"Ninguém admira mais Oscar Tacuara Cardozo do que eu. Quando o nosso ponta de lança enfiou o terceiro ao Sporting na Luz eu fui visto a gritar: “AMO-TE, CARDOZO!!! AMO-TE, CARALHO! AMO-TE!”. Uma pessoa que grita isto no meio de uma multidão só pode ser levada a sério. No Benfica da minha vida adulta, Tacuara Cardozo foi o homem que mais admirei, o jogador que nunca teve um assobio meu, a quem aplaudi mesmo todos os falhanços.
Não me interessa se é desengonçado, se não parecia capaz de ganhar os Jogos Sem Fronteiras. Oscar Cardozo é o maior marcador estrangeiro do Sport Lisboa e Benfica. E, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, é um ponta de lança além da quantidade estúpida de golos que já marcou.
Foi-me penoso ver Cardozo ontem. Doeu-me. Cardozo, no Dragão, fez uma exibição tão péssima – fruto da sua gritante falta de ritmo e entrosamento neste novo Benfica – que eu sofri como sofrem os pais quando vêem os filhos a serem goleados num jogo de infantis. Tive vontade de o tirar dali, não só para o bem do Benfica (que era o mais importante), como por ele. Cardozo não merece não estar à altura do Benfica.
No livro de Camilo de Castelo Branco, Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda é um miguelista provinciano e conservador que, chegado à capital, se torna um liberal um bocado para o devasso. A sátira da vida política portuguesa faz de Calisto um anjo caído, personagem cómica de costumes caricaturados. Cardozo merece tudo menos ser uma personagem cómica, um corpo estranho que os adeptos querem ver fora dali. Cardozo merece o nosso carinho, as nossas palmas, a nossa paciência, mas devido ao seu estilo de jogo – e à mudança de estilo do Benfica – só pode voltar em condições físicas que agora, obviamente, não tem.
No entanto, se o Sport Lisboa e Benfica se encontra líder do campeonato com 7 pontos de avanço, em todas as frentes e num estado anímico que faz quase esquecer que ao minuto 90 da segunda jornada com o Gil Vicente corríamos o sério risco de acabar a segunda jornada com zero pontos, muito se deve a Oscar Cardozo. Foi ele que marcou a Belenenses, Académica, Olympiakos, Nacional e aqueles 3 ao Sporting (cada um melhor que o outro). Numa fase da época onde o Benfica não jogava o que joga agora e onde tudo estava por um fio, Jorge Jesus incluído, Cardozo – como um anjo – manteve-nos vivos e permitiu-nos chegar a Março com o campeonato mesmo à mão.
Cardozo, neste momento, tem de estar no banco. Até Funes Mori teria sido mais útil que o grande Tacuara ontem. Mas é nosso dever não deixar cair Cardozo. Se Cardozo tantas vezes segurou o Benfica, agora é o Benfica que o deve segurar. Um matador destes não merece assobios e não pode ser exposto assim. Se há coisa que eu considero fatal para um clube e os seus adeptos é a falta de memória. E Cardozo deve perdurar sempre na nossa pelas melhores razões. Para mim, serás sempre um anjo."
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