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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Novo Jesus no novo Benfica

"Nada de jactâncias, frieza de análises. O melhor plantel, não o melhor onze. Mas como não favorito face ao Trabzonspor?!


JORGE JESUS diferente do que foi nos dois primeiros anos na Luz. Refiro-me ao discurso público. E diria radicalmente diferente. Agora, nada de jactâncias, nada de garantias de sucesso. Aprendeu dura lição: da euforia do título nacional para demasiado extenso rol de fiascos. Agora, não assegura conquista do próximo campeonato, muito menos repete que há-de ser campeão da Europa... Pelos vistos, teve eco um certo mea culpa de Luís Filipe Vieira, certeiro na crítica sobre grande falta de humildade - e nesse tremendo erro justamente se incluindo...

Desta feita, Jorge Jesus afasta-se de prematuros entusiasmos, exibe frieza nas análises. Exemplo: afirma ser este o melhor plantel que já teve, mas não a melhor equipa. Duplamente correcta análise.

Mão cheia de recentes aquisições parecem assegurar bom leque de alternativas que o Benfica há largos anos não possuía. Artur e Eduardo, face a Roberto e Júlio César; Garay perante Jardel, na segunda metade da época anterior; Emerson e Capdevila, este um senhor campeão europeu e mundial, concorrendo, em vez do miúdo Carole (quanto a mim, forte promessa, mas muito verde), à vaga de Coentrão; Matic muitíssimo acima de Airton, Witsel em galáxia inatingível por César Peixoto e Filipe Menezes; Enzo Pérez e Urreta no combate à saída de Salvio; Nolito e Bruno César onde havia apenas Gaitán - e, creio, mais cedo ou mais tarde, possibilitando a Gaitán saltar de extremo para função que muito mais lhe dimensionará grande potencial de alta qualidade; Rodrigo ou Mora, travando com Cardozo, Saviola e Jara a discussão de que Kardec e Weldon eram incapazes e que a Nuno Gomes não foi permitida. Esta abundância de boas soluções é importantíssima para enfrentar intenso desgaste em múltiplas frentes de luta. E sabe-se como o Benfica caiu a pique na ponta final da época anterior, exausto e com gritante vazio de alternativas aos lesionados Salvio e Gaitán.

Deste muito bom plantel - para ser excelente, falta-lhe, sobretudo, digo eu, firme rival de Maxi Pereira, pois o polivalente Rúben Amorim é muito mais médio do que defesa-direito e vem de problemática lesão; quiça também alternativa a Cardozo no estilo, atlético, mas desejavelmente mais rápido, de ponta-de-lança que Jorge Jesus prefere - sairá o melhor onze em três anos com Jesus ao leme? O treinador já disse não. E decerto não foi por mera cautela que o disse. Acontece que o melhor onze benfiquista desde há muito tinha Di Maria, Ramires, David Luíz e Fábio Coentrão... Exactamente esses que criaram mais-valias de uns 80 milhões de euros e são titulares do Chelsea ou do Real Madrid...

Jorge Jesus faz muito bem em mudar o seu discurso, trocando desmedidos entusiasmos por fria prudência. No entanto, escusa de exagerar... Afirmou que o Benfica não partiu favorito para eliminatória perante o Trabzonspor, inesperado vice-campeão turco que, mesmo tão-só na média/baixa roda europeia, era desconhecido. Como assim o Benfica, ainda por cima este Benfica com muito reforçado plantel, não assume claro favoritismo quando, sendo 17.º no ranking da UEFA, defronta o 137.º?!


PRIMEIRO round da eliminatória: o resultado não sonegou a lógica, o Benfica é, sim, favorito. Verdade que o 2-0 foi arrancado a ferros, durante demasiado tempo houve razões para a desconfiança de Jorge Jesus. Adversário bem organizado, valente, tendo boas ideias na contra-ofensiva; sobretudo, lenta, embora positiva, evolução do Benfica. Quatro aquisições já se destacam: Artur, Emerson, Garay e... Nolito, cujas características de furar, furar para a baliza iniciaram o triunfo. Mas foi a obra de arte de Gaitán a criar razoável tranquilidade para Istambul."


Santos Neves, in A Bola

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