade, não pode ficar à espera que lhe ofereçam uma Bola de Ouro depois do Ano Novo, pois não? Bola para quê?

A comunicação é um área muito importante num clube de futebol. No Sporting, por exemplo, a partir de agora o assunto vai ser levado muito a sério ao ponto de, segundo noticiou a imprensa da especialidade, passar a haver um controlo do patronato sobre os conteúdos das entrevistas dos jogadores à comunicação social e também sobre a actividade dos mesmos jogadores nas chamadas redes sociais.
Se os responsáveis sportinguistas entendem que este é o caminho a seguir em termos de comunicação é, certamente, porque chegaram a essa conclusão depois de um aturado debate interno.
Cada clube tem toda a legitimidade para definir a sua política nestas matérias. Há por esse mundo fora, com certeza, sensibilidades diferentes em assunto, enfim... tão sensível e se há clubes que optam por uma posição de vigilância e de controlo sobre os ditos conteúdos, outros haverá que são bem mais liberais no que diz respeito à liberdade de expressão dos seus funcionários.
No FC Porto, por exemplo, a liberdade é total quer nas redes sociais quer na comunicação igualmente social. Ainda há pouco tempo houve um jogador do FC Porto, o jovem argentino Iturbe, que de passeio em  Lisboa se fez fotografar junto à Torre de Belém, postou a manuelina imagem no Twiter com todo o à-vontade e não veio mal nenhum ao mundo por isso.
No princípio da semana em curso foi a vez do capitão da equipa o argentino Lucho González, deixar-se entrevistar por uma estação francesa de rádio, a RMC, prognosticando com toda a liberdade a inevitável e próxima ascensão na carreira de dois dos seus actuais colegas no FC Porto.
- Jackson e James são dois jogadores muito bons e com muito futuro. Dentro de dois ou três anos vamos vê-los em grandes clubes - disse o argentino à RMC, tal como veio citado na imprensa.
Enquanto, de acordo com a opinião de Lucho, não virmos Jackson e James «em grandes clubes», resta-nos esperar que, em nome da pacificação geral, não venha agora o presidente do Sporting permitir-se dar lições de comunicação a Pinto da Costa.
-Se o Lucho fosse do Sporting uma coisa destas nunca poderia acontecer! - poderá, eventualmente, Godinho Lopes cair na tentação de dizer, gozando o pratinho, agora que em Alvalade, ao contrário do que aparentemente acontece no Dragão, foi instituída a tolerância zero para as liberdades poéticas dos jogadores.
Convirá, no entanto, a Godinho Lopes alargar esse controlo sobre as declarações dos funcionários aos jogadores que sendo do clube estão emprestados para lá das nossas fronteiras, como é o caso de Onyewu que joga em Espanha.
-Só se eu fosse tolinho é que não aceitava ir jogar para o Málaga - disse esta semana o central norte-americano à BBC.
Vamos lá melhorar esse controlo. Não pode haver relaxamento.

PUBLICADOS no estrangeiro, numa lista qualquer, os vencimentos de Jorge Jesus foram um dos temas em destaque na última semana. A dita lista parece ser fidedigna e da parte do Benfica e de Jorge Jesus não se ouviu um pio, o que me apraz registar porque é sinal de classe. De classe e de bem-estar que é o que mais se deseja.
A notícia não provocou qualquer espécie de comoção entre a vasta nação benfiquista. Ou porque acham bem ou porque acham mal, a verdade é que entre benfiquistas os anunciados 4 milhões/ano de JJ não suscitaram discussões nem gritos de revolta.
Já entre os nossos adversários a mesma notícia provocou precisamente o efeito contrário. Houve comoção, manifestações de protesto e outros sintomas do mesmo género, sempre em nome do bom senso financeiro e da bela conveniência de uma gestão equilibrada.
Sem querer magoar ninguém, penso que há grande hipocrisia nestes tão gritados sentimentos de repúdio nutridos pelos nossos rivais em função do valor dos vencimentos do treinador do Benfica. Eles não estão, não podem estar minimamente preocupados com o equilíbrio financeiro do Benfica. Que sentido faria desejar a saúde do rival?
Eles estão apenas aborrecidos porque, perante a expressão dos números divulgados, concluíram que só muito dificilmente virá Jorge Jesus alguma vez a ser treinador dos seus respectivos clubes.
E lá que gostavam, gostavam.

É muito fácil criticar Vítor Pereira que agora perdeu dois jogos e apontar-lhe a dedo todos os erros em que caiu em Braga e em Paris, a suas más decisões, os seus patéticos julgamentos, enfim, tudo.
Pereira, se fosse mais solto de língua, poderia sempre responder:
-Contra um autogolo do Danilo e um frango do Helton não há Sir Alex Ferguson que resista...
No entanto, Vítor Pereira tem vindo a optar pelo silêncio e faz bem. Até porque não é o único culpado. Se é verdade que a equipa sem sete titulares relaxou de mais na Pedreira, também é verdade que melhor teria feito Pinto da Costa em ficar calado em vez de dizer que o FC Porto tinha de se habituar a ganhar sem ele. Pronto, lá relaxaram outra vez.

SE o que estava em causa era o recorde do Muller, missão cumprida. Na única oportunidade que teve em meia hora de jogo, o argentino foi brilhantemente desfeiteado por Artur. Uma vez no chão e outra no ar. Depois Messi saiu todo torcido de campo e acabou-se logo com essa parte da discussão.
Se o que estava em causa era garantir um resultado digno em Camp Nou onde tantos têm soçobrado, missão cumprida. O 0-0 é coisa que não envergonha ninguém.
Se o que estava em causa era a qualificação para a fase seguinte da Liga dos Campeões, o Benfica só se pode queixar de si próprio. Teve um Barcelona de segunda pela frente durante uma hora de jogo, construiu incontáveis oportunidades e falhou-as todas quando precisava de golos para ganhar o jogo.
Agora a Liga Europa. Parece-me bem."

Leonor Pinhão, in A Bola

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