"É natural que as técnicas de controlo hoje aplicadas sejam diferentes das que tiveram eficácia no passado, mas há pormenores que não mudam
O clássico do último sábado deve ter sido dos que mais polémicas provocou, antes, dada a colagem pontual e a proximidade do final do Campeonato, e mais tolerantes reacções suscitou, depois, com os dois treinadores a lamentarem ambições de vitória não alcançada, mas sem enveredarem por discursos plangentes, nem tão pouco transformarem o árbitro no vazadouro das suas frustrações.
Entendo mal, no entanto, o envolvimento de Rui Vitória naquele pagode sobre o relvado após o final do encontro, menos ainda a participação em conversas com directores adversários. Assim como, na conferência de Imprensa, desaprovo a necessidade de Nuno Espírito Santo se referir a pormenores organizativos para protestar o atraso na entrada de adeptos portistas, como se isso fosse da sua área de competência ou alguma relação tivesse a ver com o resultado.
Os treinadores devem convencer-se que são pagos para treinar, receberem aplausos no sucesso, mas também assumirem responsabilidades no fracasso, o que, manda a verdade dizer, raramente fazem. Se perdem, a culpa ou é dos deuses ou... dos árbitros. Basta. É preciso evoluir!
Continua tudo ligado
Afinal, isto continua na mesma. Já lá vai o tempo em que quatro eminências, durante anos, exerceram influências e condicionaram decisões. Foram donos do poder em dois formatos, ora à vista, ora por detrás da cortina.
Ainda hoje, porém, há quem se abespinhe quando se trazem à colação recordações desse período de tramas contadas em surdina e a conta gotas. Período esse que alterou a realidade do futebol português: ganhou não revelou saber para inverter a situação. São os resultados e os títulos que o confirmam.
Não é possível alterar o curso da história, mas é imperioso cuidar do presente e apetrechar o futuro de condições para repelir qualquer tipo de contaminação.
É natural que as técnicas de controlo hoje aplicadas sejam diferentes das que tiveram eficácia no passado, mas, no essencial, há pormenores que não mudam, emergindo indícios fortes para acreditar que continua tudo ligado. Repare-se em quatro exemplos recentes:
1. À Federação deu-lhe jeito o movimento de apoio à Selecção durante o Europeu de França em 2016, mas, como é vulgar dizer-se, não há almoços grátis. A história dos bilhetes ficou por esclarecer e desde essa parceria até se avançar para a legalização de uma claque oficial da FPF foi um pulo. Melhor, um gesto de boa vontade na opinião de quem deu cara pela ideia, o chefe dos Super Dragões. Todavia, só acredita quem quiser ser enganado. Aliás, a súbita presença no jogo com a Hungria deve ter dado para perceber que nem o projecto, nem a gente que o suporta se recomendam.
2. No início do corrente ano, a dois dias de dirigir o Paços de Ferreira - FC Porto, Artur Soares Dias foi ameaçado por elementos dos Super Dragões, sugerindo-lhe educadamente, como imagino, um trabalho que corresse bem. Apresentou queixa na PSP, sinal do que as coisas começam a mudar. De recordar que apesar de ter o árbitro português mais conceituado na UEFA e na FIFA, foi considerado sem condições para «arbitrar mais jogos do FC Porto» pelo próprio Pinto da Costa.
3. Nos dias que antecederam o clássico da Luz, foi propagandeada uma campanha assente em falsa notícia de desvio de considerável quantidade de bilhetes de casas do Benfica para as mãos dos Super Dragões. Houve o propósito de colocar em causa a segurança e ferir a credibilidade da organização do jogo. Verificou-se, contudo, não ter passado de grosseiro embuste para provocar cal estar e instalar medo nas pessoas. Dos cerca de dois mil bilhetes desviados para parte incerta, apenas 60 foram detectados. Mais: a claque do FC Porto nem sequer preencheu na totalidade a lotação do espaço que lhe estava destinado nas bancadas do Estádio da Luz.
4. Finalmente! Câmara do JN captou bárbara agressão de um jogador do Canelas a um árbitro. O País viu, e a esta hora já devem ter sido dadas ordens de cima (pergunta para reposta rápida: alguém diz o nome do secretário de Estado da tutela?). Não há mais paciência para ironias de mau gosto, nem para tolerar quem vira a cara para o lado. A Associação do Porto, apesar de alertada para indignação de outros clubes, nada de suficientemente preocupante enxergou para tomar medidas que de algum maneira pudessem impedir que se chegasse a esta brutal cena de violência.
Coincidência ou não, o Canelas é o clube onde joga o chefe dos Super Dragões, e mais alguém de seita, que se pavoneia por entre bons e maus com indecifrável à vontade, fruto de consentida habilidade em nome das conveniências.
O jogador não tem perdão e, aparentemente, os amigos vão deixá-lo cair. Uma agente da PSP vai ter processo disciplinar por causa de imagens «passadas exaustivamente por diversos órgãos de comunicação social». O agente deitou um adepto ao chão, mas não lhe partiu nenhum osso. O jogador mandou o árbitro para o hospital com três facturas: ganhou o Canelas. No resto houver empate: ambos foram tramados pelas câmaras."
Fernando Guerra, in A Bola
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