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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Catar 2022

"Já não é a primeira vez que nestes artigos se refere o perigo para o futebol constituído pelos contentores de dinheiro que em cima dele são despejados por países, empresas e multimilionários (como os oligarcas russos por exemplo), que vêm para a modalidade com o fito exclusivo do negócio e sem qualquer interesse no seu desenvolvimento harmonioso.
Quem hoje olhar para alguns dos principais clubes mundiais, do Barcelona ao PSG, do Real Madrid ao Manchester City, do Arsenal ao Chelsea constata sem qualquer dificuldade a presença dessa abundância de dinheiro, proveniente dessas fontes inesgotáveis, e apercebe-se também de como isso está paulatinamente a desequilibrar alguns dos principais campeonatos europeus.
Se assim é com os clubes então que dizer das entidades UEFA e FIFA e da sua característica avidez por dinheiro que as levam a inventar provas, a fazerem tábua rasa do mérito desportivo (faz algum sentido a Liga dos Campeões poder ser ganha por um clube que tenha ficado em terceiro ou quarto lugar no respectivo campeonato?) a atribuírem prémios com base em critérios comerciais e não desportivos.
Na FIFA, que é o tema do artigo de hoje, essa tendência vem desde 1974 quando o seu presidente ao longo de treze anos -Sir Stanley Rous- um antigo futebolista amador e árbitro internacional perdeu as eleições para João Havelange muito por força dos votos da CAF a quem o dirigente brasileiro prometeu mais lugares nas fases finais dos mundiais.
E se é verdade que ao longo dos vinte a quatro anos em que presidiu à FIFA Havelange deu ao futebol uma dimensão global e um mediatismo que até então não tinha tido é igualmente verdade que foi no seu tempo que o futebol foi assaltado por negócios estranhos, jorros de dinheiro de proveniência suspeita e um conjunto de decisões que se desconfiam influenciadas pelo dinheiro e não por critérios desportivamente admissíveis. Nomeadamente muitas histórias em volta das escolhas de países para sediarem as fases finais dos mundiais.
Havelange deixou a FIFA em 1998 e sucedeu-lhe um pirata de muito razoável dimensão chamado Sepp Blatter que, não repetindo o que Havelange fizera de bom, agravou tudo que ele fizera de mau exponenciando até limites então insuspeitos todas as desconfianças em torno dos estranhos negócios da organização durante os desgraçados dezassete anos em que foi seu presidente. E assim chegamos à escolha do Catar para sede do Mundial 2022.
Um país com a dimensão do distrito de Beja, com uma população ligeiramente superior à área metropolitana de Lisboa (cerca de 75% são emigrantes) , sem qualquer tradição ou entusiasmo pelo futebol, sem um único jogador que alguma vez tenha tido notoriedade, com um campeonato sem qualquer interesse e, por último, mas muito importante, com um clima absolutamente impróprio para a prática da modalidade.
Mas é um dos países mais ricos do mundo! E, com base nessa riqueza, está a construir oito magníficos estádios - dos quais seis (!!!) em Doha a capital do país -, inúmeras estruturas nomeadamente uma linha de metropolitano que ligará todos esses recintos, estradas, autoestradas e inúmeros edifícios de apoio ao Mundial. Nesse aspecto o Mundial será seguramente um sucesso.
Mas foi também essa riqueza sem fim que se suspeita terá permitido ao Catar comprar os votos na FIFA que lhe garantiram ser a sede do Mundial de 2022! Fosse ou não assim o certo é que o Mundial será lá entre 21 de Novembro e 18 de Dezembro de 2022 e , contrariamente ao que sempre aconteceu, não se disputará no início do verão mas sim em pleno outono quase inverno por força do clima já referido que impossibilita que no verão se disputem desportos de alta competição ao ar livre face a temperaturas regularmente acima dos quarenta graus.
Sendo certo que embora a colossal riqueza tenha permitido que todos os oito estádios disponham de ar condicionado a realidade é que mesmo com esse luxo não é possível, sem grave risco para a saúde dos atletas, disputar jogos nessa época do ano. E foi assim que,em nome do negócio, e não do futebol, a FIFA decidiu que o Mundial se dispute nas datas referidas e não no final de época do futebol europeu como sempre aconteceu ao longo de sucessivos mundiais.
Terá a vantagem , única, dos jogadores estarem mais “frescos” com poucos jogos nas pernas ao contrário do que acontecia noutros mundiais em que os participantes que disputavam os principais campeonatos europeus chegavam ao mundial a pedir férias. Mas fora isso vai causar, penso eu, graves transtornos ao futebol europeu com consequências difíceis de prever a esta distância.
Vejamos: As selecções europeias, entre as quais Portugal, assim se espera, têm de ter um período de preparação que habitualmente anda entre três e quatro semanas, o que significa que todos os campeonatos com países apurados terão de ser suspensos no final de Outubro. Ou seja, os campeonatos começam como habitualmente em Agosto, a Liga dos Campeões e a Liga Europa também (mas nesses casos será menos difícil resolver), e depois no final de Outubro tudo tem de parar por causa do Mundial. Consoante o percurso de cada Selecção, é certo que aquelas que chegarem a fases mais adiantadas fazem os respectivos campeonatos correrem o risco de se reatarem apenas em Janeiro de 2023 por causa do período natalício.
Portanto, os clubes ficarão sem competir o mês de Novembro (nalguns casos também as primeiras semanas de dezembro) o que trará claros problemas de planificação da época porque não só terão menos um mês para disputa das competições internas e externas (para alguns), como também terão jogadores parados em termos de jogos oficiais.
A solução óbvia será necessariamente estender a época até finais de Junho de 2023 mas também isso terá impacto nas épocas seguintes como está bom de ver.
O Mundial de 2022 será não no final da época 2021/ 2022 como seria normal, mas já em plena época 2022/2023 o que significa que terminando a actual época 2019/2020 ainda haverá mais duas épocas completas antes daquela em que se disputará o Mundial. O que significa que há tempo para preparar devidamente as coisas de molde aos transtornos serem o mais minimizados quanto seja possível. E é bom que FPF e LPFP estejam bem atentas a essa realidade porque mais vale prevenir do que remediar."

1 comentário:

  1. Começando por reduzir o disparatado número de equipas na 1ª divisão.
    Diminuindo assim as jornadas a disputar.

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