"O que leva o comum dos mortais a preferir um clube em relação a todos os outros? O que o leva a escolher um emblema, a seguir uma equipa? Por que razão sofre ou rebenta de alegria? Que motivo há para que chore ou se desfaça em beijos e abraços? Que o leva ao desespero ou à beatitude? Não há uma razão única; vale tudo um pouco. Mas regressemos aos primórdios de cada um. Há quem se torne adepto de um clube por ser o clube da terra onde nasceu. A ligação é familiar, nesse clube terão jogado pais ou tios.
Como também pode ser familiar a ligação de quem escolhe o clube do pai ou do avô. E mesmo até por embirração, talvez contra o pai ou contra o irmão mais velho. Depois há a opção prosaica: gosta-se de um clube pela cor das camisolas.
Ou ainda mais filosoficamente: pelo estilo de jogo da equipa, ofensivo ou defensivo. E até personificado: porque nela jogo um astro, um jogador de carisma e qualidade.
Podia encher um jornal com motivos, mas existem alguns que de tão estranhos cairiam no descrédito. Imaginem alguém que opta por ser de um clube porque se identifica com a sua política de corrupção, roubo e violência... E alguém capaz de vibrar com vitórias falsas à custa de árbitros solícitos e vergados. E outro alguém, ainda, delirando com os prejuízos feitos aos adversários por via do trabalho soez de dirigentes criminosos.
Vocês perguntarão: há adeptos que, deliberadamente, assumem com gosto a sua condição de sócios de corporações de malfeitores travestidas de clubes de futebol? E eu respondo: há! Acreditem que há! E marcham em legiões para os estádios envergando orgulhosamente as suas camisolas às riscas que fazem lembrar as fardas dos prisioneiros da sinistra ilha de Alcatraz."
Afonso de Melo, in O Benfica
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