"Não há como fugir ao tema do momento da mesma forma que a comunicação social tantas vezes foge a questões de índole discriminatório.
Nenhum ser humano com o mínimo de bom senso pode tolerar comportamentos racistas. O racismo é indecente, cruel e nojento. Seja no centro comercial, na praia ou na bancada de um estádio de futebol. Seja num jogo do FCP, do Benfica ou do Young Boys. Seja com Marega, o Nélson Semedo ou o Eusébio. Naquele momento, enquanto regressava a Braga de carro pela autoestrada, senti-me mal. Primeiro, porque o comentador disse que o Marega tinha marcado, e percebi que o jogo já não estava empatado. Depois, porque percebi o contexto e senti-me mal pelo jogador - sendo certo que não experimentei nem um pouco da revolta que o dominou. Infelizmente, creio que o verdadeiro problema é ainda mais profundo do que apresenta. No meio deste triste episódio, esta parece-me uma excelente oportunidade para debatermos um assunto tantas vezes ignorado ou, pior, gentilmente consentido: o ódio entre adeptos. É debaixo deste elo nocivo que centenas de cobardes fomentam ofensas verbais e físicas de forma gratuita. O ponto de origem destes incidentes é óbvio, contudo o silêncio e o assobiar para o lado dos agentes que têm o dever de os condenar, leia-se media, não facilita a sua extinção. O Marega não foi insultado por causa da cor de pele. O Marega foi insultado porque um bando de adeptos estava mais preocupado em insultar um adversário do que apoiar a própria equipa. Enquanto este ADN não for reprovado, pouco pode melhorar. O racismo é nojento, tal como a cultura e modo de estar de boa parte dos adeptos de futebol."
Pedro Soares, in O Benfica
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