"Caro general Armando Nhaga, há coisas no futebol português que parecem bruxaria. Eu sei que você já esclareceu que não tem nada a ver com essas coisas, é só um desabafo. Como se já não bastasse o estado do nosso futebol, no defeso falou-se mais de e-mails do que de reforços, o que aumenta o nível de alerta e preocupação quando se aproxima o arranque da competição. Estamos, cada vez mais, à beira do abismo. Estou preocupado, como adepto, e temo que agora só as forças do oculto possam livrar-nos do mau olhado. Da minha parte, se eu fosse presidente da Liga e você bruxo, acordava consigo um contrato de prestação de serviços segundo o qual você receberia um valor chorudo por cada jornada da Liga 2017/18 sem polémica, mas calculo que não teria interesse em aceitar um trabalho em que muito dificilmente poderia ter sucesso. É como pedir à gelatina que pare de tremer, eu sei. Para mais, além do elevado risco de insucesso, a tarefa iria exigir-lhe muita dedicação, sem direito a folgas e distracções, para não acontecer o mesmo descalabro do Dortmund-Benfica (4-0).
É evidente que, como o caso é grave, se eu fosse presidente da Liga e você bruxo, não teria reservas em contratar alguém com provas dadas para o ajudar. O mestre Alves ou o bruxo de Fafe, por exemplo. Mesmo o nível internacional há especialistas de renome como o espanhol Pepe (o tal que um dia lesionou Ronaldo). Se mesmo assim não chegasse, meteríamos voluntários em cada estádio a fazer buracos na relva, a espalhar aguardente, sal e alhos, a soltar galinhas, sapos e pombos. Se tudo isto falhasse, então sim tentaríamos pedir bom senso e fair play aos nossos dirigentes. Porque no fundo, eles, você e eu queremos todos o mesmo: um futebol português firme e hirto como uma barra de ferro. Lá dizia o bruxo Alexandrino."
Gonçalo Guimarães, in A Bola
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