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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Paciência

"A demissão de Domingos pode ser um erro colossal para a vida do Sporting. Mais um. Confessa um erro de gestão, destrói a ideia de um projeto em construção, dilui o crescimento do entusiasmo, desmonta o álibi das culpas de terceiros e hipoteca a confiança num rumo sufragado há menos de um ano.

Alegando o incumprimento de objetivos para a crueldade de impedir Domingos de estar na final da Taça de Portugal, a direção do Sporting transmite uma imagem de descontrolo, que faz vacilar não apenas os jogadores, mas em particular os adeptos e investidores, não obstante o efeito psicológico que a ascensão de um ícone do perigoso mundo das claques causará nos primeiros tempos.

Esta fuga para a frente representa mais um episódio próprio da desculpabilização habitual das elites leoninas, que sempre as conduz para longe da realidade e lhes aumenta a frustração para limites insuportáveis. Afastar um treinador competente já não devia ser opção, quando se vê onde estão hoje Paulo Bento, Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio ou José Couceiro.

Domingos entrou no Sporting com uma carteira de 20 milhões em jogadores, para concorrer num quadro competitivo muito adverso, com adversários muito mais avançados do que os sportinguistas conseguem admitir. A aposta num baralho próprio das brincadeiras do Championship Manager legitimou, inclusive, a suspensão da prioritária linha de abastecimento da academia, sem que fosse completamente assumida o evidente desvio da política de formação, deixando o espírito leonino de orgulho na matriz a vogar no limbo, revoltado, mas amordaçado, sobre uma panóplia de nomes, línguas, currículos, promessas, experiências e óbvias sobrevalorizações.

O que Domingos estava a realizar, de acordo com o que parecia ser o projeto da nova direção, apontaria para uma aproximação às três equipas que nas últimas três temporadas se tinham distanciado dramaticamente. O plantel necessitaria de alguns ajustamentos, mas havia uma evolução em curso em parâmetros aceitáveis.

Apesar da série de maus resultados, há sectores a funcionar muito pior na retaguarda da equipa de futebol que, ao contrário, em zonas que nada melhoraram desde os tempos de Paulo Bento: estratégia, comunicação e liderança. Pelo contrário, a estratégia revela-se cada dia mais confusa, a comunicação é babilónica e a liderança não resiste a uma gritaria na Portela.

Não havendo qualquer evolução desportiva no horizonte, a reorganização do plantel não deixará de custar mais uma pequena revolução, tamanha é a distância ideológica entre o treinador que sai e o que entra. Numa analogia à entrada de Paulo Bento, cujo sucesso se pretende agora reeditar com Sá Pinto, podemos esperar uma nova sangria, tentando corrigir alguns dos erros de casting cometidos na ânsia de causar impacto entre os adeptos: o atual selecionador nacional dispensou 18 e contratou ou promoveu da academia outros 13 nos primeiros seis meses de função.

Sem dinheiro e vindo de onde vem, seria normal que Sá Pinto também se virasse, de novo, para o alfobre de Alcochete. Valores como Cédric, Adrien, Wilson Eduardo ou Nuno Reis representam mais esperança no futuro, mas não garantem títulos. Haverá paciência?"


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