"Enquanto não for tornada pública a punição aos erros dos árbitros a suspeição continuará a crescer. É isso que querem?
Finalmente, muitos meses depois do tempo certo, o árbitro assistente Ricardo Santos, um dos melhores do Mundo, falou (porque deve ter sido autorizado...) sobre o lance do terceiro golo do FC Porto na Luz, que valeu a vitória aos dragões por 3-2. Disse, simplesmente, Ricardo Santos que, naquele instante fatídico, se desconcentrou, falhando a avaliação de um lance sem grande dificuldade. Disse, está dito, desconcentrou-se, acontece. Porém, perante a lei da rolha a que os árbitros estão sujeitos, só agora foi possível ter uma explicação do assistente de Pedro Proença no Euro 2012; mas não se soube - e este é um pecado capital - que sanções sofreu Ricardo Santos por uma desconcentração que teve influência directa no desfecho do jogo do título de 2012/13. Para a opinião pública o que passa é um sentimento de impunidade (que, amiúde, não corresponde à realidade) dos árbitros, que só concorre para o descrédito destes. Enquanto esta situação não for alterada, a ideia de estarmos perante vacas sagradas, que vivem para lá da crítica e da autocrítica, só potencia a contestação aos árbitros. É uma falta de transparência que acaba por prejudicar a imagem dos juízes de campo e aumenta exponencialmente a suspeição no futebol.
Herculano Lima, juiz conselheiro jubilado e presidente do Conselho de Disciplina da FPF, no recente voto de vencido a propósito de um castigo a Jorge Jesus, na sequência do Benfica- FC Porto onde Ricardo Santos cometeu um erro importante, perguntou porque é que os juízes de toga são criticados a torto e a direito e os do futebol devem estar imunes a críticas. A questão é pertinente e seria bem resolvida se os árbitros não vivessem protegidos por uma redoma demagógica, que imputa ao erro humano tudo o que de mal acontece, sem mais explicações.
Por um lado, os árbitros são humanos e os seus erros devem ser perdoados; por outro, a UEFA não quer nem ouvir falar em meios auxiliares para um melhor julgamento das partidas. Um contrassenso.
«Todos erram, os jogadores também», diz muitas vezes Pierluigi Collina, secundado pelos presidentes das arbitragens locais, Vítor Pereira incluído. É verdade, mas enquanto que os erros dos jogadores não prejudicam os árbitros, os erros dos árbitros prejudicam os jogadores. E se todos temos direito a, de boa fé, errar, há consequências a extrair dos erros. Dentro desse direito tanto cabe a empregada que errou e partiu um prato como o controlador aéreo que errou e morreram 500 pessoas. É por isso que a graduação dos erros tem de ser diferenciada. Mas os árbitros também são punidos, podem dizer os responsáveis do sector. Só que esse castigo não é tornado público, o que aproxima a arbitragem de uma sociedade secreta. Secreta porquê? O que têm a esconder? Não acordem, não...
(...)"
José Manuel Delgado, in A Bola
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