Últimas indefectivações

sábado, 30 de dezembro de 2023

Balancete


"1) A escassos dias do fim do ano, é habitual fazerem-se balanços. Sobretudo quando o ano de calendário coincide com o ano a considerar. Não será tanto o caso da maioria dos desportos e muito menos do dominador futebol, em que o ano civil e a época desportiva não coincidem. Porém, com a primazia das estatísticas por tudo e por nada, registam-se balanços para todos os gostos e desgostos. Confesso que não me despertam muito entusiasmo. A não ser algumas excepções, se extravasarem o registo quantitativo e se detiverem num âmbito mais amplo. É o caso da escolha da Personalidade do Ano por este jornal, que, em 2023, foi atribuída meritoriamente a Bernardo Silva. Trata-se de uma decisão que assinala e premeia a excelência do atleta, o mérito do profissional, o carácter da pessoa. Uma distinção que suscitou uma magnífica entrevista de vida, brilhantemente conduzida por Luis Mateus, reveladora da personalidade de um jogador ímpar e que foge aos cânones habituais. Uma conversa ponderada, inteligente, sensata, sem alardes de vedetismo, sem os lugares-comuns que costumam fazer parte deste tipo de entrevistas.
2) Muito se tem falado e escrito sobre o percurso do Benfica no campeonato 23/24, centrado na menor capacidade competitiva face à época anterior. Parece defensável esta conclusão à luz do nível exibicional de alguns dos encontros realizados. Todavia, quanto a resultados, a conclusão não é necessariamente a mesma. Para tal, fiz um exercício comparativo entre os 14 jogos já realizados e os que em 22/23 aconteceram com as mesmas equipas (no caso das que subiram à 1.ª Liga, Moreirense, Estrela da Amadora e Farense, fiz equivaler a comparação com as que desceram, Santa Clara, Marítimo e Tondela). Até agora, o Benfica fez mais 11 pontos: 3 no jogo com o FC Porto, 2 contra o Sporting, 3 contra o Sp. de Braga e também 3 em Chaves. Comparativamente perdeu 9 pontos resultantes de menos 4 pontos na Luz contra o Farense e Casa Pia e 5 pontos fora de casa (3 no Bessa e 2 em Moreira de Cónegos). No total desta comparação homóloga o Benfica tem mais 2 pontos do que no ano passado, com a particularidade de ter feito o pleno nos jogos com os seus directos rivais e não o ter alcançado em encontros teoricamente mais acessíveis, mormente em casa. Paradoxalmente, em duas partidas terminadas com a única derrota (Boavista) e com um empate (Farense), o desempenho exibicional até foi dos mais conseguidos e que poderia ter tido um resultado final bem diferente. Apesar de ter tido 8 jogos fora de casa e apenas 6 na Luz, os pontos perdidos quase se equivalem (5 fora e 4 em casa).
Será que desta constatação se pode concluir algo para as 20 jornadas que faltam? Obviamente que não. Apenas quis evidenciar que, como já havia escrito nesta coluna, a recorrentemente proclamada crise encarnada é manifestamente exagerada.

Folha Seca: 'Boxing'
Neste resto do ano velho, o entusiasmante boxing day britânico teve um proémio em terras lusitanas com um inusitado momento boxing protagonizado por Pepe no jogo em Alvalade. Em ambas as situações, manteve-se a tradição. Em Inglaterra, a luta leal em forma de jogo jogado. Com o defesa do Porto o combate desleal em modo de jogo não jogado. Só num aspecto, a tradição já não é tanto o que era (ou deveria ser). Refiro-me ao despautério de Pepe ter sido expulso num jogo da nossa Liga. Coisa rara e quase nunca vista.
Depois deste intróito sobre o boxing caseiro, volto à excelência da tradição que é indissociável da vida britânica. Na velha Inglaterra, os amantes de futebol usufruem o campeonato sem intervalos. Aqui houve a Taça da Liga para desligar da Liga. Na mátria do futebol, espectáculo garantido, estádios cheios e boas receitas. Aqui, mais uma semana com bilheteiras fechadas para clubes que bem precisam de dinheiro fresco. Lá, na ilha britânica, jogos que são a matéria-prima para o alimento noticioso de Dezembro que se prolonga por Janeiro. Aqui, e na ausência de jogos, notícias de putativas transumâncias de Janeiro que, porém, começam em Dezembro. Lá exporta-se o produto do espectáculo e preserva-se a essência da competição. Aqui, à míngua de jogos, reforça-se a prática do comentário, elaborando-se múltiplas teses sobre o antes e o depois.
Lá, o fundamental está entre o antes e o depois, ou seja o durante. Este ano materializado, entre outros jogos, num memorável Manchester United-Aston Villa! Para quem gosta mesmo do futebol jogado, é um regalo o boxing day na Velha Albion. Onde não há lugar a outros boxing.

Jogos florais
"Eriksson só falava do Benfica"
Zoran Filipovic na BTV

No interessante programa da BTV A Carrinha do Bento, ouvi o inesquecível Zoran Filipovic dizer esta frase, a propósito do que o seu treinador Sven-Göran Eriksson dizia nas prelecções e no intervalo dos jogos. Por outras palavras, não se detinha nos adversários. Gostei de ouvir isto e logo me lembrei do que agora é a prática dominante dos treinadores nas suas conferências de imprensa, sobretudo antes da realização dos jogos. Passam parte substancial do tempo a falar do… adversário. Seja ele qual for, desde o melhor clube do mundo à mais insignificante equipa do 4º escalão, são todos de temer, de suscitar todas as cautelas. Qualquer adepto fica logo meio deprimido! Que diabo, não há necessidade de amedrontar a própria equipa!

Favas contadas
Vamos então à bilhética. Ou melhor, ao seu significado. No importante clássico Sporting-Porto, a assistência em Alvalade foi de 44 385 pessoas. Dois dias depois, na famigerada Taça da Liga, no Benfica-AVS Futebol SAD (que nome estranho!) estiveram na Luz 48 959 pessoas, que quase dariam para esgotar o Dragão ou Alvalade. Uma significativa diferença de 4 574 espectadores. Mais palavras para quê?

Fotossíntese
Eis uma nova competição, o Mundial de clubes. De quatro em quatro anos, a realizar em pleno defeso do futebol europeu e em plena competição do futebol de outros continentes. Na minha opinião, um exagero advindo do até agora monopólio das competições da FIFA e da UEFA. Bem sei que o retorno financeiro pode ser atractivo (por exemplo, Benfica e Porto vão ter um prémio de presença de 50 milhões), mas estarão por contabilizar as consequências de um mês de competição em período de férias. No fim da competição, os suspeitos do costume ganham e o fosso entre os clubes ricos e os que o não são aumenta, sem que se vejam os ganhos para o futebol como um todo."

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