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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Kaboré no lugar do coxo


"Fredrik Aursnes é mais do que competente, e por aí pareceu ter sido lateral-direito demasiado tempo no Benfica. Tiago Gouveia esforçou-se e passou por lá nesta pré-época. Bah não é coxo nenhum e é o dono do lugar.

O lugar do coxo. Era assim, há uns anos, que chamávamos ao lateral-direito lá de onde eu venho. Era o segundo pior lugar para se jogar: abaixo de coxo, só à baliza.
A ideia por detrás da sentença era a de que qualquer um podia jogar ali, na lateral-direita. Na esquerda já era preciso ter alguma especialidade. Ser esquerdino, por exemplo, ou conseguir com o pé direito jogar no lado canhoto. Mas fazer a posição de defesa-direito era quase tão fácil que qualquer um que soubesse receber e chutar a bola na frente estava qualificado. Não era preciso grande habilidade, era preciso ser apenas competente. Ou meramente esforçado.
Fredrik Aursnes é mais do que competente, e por aí pareceu ter sido lateral-direito demasiado tempo no Benfica. Tiago Gouveia esforçou-se e passou por lá nesta pré-época. Bah não é coxo nenhum e é o dono do lugar. O futebol evoluiu de tal maneira que os laterais são parte tão importante no jogo que Pep Guardiola, um tipo que pode escolher quem quer, gastou milhões com eles.
Pode parecer solução de recurso, pode parecer um negócio fora da estratégia ideal ou até de tapar alguém da formação, mas o balanço de mercado só se faz no fim da época. Ainda assim, a chegada de Issa Kaboré parece ter já sentença pelo tribunal público/mediático.
O jogador emprestado pelo Manchester City por uma época está agora condenado. Quer dizer, não é bem ele, mas o leitor percebe o que digo. Se não tiver rendimento em campo, o scouting do Benfica falhou. Se tiver, o negócio foi mau por não ter cláusula de compra. Mesmo que haja objetivos desportivos para se alcançar e isso, por vezes, tenha de levar a soluções temporárias e às soluções possíveis [John Anthony Brooks foi um destes casos], perante clubes com maior poder económico e com os quais se tem de competir.
Se El Ouahdi fizer uma temporada estrondosa no Genk, passará a ser considerada de gritante a incapacidade negocial do Benfica, mesmo que os belgas tenham o poder de dizer não: o marroquino tem contrato e o clube fez quase €50 milhões em três vendas.
Ou seja, perante tanto risco, para o bem ou para o mal, talvez fosse melhor, sendo assim, o Benfica nem contratar ninguém. E continuar com um João Victor ou um Alcides qualquer, porque, como se dizia lá de onde eu venho, no lugar do coxo qualquer um joga.
O Benfica tem de ganhar títulos e é por isso que não vejo mal num empréstimo «à antiga». Outras soluções, modelo para o negócio, poderiam ser melhores? Sim, mas por vezes tem de se usar o que nos dão para se vencer. O mal menor, portanto. O meu treinador nas camadas jovens, por exemplo, metia-me sempre a lateral-direito…"

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