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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Campeonato: quase tudo 'à condição' (até Jonas...)

"Admiro bastante Jonas e recebi com natural satisfação a notícia da sua continuidade, mas não havia necessidade do tempo de (in)decisão

1. Começou o campeonato nacional, como gosto de continuar a dizer apesar de saber que agora se intitula liga. E, compulsivamente, vai começar também o tudo e mais alguma coisa 'à condição...0, esse modismo de erro linguístico (o 'à') e de insuficiência argumentativa (que condição?). Eu, por exemplo, posso sempre dizer que escrevo 'à condição'. Poder-me-ão perguntar, qual é a condição. Respondo tal e qual como se usa no futebol: simplesmente 'à condição'.
Continuando neste condicionalismo incondicional do 'à condição', na noite de sexta-feira, depois da vitória do Benfica sobre o Vitória de Guimarães, virei-me para a minha neta mais fervorosamente benfiquista e disse-lhe que, naquele momento, o Benfica era o campeão 'à condição' e Pizzi era (e ainda é) o 'Bola de Prata', também 'à condição'.
'À condição', na sexta-feira passada, vários profissionais deste jornal revelaram o seu prognóstico classificativo para este campeonato. O Porto com mais votações para campeão, seguido do Benfica e até do Sporting. Não sei qual a condição (ou as condições) para tais palpites, mas achei curioso que um dos respondentes tenha colocado o Benfica na 4.ª posição, precedido pelo campeão que seria o Sporting, pelo Porto e pelo Sp. Braga. Cá estaremos, no fim da caminhada, para confirmar ou infirmar tão preclaro prognóstico, nessa altura já sem quaisquer devaneios de 'à condição'. Por mera curiosidade, fui ver quem comentou o jogo Moreirense - Sporting e verifiquei que era o mesmo jornalista, Nuno Saraiva Santos (não confundir com um outro Nuno Saraiva desaparecido em combate). A sua crónica iniciou-se deste modo: 'Começou uma nova era no Sporting. Com esforço, com dedicação, com glória. Pela mão de José Peseiro (...) que saiu justamente em ombros'. Profético, sem dúvida.
Ainda a propósito da expressão com que iniciei esta crónica, felicito A Bola por, finalmente, ter deixado de publicar os sempre aguardados 'Cadernos de A Bola' no início do mês de Agosto. De facto, com a informação disponível até essa altura, líamo-la em Setembro, já desactualizada pela efervescência do inexplicável defeso num tempo em que já se joga em toda a parte. Assim, a disponibilização na primeira semana de Setembro é bem-vinda porque como se lê no seu anúncio, passará a ser «o único guia de futebol sem enganos para 2018/2019», ou seja, sem ser 'à condição' da superveniente transumância clubista medida em euros.
Ainda no capítulo do nosso idioma, eu que, menino e moço, aprendi a dele gostar por via do puro e brilhante português que me habituei a ler neste jornal, dói-me a alma deparar, agora, com erros de palmatória como aconteceu, na segunda-feira (página 10), com o título «Polícia interviu» em em vez de «Polícia interveio».

2. Hoje (ontem) o Benfica jogou na Turquia a segunda mão de uma eliminatória preliminar de acesso à Liga dos Campeões. Também desta vez escrevo antes do resultado, mas não 'à condição', depois de ter ganho por 1-0 em Lisboa, desfecho que tem tanto de sucesso relativo como de insucesso diferentemente relativo.
O jogo inaugural do campeonato mostrou-nos o Benfica no seguimento da época passada: bipolar, capaz de tempos de excelência, alternando com desesperantes momentos de apatia ou de desconcentração. Os jogos duram 90 minutos e há sempre outra equipa a jogar. Tão simples como isto. Contra o Vitória de Guimarães uma magnífica primeira parte a rondar a goleada e uns penosos 20 minutos finais com um futebol inconsequente e baço. Não me parece que seja um problema físico porque, além de bipolar, o futebol encarnado é alternante: umas vezes é na primeira parte que se joga melhor, outras tantas acontece na segunda metade. Eu, observador leigo quanto baste, gostaria que alguém me explicasse por que razão isto acontece com inusitada frequência.
Neste jogo, houve um ponto que explica, mas não justifica, a recuperação do Vitória (não desmerecendo a boa atitude desta equipa): as substituições, em particular a de Fejsa. Está visto que sem ele no relvado, não há substituto à altura, ainda que pense que, do mal a menos, Samaris é o que melhor o faz.
Gostei bastante de Gedson Fernandes. Joga com maturidade superior à ideia, tem capacidade física e técnica para desenvolver e, em relação a Renato Sanches, talvez perca no confronto das cavalgadas que lhe vimos no SLB, mas ganha na consistência e maior regularidade ao longo de todo o tempo.
Por fim, o sistema de jogo. Sei que não tenho competência para discutir, como leio e ouço alguns sábios, a maior ou menor valia de 4-3-3, 4-4-2 ou 4-1-4-1 ou ainda outro qualquer. Todavia, parece-me que jogar com um só ponta-de-lança nem sempre se adequará às características dos jogadores ou de cada jogo concreto. Julgo que, por exemplo, Facundo Ferreyra é bom jogador, mas perdido lá à frente e afastado de alguns municiadores, é presa fácil para defesas fortes. O mesmo acontecia quando, antes, jogava só Jiménez ou Mitroglou. Até por isso, gostei da noticia da continuação de Jonas no Benfica. Criou um bom problema que antevejo como interessante para Rui Vitória resolver (e já agora para rendibilizar salários elevados de três atacantes, já não contando com o suíço).

3. Jonas fica, Jonas sai. Houve de tudo nesta longa e talvez escusada 'estória'. A comunicação do Benfica deixou-se adormecer (ou enternecer?) perante tanta notícia e contra notícia, quase tudo - creio - em versão lusa de fake news. Ele era a Arábia, ele era o Al-Nassr, ele era o ministro saudita do desporto que o queria desviar para o Al-Hilal, ele era um ou mais clubes chineses, ele era Scolari em trânsito para o Brasil, ele era o Palmeiras e mais uns tantos clubes falidos do Brasil. Ele era o ordenado do Facundo que deveria ser o segundo. Ele era o mano do Jonas, por sinal seu empresário (!). Ele era a gravidez da mulher. Ele era o Pai e a família. Ele era o problema das costas. Ele era a cervicalgia. Ele (não) era nas conferências de imprensa do treinador. Uf!
Mas, pronto, tudo se resolveu. Um beijo no emblema, uma folha salarial bastante melhorada, trabalho até aos 36 anos, as costas tratadas. Admiro bastante Jonas e não cometo a ingratidão de esquecer o quão decisivo foi nestas suas quatro brilhantes épocas ao serviço do meu clube. Penso, aliás, que se Jonas estivesse apto nas últimas e decisivas jornadas no último campeonato, talvez o Benfica tivesse alcançado o pentacampeonato. Por isso, recebi com natural satisfação a notícia da sua continuidade no plantel encarnado. Mas não havia necessidade de todo este longo e demolidor tempo de (in)decisão. Agora, tudo clarinho, Jonas é grande reforço, mas 'à condição' das suas costas. Têm a palavra o médico e o fisioterapeuta.

Contraluz
- Eleições: No Sporting (os sportinguistas que me desculpem escrever a vermelho o nome do clube...). Muitos candidatos, ainda que nem todos iguais, num período em que Sousa Cintra vem fazendo com a eficácia possível o seu trabalho. Eu, se fosse sportinguista, votaria no candidato que há mais tempo percebeu o que se passava na anterior direcção. E nunca em candidatos ou ajudantes que, coitados, só na 25.ª hora entenderam tudo, depois de abraços, beijos, declarações de amor (algumas em jeito de capataz) a toda a hora e mesmo depois da célebre AG de Fevereiro.
- Notável: o feito de Inês Henriques, agora campeã mundial e europeia de 50 Km Marcha, e de Nélson Évora, que juntou o europeu aos títulos olímpico e mundial. Exemplos de perseverança, muito trabalho e capacidade de sacrifício.
- Dispensável: A 'bicada' de Nélson Évora no seu colega de profissão Pedro Pichardo, cubano, naturalizado português em 2017, e que compete pelo SLB, tendo-lhe vencido os últimos confrontos directos. «Comprar atletas, naturalizar atletas... isso é ridículo», observou Évora após mais uma notável medalha de ouro. Nunca o vi dizer o mesmo do antes nigeriano Obikwelu e de outros companheiros naturalizados. E o próprio Nélson Évora nasceu na Costa do Marfim, foi cabo-verdiano e naturalizou-se português aos 18 anos, já competindo antes..."

Bagão Félix, in A Bola

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