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sábado, 14 de abril de 2018

Era mesmo com esta faísca

"A “Romantada” contra o Barça e a réplica da Juventus no Bernabéu emocionaram muita gente e as noites europeias precisavam desta faísca. E, em bom rigor, o conjunto de Allegri não nos desiludiu na discussão de uma eliminatória que parecia condenada. Sem o génio e os repentes de Dybala, as zebras agilizaram-se com a corpulência de Mandzukic e com a presença mais firme resultante da linha de três centrocampistas que faltou no jogo em Turim. O desenho de Allegri, agora com a manobra tecnicista de Pjanic, potenciava as invasões de Khedira e Matuidi, tanto que o ‘toulousain’ incorporou a zona de finalização em todos os três golos dos ‘bianconeri’.
Verdade seja dita, a Juventus explorou bem o facto de o Real não ter defendido bem os flancos. Isco defendia centrado, para impedir a fluidez da construção de Pjanic, mas não houve, na primeira parte, Asensio e Lucas Vásquez para ajudar Marcelo e Carvajal com mais proximidade nas faixas, como na fórmula do Parque dos Príncipes. E não defendendo bem os flancos, possibilitou-se que Khedira e Lichtsteiner tivessem efectuado cruzamentos para o gigante croata, situação que iria sempre vulnerabilizar a defesa do Real no domínio físico. Allegri ia jogar de acordo com o perfil de Mandzukic. E o Real não atentou tanto a esse detalhe na primeira parte.
O momento mais badalado do jogo, amplificado com os protestos descontrolados de Buffon, aconteceu nos instantes finais, quando Michael Oliver assinalou penalty a favor do Real, por falta cometida por Benatia sobre Vásquez. Embora toda a discussão tivesse gravitado em torno da leitura do árbitro – e, na minha leitura, a falta de Benatia existiu – acreditem que o mais inquietante foi a acumulação de tantos erros na estrutura defensiva da Juventus só naquela jogada.
Todos os ‘bianconeri’ estavam afundados no terço mais recuado, sem se posicionarem em camadas. Kroos, livre de pressão, libertou à vontade para Cristiano, que ia naturalmente ganhar a bola pelo ar a Alex Sandro. Repararam na distância entre Chiellini e Benatia, os dois defesas-centrais? Por alguma razão o marroquino vinha bem atrás de Vásquez na caça da bola. Porque o posicionamento inicial era incorrecto e também porque, antes disso, Alex Sandro não tinha a referência habitual (Chiellini) perto dele para colaborar mais convictamente na armadilha de fora-de-jogo. O brasileiro perdeu as hipóteses de sobrevivência quando deixou que Cristiano encostasse nele, em posição legal.
Oliver decidiu bem. Depois disso, foi barulho até dizer chega. Buffon passou-se e, ao ver aquelas imagens, lembrei-me daquilo que aconteceu em Turim há vinte anos, a 26 de Abril de 1998, no famoso Juve v Inter que praticamente decidia o ‘scudetto’. Só houve uma diferença: a decisão de Ceccarini, o árbitro desse Derby d’Italia, foi errada, pois deixou seguir em vez de ter assinalado falta de Mark Juliano sobre Ronaldo na área da Juve. Por acaso, logo na resposta imediata, a Juventus contra-atacou e Taribo West derrubou Del Piero na área ‘interista’. Aí, Ceccarini assinalou penalty e podem imaginar como fez inflamar os 'nerazzurri'... Por acaso, o ‘Pinturicchio’ falhou a conversão, mas o Inter continuou a sentir-se escandalizado. Até hoje...
De qualquer forma, o terramoto já era incontrolável após o lance de Juliano com o Fenómeno, ainda hoje recordado como um dos episódios mais icónicos da história do ‘calcio’ e que até motivou pancadaria no parlamento italiano entre deputados. A Juve tinha Zidane a ‘trequartista’ e sagrar-se-ia campeã em detrimento da equipa de Gigi Simoni, muito em função dessa vitória por 1-0 no Delle Alpi com um bom golo de Del Piero na baliza de Pagliuca. Foi um autêntico encontro de gladiadores. O ‘Cholo’ Simeone, que era dos que mais apoiava Djorkaeff e Ronaldo no ataque, passou o tempo envolvido em despiques violentos com Davids, mas acabou por ser Zé Elias a ver o vermelho por agressão a Deschamps.
Eram jogos com faísca, aqueles da Serie A daquela época. E vimos alguma coisa nesta semana de provas europeias. Convenhamos é que Buffon deu um pouco habitual "frango", tanto pelos protestos exagerados no lance capital, como pelas declarações proferidas na zona mista em que troçou o árbitro. Oliver decidiu bem e ponto final."

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