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terça-feira, 1 de agosto de 2017

Coisas que vêm absolutamente a propósito

"Volta e meia, arquivamento cúmplices voltam à superfície comportamentos criminosos que alguns fazem o possível para esconder e esquecer. Mas a memória não prescreve!

momentos assim: cruzamo-nos com coisas absolutamente a propósito. Uma decisão de um Conselho de Disciplina. Uma tentativa de relativizar um comportamento criminoso. Um jeito especial para o revisionismo.
Nada parece ser o que foi.
As escutas estão aí para quem as quer e para quem não as quer ouvir.
Mas não vejam agora ilegalizadas, elas que foram autorizadas dentro de toda a legalidade.
Explique-se, de uma vez, para quem não entende: apenas não são válidas em sede de Processo Disciplinares.
Há dúvidas que restem???
Lembrei-me de um filme realizado por João Botelho que, depois, passou a não ser realizado por João Botelho.
Porque houve um produtor que procurou silenciá-lo.
Acreditem: há ainda muita gente que se esconde nas sombras canalhas da saudade de uma sociedade fascistas e castradora.
O filme baseava-se num livro.
O filme chamava-se Corrupção.
Lembram-se? Corrupção!
Uma vontade de esconder
Era a imagem ficcionada de uma realidade autêntica. Nomes trocados, como é natural, este também é um país judicialista no qual os processos se arrastam nos tribunais por tudo e por nada, mas sobretudo pela incompetência de muitos juízes.
Actores conhecidos, actores com nome na praça.
Um filme de personagens sinistras, de tempos sinistros.
O futebol como pano de fundo.
Dirigentes sem escrúpulos, árbitros comprados à custa de prostitutas, de viagens ao Brasil. Investigações concludentes que desaguam na areia das praias processuais de areia mole e pantanosa.
Denúncias que muitos pretendem ignorar.
Gente perseguida, gente espancada.
O espectador olha e vê: o mesmo país, as mesmas caras, os mesmos velhacos quase analfabetos, os mesmos xicos-espertos com as suas aldrabices e tranquibérnias.
Um mundo sub-mundo.
Tragam a verdade à superfície!
Arrastem-na pelos cabelos até ao sol claro do dia, retirando-a dos caminhos sinuosos da noite.
Jogadores aliciados, treinadores subvertidos.
O chefe-Capone de uma banda filarmónica de velhos obscuros.
Um simbolismo transparente.
Como Alice do outro lado do espelho.
Levantaram-se os obstáculos. Ergueram-se as trincheiras. Há sempre quem erga uma trincheira contra uma vida nova, lavada.
Facto, não é possível ainda ter um país que fuja à sua intrínseca pequenez. Pequeno país de grandes corruptos. País pobre rico em canalhas.
Querem negar a realidade? Esconder o que não pode ser escondido?
Esconder aquilo que todos conheciam e, de repente, surgiu às claras, na sua infinita porcaria quase pornográfica?
Uns teimam em esconder, outros teimam em revelar.
Até quando este braço de ferro de teimosia?
'Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém alguém que diz não'.
Silêncios convenientes, arquivamentos cúmplices.
Na sombra desprezível, sempre a mesma ironia sórdida.
Há gente que se ri da seriedade dos outros.
Só que, como dizia Iva Delgado, 'a memória não prescreve',"

Afonso de Melo, in O Benfica

1 comentário:

  1. Pois não prescreve, a memória. E não prescreverão as velhacarias que enlamearam o clube das quengas até ao pescoço. Dessa lama em que fossaram e se rebolaram não se livrarão, nem que decorram séculos.

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