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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

A bolha de Pinto da Costa


"A forma como o presidente do FC Porto desvalorizou as cenas na AG é uma normalização da violência que os próprios adeptos já não aceitam

Os sócios do FC Porto serão chamados a votar, esta quarta-feira, o Relatório e Contas do clube. Aquilo que seria uma Assembleia Geral (AG) sem qualquer história ganhou uma relevância extraordinária face aos acontecimentos da noite de 13 de novembro porque o que está em causa não são os prejuízos superiores a dois milhões de euros (o grande buraco não é ali), mas o escrutínio de toda uma gestão sob a direção de Pinto da Costa (PdC).
Pela primeira vez em quatro décadas, o histórico presidente portista vê-se confrontado com uma opinião pública azul e branca contrária, que a pouco e pouco se vai afastando da narrativa do homem providencial.
A entrevista concedida à SIC teve o mérito de deixar muito transparente a bolha em que o líder dos dragões e o seu séquito parecem viver: ao desvalorizar as cenas de violência física e verbal na AG extraordinária para alterar os estatutos não percebeu o tiro no pé que deu — pelos vistos, uma ida para o hospital é a barreira que define os índices de civismo. Entre as suas palavras, muitos dias depois, e as de alguns adeptos seguidistas que se foram pronunciado em vários fóruns, acusando André Villas-Boas de querer roubar o poder (como se ir a eleições fosse um crime), não vislumbrei grandes diferenças. Surpreendente. Ou talvez não.
Também se viu um Pinto da Costa sem dominar os dossiers nem conseguir dar resposta àquilo que tantos portistas questionam: como pode um clube que fez tantas receitas em vendas ter um buraco tão grande, somando prejuízos atrás de prejuízos e tendo a espada de Dâmocles permanentemente em cima da cabeça (o fair play da UEFA)? Para onde foi, afinal, o dinheiro? Desculpar-se com a inflação e os impostos é francamente redutor e apenas mostra uma de duas coisas: opacidade ou falta de controlo.
Ambas são graves. E nem o anúncio de parcerias para a gestão dos espaços comerciais e do estádio numa lógica de antecipar receitas parece convencer os mais exigentes adeptos (que parecem ser cada vez mais).
Veremos nos próximos tempos até que ponto a divisão que se sente no Dragão (os assobios ouvidos no jogo com o Montalegre quando os Super Dragões começaram a contar o nome de PdC) não se transforma em algo mais que tensão clubística. Numa sociedade cada vez mais polarizada em todos os sentidos e quadrantes, a normalização da violência é um combate que deve ser feito por todos, goste-se ou não de futebol. Imaginar que em pleno século XXI a casa de um protocandidato às eleições do FC Porto (André Villas-Boas) é vandalizada como consequência de uma iniciativa que devia ser aceite com naturalidade democrática leva-nos a questionar: se isto acontece a quem veste as mesmas cores, o que não acontecerá com os outros?"

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