"Uma justiça pouco ou nada justa é o pior que pode acontecer seja onde for, a quem for e por que motivo foi. Imaginemos que acontece no sensível mundo da bola, onde é preciso prestar contas a milhões de adeptos, por natureza facciosos ou mesmo fanáticos. O risco de gerar manifestações de protesto, com excessos à mistura, é enorme além de colocar em causa a credibilidade de todo o sistema. Foi o que sucedeu no designado escândalo Scommessse, uma rede global de criminalidade organizada que combinava previamente os resultados dos jogos em que depois ia apostar. Perante a avalanche de investigações pelas Procuradorias de Cremona e de Bari, quando chegou a hora de emitir sentenças e gerir centenas de casos de grau e natureza diversos, a justiça desportiva italiana naufragou sob o peso de regulamentos obsoletos. E no entanto - note-se - é reconhecidamente a mais eficaz e interventiva de todo o futebol.
Hoje estamos confrontados com dezenas de decisões contraditórias em que a fundamentação é tudo menos consensual. Por outro lado, enquanto as condenações de Antonio Conte, treinador da Juventus, do Lecce e de dezenas de jogadores foram rápidas, é incompreensível que Lazio, Nápoles, Génova e muitos outros futebolistas continuem à espera de conhecer as penas que terão de cumprir. Para agravar a confusão, começam agora a chegar da Finlândia, Hungria, Suíça e Bulgária as respostas às castas rogatórias enviadas na primeira fase do processo. Embora se saiba que a cabeça do polvo está no sudoeste asiático com o epicentro em Singapura. Em suma, é urgente reformar a justiça desportiva de modo a conciliar a brevidade com a equidade."
Manuel Martins de Sá, in A Bola
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