"Em Maio de 1915, disputou-se a primeira Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. Benfica (depois de bater o Cruz Quebrada por 7-0) e Sporting chegaram à Final. E, apesar do entusiasmo 'encarnado', os 'leões' venceram (3-1).
A Taça de Honra da AFL está de volta, como vimos. Sem a dignidade que merece por via de regulamentos excessivamente liberais, mas de regresso mesmo assim, resta saber por quanto tempo mais. Por isso, talvez valha a pena regressar por momentos a 1915 e à primeira edição da prova, criada pela Associação de Futebol de Lisboa no intuito de 'prolongar a actividade das primeiras categorias dos seus clubes'. Ao contrário do que sucedia com o Campeonato de Lisboa, disputado no sistema de 'poule', como era prática dizer à época, a Taça de Honra jogava-se a eliminar, sendo a inscrição facultativa. E assim, na época 1914/15, participavam na prova cinco clubes, a saber: Benfica, Sporting, Cruz Quebrada, Lisboa e Império. O Internacional declinou a presença.
Por via do número ímpar de clubes, procedeu-se a um sorteio, tendo o Sporting ficado isento do primeiro jogo. E, assim sendo, o Benfica defrontou o Cruz Quebrada e o Lisboa jogou contra o Império. Depois, seria a vez do vencedor deste último jogo decidir frente ao Sporting quem iria à Final.
Sorteio conveniente, não há dúvidas. Tudo se preparava para uma Final entre Benfica e Sporting, algo obviamente importante para a popularização da Taça de Honra. E assim seria...
O Lisboa venceu o Império no primeiro jogo, disputado no dia 9 de Maio de 1915, um domingo, a mesma data aliás do que a do Benfica-Cruz Quebrada: 2-1 foi o resultado a favor do Lisboa.
Vida complicada a do Cruz Quebrada frente ao Benfica. No início da partida não havia gente para perfazer a equipa. Apenas seis jogadores se perfilaram para iniciar a contenda, tendo os restantes surgido já no final do encontro. Questões típicas do amadorismo de então.
Venceu o Benfica, claro está! De forma fácil, tal a debilidade do opositor, que não ofereceu resistência nem podia fazê-lo. 7-0 esclarecedores. Golos de Francisco Pereira(3), Cândido, Herculano, Aníbal e Rio.
O Benfica garantia o seu lugar na Final. E o Sporting também, tal como se esperava, já que, no domingo seguinte, bateu o Lisboa.
A maré verde
A 30 de Maio, em Sete Rios, Benfica-Sporting estiveram frente-a-frente para disputar a primeira Final da Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa.
Havia muita gente, mesmo muita gente, em redor do rectângulo.
Dizem as crónicas da época que sobrou entusiasmo mas escasseou talento e beleza ao confronto. E, graças a um golo de Francisco Stromp, aos 28 minutos, o Sporting chegou ao intervalo na posição de vencedor.
Mas eis que, no segundo tempo, o Benfica reagiu. Francisco Pereira e Herculano desenharam bonitos movimentos de golo, o público entusiasmou-se a e apoiou a equipa, Alberto Rio ultrapassou Jorge Vieira e, frente a Morice, aplicou um remate certeiro que assinalou o empate.
Já era um Benfica dominador. E, do outro lado, o Sporting esmorecia e sujeitava-se ao adversário.
Puro engano. Num movimento de contra golpe, após várias oportunidades desperdiçadas pelo ataque do Benfica, cria-se confusão na área de Picoto. Durante semanas discutiu-se o autor do lance. A verdade é que a bola entrou e de nada serviram os protestos benfiquistas em relação à irregularidade do golo. O árbitro, Augusto Sabo, não teve dúvidas. 2-1 para o Sporting.
O balão 'encarnado' esvaziou-se a partir daí. O Benfica voltou a jogar mal e sem conjunto, apenas Alberto Rio remava contra a maré verde. Armour, o extremo-esquerdo do Sporting, fez o 3-1 e resolveu o jogo. Os 'leões' venceram a primeira Taça de Honra. Mas era só a primeira. Tantas outras venceria o Benfica a partir daí.
Benfica: Jorge Picoto; Henrique, Mocho; Figueiredo, Cosme Damião, Jaime Cadete; Aníbal, Herculano; Francisco Pereira, Cândido, Alberto Rio.
Sporting: Mocho; Amadeu Cruz, Jorge Vieira; Boaventura, Artur, Raul Barros; António Stromp, António Rosa Rodrigues; Francisco Stromp, Jaime Gonçalves, Armour."
Afonso de Melo, in O Benfica
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