"Há fintas e há fitas. Normalmente as segundas impõem-se quando as primeiras falham e, sobretudo, quando falham clamorosamente. A águia levantou voo e foi mostrar ao dragão que não há vencedores antecipados, mesmo quando jogam em casa e não conseguem dissimular o triunfalismo, que acaba sempre por ser uma forma irritante e provinciana de arrogância. A águia tinha umas contas para acertar e não podia, nem queria, deixá-las adiadas. Foi a jogo e ganhou o jogo, nem sequer se mostrando ou sentindo inferiorizada por estar em inferioridade numérica. Quando uma águia está firmemente determinada a ganhar, até com uma asa apenas consegue cumprir esse desígnio.
Continuando no domínio, sempre meio poético, da linguagem metafórica, poderá dizer-se que há estrelas que sobem e outras que entram em ciclo descendente. O homem é o único ser da Natureza que consegue fitar o sol, mas deve ter cuidado ao fazê-lo para não ficar cego pelo excesso de luz que lhe aquece e preenche o ego. O ego deve ser ainda mais contido e controlado quando não se tem obra feita que permita 'cantar de galo', muito menos na presença altaneira de uma águia a sério.
Vai daí, as fintas deram lugar às fitas, e até os que dizem 'incríveis' começaram a atirar-se para o chão, simulando faltas que nunca existiram e fingindo uma indignação que só o mau perder talvez seja capaz de justificar.
Dói muito perder em casa, sem ser por acaso, quando se recebe quem está a jogar melhor e nem sequer precisa de 'cantar de galo' para evitar que o dragão vomite labaredas de convencimento pelas narinas abertas ao vento.
Esta podia ser uma história simbólica, com personagens fortes, para contar às crianças. Mas, vendo bem, é muito mais do que isso. É a história do voo de uma águia que não desiste de ver o seu esforço engrandecido com a coroa de um título renovado. E não há fitas boas que cheguem para iludir o olhar de quem sabe ver e julgar.
Fitas... só mesmo no cinema, mas se possível de muita qualidade."
José Jorge Letria, in O Benfica
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