"Não há dia no defeso do futebol em que não se fale de uma mais-valia. Contrata-se um jogador: é uma mais-valia. Muda-se um técnico: é uma mais valia. Aposta-se em jovens: é uma mais- valia. Investe-se na experiência dos mais velhos: é uma mais-valia. Tudo mais-valia. Sem mais cá, nem mais lá.
A mais-valia começou por ser a expressão marxista da diferença entre o valor dos bens produzidos e dos salários recebidos por quem os produz. Depois, passou para outros destinos, em particular o da gestão. E, por fim, chegou ao futebol, embora quase ao invés: tende ser a diferença entre os salários de quem joga ou treina e o valor dos resultados produzidos. Ou seja, começando por ser mais-valia acaba por se transformar, não raro, numa menos-valia.
O curioso é que quase sempre usamos a expressão mais-valia no singular quando formulamos um desejo ou falamos de uma expectativa. Por exemplo, aquele jogador vai ser uma mais-valia. Já no plural, as mais-valias significam uma situação que se verificou: ou no registo contabilístico ou no pagamento do imposto sobre as ditas...
A mais-valia futebolística anda de braço dado com outra curiosa expressão: reforço, às vezes quase pleonasticamente acrescentado de um adjectivo: reforço positivo. No entanto verificamos que enquanto o reforço vai para o banco, o Banco recebe o reforço. Ou uma mais-valia reforçada. Do mal, o menos, dirão uns. Quanto mais, menos, dirão outros.
A estória da mais-valia de um jogador acaba muitas vezes não com um final feliz, mas desconsolado. À entrada é tudo uma mais-valia. Depois a valia perde o hífen e deixa de ser mais, e mais valia não ter sido. Isto é, não ter entrado."
Bagão Félix, in A Bola
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