"Há dez anos Manuel Vilarinho enfrentava o maior desafio de vida. Derrotar Vale e Azevedo era a sua missão mas também o seu maior sonho: «Ser presidente do Benfica». Paradoxalmente, diz que nunca o teria sido se não fosse o «azevedismo». Em 2010, Vilarinho olha para o passado com glória, orgulho e dor. Emoções cruzadas na viagem no tempo que fez com A BOLA.
- Ganhou a presidência do Benfica há 10 anos, naquela que foi considerada uma das eleições mais importantes da história do clube. Recuando no tempo, que palavra lhe vem à mente para definir esse momento?
- Um grande orgulho e satisfação. Porque tirar de lá o Azevedo não era fácil.
- Lembra-se como começou a sua candidatura?
- Eu sempre tive o sonho de ser presidente do Benfica. Sou oriundo de uma família de benfiquistas, sempre nos habituámos a ver o Benfica como algo de muito importante nas nossas vidas, principalmente graças ao meu pai. Mas acredito que se não tivesse sido a época azevedista eu nunca tivesse sido presidente.
O debate televisivo que foi decisivo
- Ganhou a presidência do Benfica há 10 anos, naquela que foi considerada uma das eleições mais importantes da história do clube. Recuando no tempo, que palavra lhe vem à mente para definir esse momento?
- Um grande orgulho e satisfação. Porque tirar de lá o Azevedo não era fácil.
- Lembra-se como começou a sua candidatura?
- Eu sempre tive o sonho de ser presidente do Benfica. Sou oriundo de uma família de benfiquistas, sempre nos habituámos a ver o Benfica como algo de muito importante nas nossas vidas, principalmente graças ao meu pai. Mas acredito que se não tivesse sido a época azevedista eu nunca tivesse sido presidente.
O debate televisivo que foi decisivo
- Ganhou as eleições no frente-a-frente na televisão?
- Não tenha dúvidas. Isso foi fundamental. Tenho-o gravado e de vez em quando vejo-o. Antes do debate eu tinha 30 por cento das intenções de voto, depois ganhei por 62 por cento, Vale e Azevedo com 38.
- Teve quanto tempo de treino?
- Cinco dias. E nos últimos dois fechei-me em casa a estudar como se fosse para um exame. Estava preparado para tudo o que ele ia falar, menos da história dos terrenos [Euroárea], que só ele sabia e que por isso esteve preso e assim continuará, se não fugir.
Como falhou Jardel
- Anunciou a contratação de Jardel, mostrando inclusive um cheque de 100 mil contos [500 mil euros], prometendo entregar o dinheiro ao clube se ele não viesse...
- Passava o cheque se não fosse verdade o que dizia sobre o Jardel! Fizemos um contrato, mas combinei com ele e com o seu representante, Paulo Barbosa: deveria mostrar-se desconte no Galatasaray mas só viria para o Benfica no final da época. Chegaria mais barato. Foi um contrato promessa mas tinha lá uma cláusula que permitia desistirmos do contrato em determinadas circunstâncias. Só que ele e a mulher na altura começaram a apertar: em vez de pressionarem o Galatasaray pressionaram o Benfica. Queriam vir mais cedo para Portugal. A mulher é que foi a estratega, ele não é mau rapaz, só que era influenciado.
- Van Hooijdonk foi-se embora e Jardel acabou por não vir. Ficou a perder...
- Porque o Jardel começou a pôr acções jurídicas contra nós, estragando o plano. Podia ter vindo.
- Lembra-se do primeiro choque depois de chegar a presidente?
- Havia dívidas e mais dívidas e a maior parte não estava contabilizada nas contas do clube. Não havia papel higiénico, água e estava tudo estragado.
- Não conseguiu ter sucesso desportivo no seu mandato. Teve pena?
- O problema era financeiro. Não se pode ter uma boa equipa de futebol sem dinheiro.
«Episódio Mourinho foi mau acto de gestão»
- Arrepende-se de não ter renovado com José Mourinho?
- Ele próprio contou no livro dele e pediu desculpa pela forma como decorreram as coisas. Se fosse hoje eu também não tinha agido da mesma maneira. Teria feito de outra forma: fazia-lhe a vontade, só que [pausa]... ele ganha 3-0 ao Sporting ao domingo e na segunda-feira aparece numa reunião de direcção, às 10 horas da noite, dizendo: «Ou renovam o meu contrato ou amanhã já não dou o treino».
- Não aguentou?
- Eu deveria ter engolido aqueles sapos. É claro que naquela altura nunca pensei que ele atingiria este patamar, mas gostava dele. Pensei: «Toni já não vem.»
- Você e Roman Abramovich têm algo em comum: foram os únicos a despedir José Mourinho.
- Não o despedi, apenas consenti o seu despedimento. Ele estava convencido de que eu não gostava dele, o que não era verdade. Eu queria renovar com ele não por uma época, como ele pedia, mas por duas épocas! Porque ficando naquele lugar dar-me-ia sossego, eu não teria de me preocupar com o futebol. Só que aquele ultimato foi chato. Falei logo para o Toni e disse-lhe: «Vem para Lisboa». Devia ter-me posto no verdadeiro lugar de gestor: engolia o sapo, renovava com Mourinho e o Benfica ficava a ganhar com isso. Foi um mau acto de gestão que tomei.
- Consegue projectar o papel que o seu nome irá ter na história do clube?
- Estou com certeza entre os cinco melhores presidentes da história do Benfica, juntamente com nomes como Joaquim Ferreira Bogalho, Fernando Martins, Ferreira Queimado. A partir de Fernando Martins, melhor só eu."
in A Bola (resumo)
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