"Ao contrário do que acontece com outros temas, sempre acompanhei a UEFA na resistência que, durante muito tempo, mostrou ao uso das tecnologias no futebol. Por feitio, que umas vezes com razão, outras sem ela, me faz desconfiar de quase tudo o que é novo, mas também por temer que em nome de uma qualquer verdade matemática se viesse a estragar um espectáculo apaixonante, e do qual o erro sempre fará parte. Com a aplicação do VAR no futebol português, quase mudei de opinião. Afinal, talvez as quebras de ritmo pudessem ser compensadas por um maior acerto nas decisões dos árbitros. Talvez houvesse menos polémica, e mais justiça. Não foi preciso muito tempo para que o meu cepticismo regressasse.
Esta temporada está a deixar claro que o VAR, em vez de ferramenta de rigor, por ser também ferramenta de manipulação. Um golo pode ser anulado, ou não, por um sopro a meio-campo dezenas de segundos antes de a bola entrar na baliza. Um penálti pode ser assinalado, ou não, por um dedo roçar numa camisola dentro da área - situações que outrora eram tacitamente ignoradas para todos. E isto acontece, ou não, ao sabor dos desejos de quem decide, no campo e a quilómetros de distância. Já nem sei como festejar um golo. E, pior que isso, continua a haver beneficiados.
Muitos lances têm múltiplas interpretações, por isso são tão discutidos pela semana dentro. O VAR, tal como existe, apenas veio acrescentar mais lances para discussão e menos tolerância ao erro. Logo, mais polémica, e não mais verdade.
Ou muda (e não me perguntem como), ou então acabem-se com ele. Como está, manifestamente não serve."
Luís Fialho, in O Benfica
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