"Recorrendo a muita da sua juventude, o Benfica portou-se como gente crescida na Ucrânia. Hoje é no Restelo. Os mais velhos da equipa que expliquem aos mais novos e aos acabados de chegar o empenho a que um clássico obriga. Entre eles há um - franco Cervi - que não vai demorar muito tempo por aqui. este minúsculo argentino, dono de um futebol maiúsculo, tem capacidade para se revelar o melhor comunicador da indústria, pelo muito que de maravilhoso nos comunica jogando.
Cervi foi disputado pelo Benfica e pelo Sporting. Anunciado como certo em Alvalade, acabou por aterrar na Luz. São estas as querelas entre rivais que interessam ganhar e não as dos comunicados infantiloides nem, muito menos, as dos facílimos e por isso mesmo desprezíveis, diagnósticos de insanidade à vista desarmada.
A nossa ideia de que o futebol não era para budistas durou até haver redes sociais. Melhor: durou até esta semana, quando um budista confesso do Instagram mandou Cristiano Ronaldo "fazer o mesmo à mãe", comentando uma fotografia do jogador português pisando distraidamente o canteiro onde assenta uma estátua de Buda. Em portugal, o mais recente budista do futebol não é em si menos surpreendente.
Trata-se do presidente do FC Porto, o próprio. Instado a comentar a versão requentada do não-caso dos vouchers, Pinto da Costa surgiu em público para dizer que "isso são coisas que discutidas não trazem nada de bom ao futebol" e, ainda mais zen, rematou de trivela:" Eu não alinho a falar sobre que clube for em problemas dessa espécie," Ficaram os benfiquistas sem fôlego perante a benevolência do grande adversário. Já em Alvalade foi mais perturbador o que se seguiu. Perante o inconveniente altruísmo alheio, não é que se viraram os teclados para a pobre Alemanha e desataram a chamar nomes aos tipos do Borussia de dortmund?
Por tudo isto era conveniente que o Benfica entrasse hoje no Restelo com o maior respeito pelo adversário e ganhasse o jogo com pacifismo. No nosso futebol não é budista quem quer. É budista quem pode."
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