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segunda-feira, 1 de julho de 2019

O nosso Mágico...

"Valdo iniciou em 2019 uma nova aventura: é seleccionador do Congo Brazzaville. Pretexto para falar da carreira de treinador, das referências na profissão e, claro dos inesquecíveis tempos passados ao serviço do Benfica, ao lado de «tantos, tantos amigos», com os quais mantém contacto num animado grupo de WhatsApp.

Porto Alegre - Como é que o Valdo, nascido no estado de Santa Catarina, com forte ligação a Porto Alegre, a Paris e, claro, a Lisboa, foi parar ao Congo?
- O convite para vir para o Congo surgiu de um amigo francês que trabalha na Nike que, em conversa, me perguntou se eu tinha interesse em trabalhar em África. Eu respondi que não só tinha como era o meu sonho levar uma equipa africana a um Mundial. Ele disse-me que tinha influência no Congo Brazzaville [também chamado de República do Congo], apresentou-me a algumas pessoas, fui convidado a ir à Festa da República, um torneio de futebol, as coisas ficaram alinhavadas logo ali e quatro meses depois eu desembarcava em Brazzaville.

- Mora em Brazaville ou consegue estar em Lisboa com a família e ir ao Congo só quando necessário?
- Resido no Congo. Já há cinco meses que não vou a casa, em Lisboa, é a parte mais difícil, ficar longe da minha esposa Marta e da minha filha Yara. - Quais são as referências como treinador? Em Portugal especificamente? - Em Portugal, Toni foi o melhor que tive em todos os sentidos, sem dúvida nenhuma. Artur Jorge, entretanto, foi o que conseguiu tirar de mim coisas que eu nem sabia que era capaz de fazer no Paris Saint-Germain, esses dois, com duas maneiras diferentes de trabalhar, são muito importantes na minha carreira, duas pessoas com quem aprendi muito. Depois tive um treinador emblemático, carismático, o nosso paizão e amigo, que Deus o tenha, mestre Mário Wilson. De facto, Deus foi generoso comigo. Essas pessoas ajudaram a ser o que eu sou hoje e ajudaram-me a ser um bom jogador de futebol, não digo um fora de série...

- A sua última experiência foi na Argélia, como adjunto de Artur Jorge no Mouloudia Clube d'Alger, em 2014/15?
- Eu tive o privilégio e o prazer de trabalhar com o professor Artur Jorge na Argélia, como seu adjunto, e depois, com a subida do professor para general manager, eu fiquei mais designado para a função do campo. Éramos quatro portugueses ou, se você quiser, três portugueses e um brasileiro, eu, o Artur Jorge, o Raul Águas e o (Luís) Matos, treinador de guarda-redes

- E o Benfica, continua uma paixão?
- Quando se fala de Benfica comigo, eu tenho de me pôr de pé, porque tive um privilégio, uma bênção realmente de jogar nesse grande, grande, grande clube chamado Sport Lisboa e Benfica. O telefone que não para de apitar.

- Correu bem?
- Foi uma experiência muito gratificante, estreitei ainda mais amizade, o respeito e consideração pelo professor Artur Jorge e foi ali, por outro lado, que tive a certeza absoluta de que queria seguir essa vida de treinador. Uma vida que não é nada fácil mas é apaixonante.

- Falou em Artur Jorge, está a começar definitivamente uma nova carreira como treinador. Qual a sua maior referência na profissão?
- É complicado, é como eleger o melhor mundo, sempre tem alguém que fica para trás, que merecia.

- Arrisque um ou dois.
- O que posso dizer é que nessas andanças de 20 anos de profissional eu tive grandes treinadores e que de acda um guardo uma aprendizagem. Joel Passos, no Figueirense, quando eu era júnior, em 1981, e que me colocou logo aos 15 no plantel profissional, com quem aprendi bastante. Depois apanhei o Paulo Lunununha, ainda na base do Grêmio, que ensinou muito também...

- E nos seniores?
- Muita coisa... Tive Luiz Filipe Scolari, tive Leôncio Abel Vieira, tive Carlos Alberto Silva, tive Sebastião Lazaroni, tive Carlos Alberto Parreira, tive Mário Zagalho, tive grandes, grandes treinadores. Mas quem marcou a minha carreira e a minha vida, o primeiro a dar-me uma oportunidade e de quem recebi muitos conselhos foi o tricampeão brasileiro pelo Internacional, por acaso rival do Grêmio, o mestre Rubens Francisco Minelli. Aprendi muito, mas muito mesmo. Otacílio Gonçalves da Silva Junior, conhecido por Chapinha, também me ensinou tanto... esses dois marcaram-me muito.

-...
- Espere... O Levir Culpi também. Não sei se posso dizer que foi o melhor mas, se não foi, andou perto, juntamente com esse lote. Aprendi muita, mas muita coisa, já tinha jogado contra ele, ele em final de carreira, mas depois tive o privilégio de ser treinado por ele no Cruzeiro, um grande Cruzeiro de 1998, e depois no Botafogo, onde conseguimos resgatar o clube da segunda divisão para a primeira. A todos esses mestres o mau mais profundo respeito, o meu mais profundo agradecimento.

- E em Portugal especificamente?
- Em Portugal, Toni foi o melhor que tive em todos os sentidos, sem dúvida nenhuma. Artur Jorge, entretanto, foi o que conseguiu tirar de mim coisas que eu nem sabia que era capaz de fazer no Paris Saint-Germain, esses dois, com duas maneiras diferentes de trabalhar, são muito importantes na minha carreira, duas pessoas com quem aprendi muito. Depois tive um treinador emblemático, caristmático, o nosso paizão e amigo, que Deus o tenha, mestre Mário Wilson. De facto, Deus foi generoso comigo. Essas pessoas ajudaram-me a ser o que eu sou hoje e ajudaram-me a ser um bom jogador de futebol, não digo um fora da série...

- Mas quem o viu jogar sabe perfeitamente que isso não é verdade: era sim um fora de série.
- (faz uma pausa)... Um bom jogador, um bom profissional. Esses que citei e outros que em esqueci formaram-me como homem e isso não tem preço, por isso, sempre que precisarem eu estarei presente não importa a situação, o meu muito obrigado por esses ensinamentos a eles e ao meu bom Deus por me ter dado esses pequeno dom de ter sido bom jogador de futebol.

- E o Benfica, continua uma paixão?
- Quando se fala de Benfica comigo, eu tenho de me pôr de pé, porque tive um privilégio, uma bênção realmente de jogar nesse grande, grande, grande clube chamado Sport Lisboa e Benfica.

- Tinha uma grande equipa logo que chegou, os brasileiros, os suecos, os portugueses...
- Foi um privilégio chegar ao clube em 1988/99, com jogadores extraordinários, como Jonas Thern, Mats Magnusson e Stefan Schwarz, os suecos, o Manuel Bento, o Vítor Paneira, o Pacheco, o Mozer. E o Ricardo Gomes, o Aldair, o Elzo, depois chegou o Ademir Alcântara, havia os angolanos, o Vata e o Abel Campos. Ah, e havia o Neno, para não falar em Veloso, em Álvaro, em Chalana. E o Diamantino, o César Brito, era um lote de jogadores e pessoas extraordinárias.

- Passado tanto tempo guarda sobretudo boas recordações desse tempos?
-Guardo, claro! De eles todos! Independentemente do nome ou de ter havido uma diferença ou outra enquanto jogadores, mantenho contacto com todos eles e temos até um grupo de WhatsApp de ex-atletas do Benfica, que tem um problema.

- Qual é o problema?
- É que o telefone apita a toda a hora porque os jogadores andam espalhados aí pelo mundo inteiro, cada um com o seu fuso horário!

- Gostou tanto que voltou à Luz anos depois.
- Para a segunda passagem voltei, em primeiro lugar, porque sou benfiquista e, em segundo, porque que sempre me chamou a atenção, com o qual tive o privilégio, e prazer de jogar, o pequeno génio João Vieira Pinto. Esse, realmente, foi um jogador extraordinário e por isso não me arrependo nada de ter voltado pela segunda vez porque tive o privilégio de jogar com o João Vieira Pinto e de voltar para o meu Benfica!

- Foi uma altura, a sua na Luz, em que o Benfica estava, de facto, repleto de craques.
- Por isso fui e sou muito feliz.

- O futebol português mantém a mesma qualidade?
- Eu às vezes fico triste porque escuto críticas sobre o futebol português, incluindo sobre o Benfica, porque as pessoas desconhecem a grandeza do clube, desconhecem o quanto é difícil vencer um campeonato português, o quanto é difícil bater as equipas consideradas pequenas, que de pequenas não têm nada, só têm o nome.

- Sente-se quase tão português como brasileiro já?
- Considero-me mais português do que brasileiro e as pessoas também me consideram assim porque já faz 31 anos que estou em Portugal. E; aproveitando a oportunidade de A Bola, queria mandar uma mensagem para Portugal: estou chegando e morrendo de saudade do país, da minha família. Quanto ao Brasil, bem, apesar de todos os problemas continua a ser um país lindo.

Há 30 anos ganhou a Copa América
Porto Alegre - Estamos a meio de uma competição, a Copa América, que Valdo jogou e ganhou em 1989, numa edição muito conturbada: «Tive o privilégio de disputar a Copa América e tive ainda a graça divina de ser campeão da Copa América logo no meu país. Realmente é único, gratificante». Mas o início dessa Copa América não foi fácil: «Não, houve bastante turbulência, mas, como o piloto era bom, o avião chegou e todos chegaram com ele, são e salvos. Houve vários porque os adeptos, quando se trata do Brasil, querem espectáculo a toda a hora, a todo o minuto, e todo o segundo e isso nem sempre é possível. Mas o povo brasileiro é assim, apaixonado pelo futebol, exigente para com os atletas e por vezes passa os limites. Nos jogos em Salvador o caso teve de tudo, até (...) no Renato Gaucho, vaias, xingamento (a torcida não se conformou com o veto a Charles, craque do Bahia) mas no final deu tudo certo».

Aconselhou Rui Costa como sucessor
O Paris Saint-Germain não queria perder um dos melhores jogadores da sua história. Então pediu a Valdo a gentileza de, pelo menos, aconselhar um herdeiro no futebol brasileiro antes de voltar ao Benfica, em 1995: «Queriam alguém que me substituísse, pediam-me conselhos sobre algum jogador
brasileiro que se assemelhasse a mim no estilo». A resposta do brasileiro surpreendeu os parisienses: «Eu disse que não era preciso ir tão longe. Disse-lhes que havia um puto, como nós dizemos em Portugal, com todas as condições, com todo o potencial para pegar o camisola 10 e com certeza ter muito sucesso e ser um dos grandes nomes do futebol português e mundial. E acertei em cheio, chamava-se Rui Costa».

Vata, o pior condutor do mundo
Porto Alegre - «O jogador mais engraçado daquela equipa do Benfica era o Vata, era com ele que tudo o mundo fazia piada, que todo o mundo xingava, que despertava muito carinho, uma maravilha», lembra Valdo. E se marcar golos era o forte do angolano, guiar automóveis, pelo contrário, era o seu ponto fraco. Para alegria dos colegas: «O querido Vata, com o seu sotaque angolano, era mau condutor, péssimo, o pior do mundo, aliás. Nós deixávamos que ele chegasse primeiro e depois estacionávamos um à frente e outro atrás dele. Como ele não sabia fazer marcha atrás correctamente, ficava sempre ali numa dificuldade (risos). Às vezes nós estávamos a treinar ainda no campo e ele tinha que nos chamar para tirar o carro, pois não conseguia sair...»"

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