"Aconteceu o que se esperava: a autofagia dos clubes saiu vencedora e derrotou clamorosamente propostas inovadoras para uma profunda alteração nas competições profissionais.
Em vez de se defender o essencial, preservou-se a aparência. À beira do precipício, preferiu-se dar mais um pequeno passo em frente. Optou-se, como sempre, em insistir no impossível, em vez de construir os alicerces do possível. Ganhou a visão estratégica de vistas mais largas. Venceu a via mais canhestra baseada em falsos argumentos de pequenos sacrificados contra grandes beneficiados, numa dinossáurica visão de combate entre Gulliver e Liliputianos. Não se vislumbra uma visão de cooperação activa e estratégica entre os clubes que, adversários nos relvados, deveriam fortalecer os interesses comuns para bem do futebol em Portugal. O que há é uma cretina «luta de classes» onde todos perdem sejam maiores ou menores clubes, com a complacência dos primeiros e o reaccionarismo dos segundos.
Por ironia, dias depois da decisão de mudar algo nas competições... para que tudo, afinal, possa ficar na mesma, surgiu a notícia de que cerca de metade (16) das equipas das ligas profissionais não podem inscrever jogadores por não cumprirem requisitos legais relativos a dívidas a Fisco e Segurança Social.
Ora aí está, em todo o seu esplendor, o paradoxo do nosso futebol. A fantasia de braço dado com a irresponsabilidade. Em vez de sangue novo, optou-se pela falta de cabeça. Faz-me lembrar a estória do tipo a quem no hospital perguntaram se «ele era o dador de sangue», ao que ele respondeu: «não, sou odar dor de cabeça»."
Bagão Félix, in A Bola
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