"É estranho. Será que nos passou despercebida a habitual palhaçada levada anualmente à cena na Assembleia Constituinte? Ou tornou-se invisível aos olhos críticos de quem considera a pantominice mais do que grotesca, ofensiva da moral e dos bons costumes de uma classe política que deixou há muito tempo de estar próxima de qualquer um dos dois? O Madaleno terá vindo à capital escondido, camuflado, para o beija-mão da ordem? Não creio. Não é seu hábito. Gosta de expor as suas insuficiências e exibir a sua falta de nível. Não é, portanto, concebível que o faça sem ser às escâncaras, provocando a gente de bem, largando as suas chalaças velhas e relhas que só fazem rir os lambedores de botas que se deitam aos pés do figurão, incensando-o nas colunas de jornais e em programas indigentes de televisionamento barato. Portanto, a pergunta faz sentido.
Para quando a palhaçada? Já a deixámos nestas há uns tempos. Apenas o silêncio responde à questão. Por isso também faz sentido insistir: então, e a palhaçada? Qual a data marcada para a romaria de medíocres que faz da antes dita «casa da Democracia» numa taberna ordinária na qual se benzem as tentativas de corrupção que em qualquer Estado de Direito levariam os seus autores ao fresco das lajes da cadeia. Ficamos à espera. Pacientemente à espera da repetição do nojo. Com a certeza segura de que nenhum dos artistas das habituais palhaçadas terá ganho vergonha na cara, seja por que não têm cara, seja porque não têm vergonha..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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