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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

O Benfica chumbou. E agora?


""És presidente de um clube? A tua equipa de futebol está a passar um mau bocado? Nada temas! NovoCiclo2020 tem a solução ideal para ti, uma fórmula imbatível: vai buscar um treinador que já te deu resultados, compra um defesa central experiente, dois extremos brasileiros, um avançado uruguaio para os 20 minutos finais e...bom e é isso. Vais ver que resulta!".
Ah, se fosse assim tão simples. Só que conseguir bons resultados no futebol é bastante mais complexo. Tanto que Luís Filipe Vieira a esta hora deve estar a dizer aos seus botões "o que mais preciso de fazer? Fui buscar Jesus, gastei 80 milhões em reforços e a equipa nem passou da 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões?" É como aquele estudante que chumbou no exame e fica surpreendido porque passou a noite inteira anterior a estudar. Esquece-se é que durante o semestre pouco se aplicou e fez os trabalhos todos em cima do joelho. É o que se passa no Benfica actual. Os erros acumularam-se nos últimos três anos e o virar do barco vai demorar tempo. Não há soluções milagrosas. Nem com um Jesus no comando.
O Benfica está num ciclo de tal forma negativo que é difícil saber por onde começar. As críticas são justas para todos: para os jogadores porque continua a ser difícil entender a falta de atitude e garra com que estão a enfrentar os encontros. Repare-se no 2º golo do PAOK: André Almeida recupera a passo lento, Vinícius não faz a falta para parar o contra-ataque, Taarabt marca com os olhos, Weigl está alheado, Grimaldo está mal posicionado e toda a defesa está descompensada. Isto num jogo que valia 40 milhões de euros para o clube. Recorde-se que no último jogo oficial tinham perdido um troféu importante jogando contra uma equipa em inferioridade numérica desde os 38 minutos.
Jorge Jesus também tem que arcar com responsabilidades neste vexame. Chegou com a soberba habitual a prometer uma equipa que ia arrasar e a jogar o triplo e após um mês de trabalho, poucas diferenças se notam. Voltou a insistir em jogadores que já há muito não deviam ser titulares do Benfica: falo de André Almeida (se Gilberto não lhe tira o lugar, porque foi contratado?) e Seferovic. É preciso dar-lhe tempo e a sua competência é indesmentível, mas falhou no primeiro e importantíssimo objectivo para o qual foi contratado.
E o que dizer de Vieira? Que depois de anos de desinvestimento em busca de contas no verde e para abrir espaço a vendas de jogadores formados localmente, fez uma inversão de 180º graus na política desportiva, num período de imensa instabilidade com a Covid-19, de perda de receitas brutal e em que nem a Liga dos Campeões era garantida? Quer-nos mesmo fazer crer que nada tem a ver com as eleições? Torna-se difícil de acreditar. Se no passado exercício, inflacionado com a venda de 126 milhões de João Félix, o Benfica apresentou um lucro de 40 milhões, como vai ser neste exercício, sem tal venda astronómica, com o dinheiro já gasto em reforços e sem as receitas da Champions (e por enquanto de bilheteira)? Ninguém duvida que esta equipa precisava de investimento, mas fazer num mês o que devia ter sido doseado em três anos e neste timing...
Por mais que Luís Filipe Vieira desejasse que este período fosse de bonança e de "no pasa nada", a realidade está-lhe a dar uma valente estalada e aproximam-se semanas de intenso debate eleitoral. Os Benfiquistas têm uma decisão a tomar que é absolutamente fulcral para o futuro do clube: eleger para um 5º mandato um presidente que tem óbvios méritos na recuperação material, financeira e desportiva do Glorioso desde o início do século, mas que se encontra envolto em processos de tribunal que estão a manchar o nome do clube (como este nunca foi manchado) e que por mais anos que passe nunca parece conseguir manter o clube no paraíso desportivamente desejado (e por isso a necessidade de anunciar constantemente "novos ciclos", que mais não são que novas tentativas). Ou então eleger um novo presidente, que provavelmente passará por João Noronha Lopes ou Rui Gomes da Silva. Dois candidatos bastante diferentes que nas últimas semanas têm aumentado as suas campanhas, apresentando ideias e tentando entrar nas luzes da ribalta, mas que precisarão de carregar mais a fundo no pedal, se querem ganhar as eleições. O Benfiquista, principalmente o Benfiquista com 50 votos, é muito conservador e o medo do desconhecido continua a assustá-lo. Até Vale e Azevedo teve 38% dos votos no seu último dia e ainda os estatutos do clube não estavam tão enviesados em favor do líder residente como nos dias de hoje.
Se dúvidas houvesse, o jogo de ontem voltou a reforçar que o Benfica está numa encruzilhada gigantesca da sua História e a decisão tem de ser tomada: os Benfiquistas querem mais do mesmo do que têm tido nos últimos 20 anos, com o que houve de bom e de mau, ou querem algo de novo? Que poderá ser melhor ou pior do que têm tido. Volto ao aluno que tem o exame pela frente e neste caso os alunos são os sócios: estudem. Perguntem. Reflictam. Informem-se. Apliquem-se. Saibam e entendam bem os rumos que o clube pode seguir daqui a um mês e votem em consciência. Não podemos falhar. Juntos temos que voltar a levar o Benfica ao topo. É a nossa obrigação como guardiões do maior clube Português."

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