"Na segunda-feira assinalou-se os 25 anos sobre a morte de Salgueiro Maia, talvez o herói maior do 25 de Abril de 1974. Na madrugada dessa noite, quando reuniu as suas tropas na parada da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, foi autor de um discurso que ficou para os livros de História. «Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, neste noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!», disse. Os 240 elementos do batalhão acompanharam-no até Lisboa para derrubar o regime.
No actual contexto do futebol português, até pode parecer exagerado evocar Salgueiro Maia. Talvez seja. Há coisas boas em Portugal. Pois há. Mas há imensas coisa boa que existe no futebol nacional é essa mesma: o futebol, o jogo jogado. Depois, um vastíssimo leque do que rodeia não é mau; é péssimo. O ambiente, então, não é de cortar à faca, é de cortar à motosserra. Queixas para cá e para lá; trabalhos de equipas de arbitragem dissecados até ao mais ínfimo pormenor; guerras institucionais de clubes com os organismos que os tutelam; árbitros agredidos por jogadores ou por adeptos. Perante tudo isto, o Governo não assobia para o ar, assobia para a estratosfera.
O poder político, em caso de grandes feitos no desporto, é dos primeiros a correr para a fotografia de grupo. No entanto, no caso do futebol, caso não haja uma intervenção séria e concreta nos próximos tempos que minore o actual estado de coisas, a previsão é que, no caso do futebol, há muitas probabilidades que as fotos passem todas a ser a preto e branco."
Hugo Forte, in A Bola
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