"Uma ironia inabitual do presidente do Benfica reabriu a discussão sobre a muito cruel diferença de avaliação ao uso das mãos por jogadores que não os guarda-redes. O até agora muito discreto Alex Sandro saltou para a ribalta pelo inegável mérito em saber usar as mãos de acordo com o critério bom dos árbitros e até podia ser utilizado em workshop da Federação como modelo a seguir.
O treinador Vítor Pereira, por exemplo, até meteu os pés pelas mãos ao incluir no célebre hat-trick de Duarte Gomes do Benfica-Guimarães da época passada o penálti de N’Diaye sobre Saviola, que nada teve a ver com jogadas de segundo guarda-redes. Apenas um exemplo da enorme confusão que se instalou a respeito de uma falta clássica do futebol que, outrora, no tempo dos ingénuos, era tão fácil de destrinçar entre voluntários e involuntários.
Por exemplo, o francês Roberge precisa urgentemente de uma reciclagem e deve ter saído ontem do Estádio da Luz apreensivo pela diferença que o separa daquele colega de profissão. Ao contrário do que o lateral do Porto habitualmente faz, com toda a impunidade, o central madeirense procurou esquivar-se ao contacto da mão com a bola, e se mostrou alguma voluntariedade, foi em evitar a falta e não em cometê-la.
Esta época, foram assinalados 13 penáltis por mão na bola, apenas um terço de todos os lances de contacto de mãos e braços com a bola dentro da área. São praticamente quatro lances controversos por jornada, o que justifica uma clarificação urgente, de uma das áreas mais cinzentas do subjetivismo dos árbitros.
E a solução só podia ser esta: falta em todos os contactos com a mão na bola, independentemente da vontade do jogador ou da subjetividade do árbitro. O que veríamos então seriam mais gestos como o de Roberge, a tentar tirar a mão do caminho da bola, e menos como os de Alex Sandro, a procurar aumentar a barriga. E a controvérsia simplesmente acabava."
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