"Existem vários locais para nos podermos sagrar Campeões Nacionais de Basquetebol. E nossa casa, como em 2009/10. No pavilhão de um adversário normal, como aconteceu em 2088/09 (na altura, em Ovar). Ou... numa selva, como foi agora o caso. Após um jogo muito emotivo, em que o Benfica esteve quase sempre por cima, os comandados de Carlos Lisboa saíram do Porto ameaçados, insultados, agredidos, mas com o trófeu bem seguro nas suas mãos. E, para além dos inegáveis méritos desportivos da vitória, há que louvar a coragem (mental e física) que demonstraram, sem a qual não seria pos´sível superar o clima de intimidação que ali foi montado, e a qual deve servir de exemplo para todas as equipas do Benfica que ali se desloquem.
Uma vitória especial
Todos os títulos são bem-vindos, mas este, pelas circunstâncias em que foi obtido, vale bastante mais do que uma simples assinatura (pela 23.ª vez) no palmarés da prova. Mais do que a conquista desportiva, aquela foi também uma vitória da dignidade sobre o ódio, sobre a violência, sobre a corrupção, e também sobre o medo.
Poderia ter sido um triunfo normal, da melhor equipa, numa Final rijamente disputada, caso não estivesse do outro lado um clube que não sabe ganhar (como tantas vezes temos visto), nem sabe perder (como agora, uma vez mais, demonstrou). O que se viu após o jogo, revela a natureza dos respectivos protagonistas, à cabeça dos quais aquele que se sentava ao centro da tribuna presidencial, que inspirou e abençoou os desacatos que impediram o Benfica de receber a taça condignamente, e que depois, da cabeça perdida, ainda teve o atrevimento de descarregar a sua frustração nas suas forças policiais - talvez por elas, desta vez, terem cumprido o seu dever, impedindo o linchamento dos Campeões Nacionais.
Obviamente ninguém lhes pedia para ficar a assistir à festa dos jogadores 'encarnados', e o mais natural era abandonarem o pavilhão (coisa que eu faria, se acontecesse na Luz). Mas ali joga-se outro Campeonato. Joga-se o Campeonato dos complexos de inferioridade provinciana, que nenhum resultado, nem positivo, nem negativo, consegue apagar das mentes. Na hora da derrota, não é pois tristeza ou desânimo que ali se vive. É ódio, é raiva, é fúria, e são todos os sentimentos que a pequenez consegue despertar, e que nem com vitórias se dissipam.
O Benfica não pôde receber o trófeu no campo. É para o lado que dormimos melhor. Houve festa no balneário, e na chegada a Lisboa, onde os jogadores foram recebidos como hérois.
Em toda a temporada, nas várias competições, disputaram-se nove clássicos entre Benfica e FC Porto, dos quais a nossa equipa venceu seis. Naquele mesmo local, jogámos quatro vezes e vencemos três. Nestas Finais, dominámos largamente a maioria dos jogos, e mostrámos largamente a maioria dos jogos, e mostrámos que éramos a melhor equipa, mesmo que atingida por lesões graves de jogadores influentes.
Superioridade clara
Nos últimos quatro anos, o Benfica foi Campeão três vezes, o que traduz uma supremacia que começa a fazer lembrar a das décadas de oitenta e noventa, quando, com Lisboa em campo, conquistámos 29 trófeus oficiais em quinze anos. Agora é ele o técnico, e a avaliar por esta vitória, o seu 'toque de Midas' continua a fazer efeitos no Basquetebol luso.
O triunfo agora obtido, para além da grande alegria que nos deu, e da importância desportiva, institucional e cívica que atrás ficou expressa, significa ainda um valente pontapé num certo sentimento de fatalidade que começava a apoderar-se da Família Benfiquista. Ultimamente, muitas foram as ocasiões em que os 'encarnados' viram a sorte fugir-lhe nos principais momentos de decisão, quer nas restantes modalidades. Desta vez, sob grande pressão, num ambiente de terror, e com a desvantagem psicológica de ter perdido em casa, o Benfica foi... Benfica, arregaçou as mangas, ergueu a alma, e trouxe o caneco para a Luz.
Por tudo isso, esta vitória não termina aqui. Doravante, o exemplo dado por estes homens guiará cada atleta que àquele local se deslocar com uma camisola do Benfica vestida. Mais do que um título, é esse exemplo de coragem e de Benfiquismo que temos de agradecer aos nossos grandes Campeões.
Cheira bem, cheira a Lisboa! (positivo)
Era assim que cantavam os adeptos no velhinho pavilhão da Luz, quando Carlos Lisboa, com os seus triplos, cilindrava os adversários portugueses e europeus.
Agora, como técnico, viveu mais um grande momento, ao trazer para a Luz um Campeonato conquistado em circunstâncias particularmente difícieis, e para o qual a mística que soube transmitir aos atletas se revelou fundamental. Imquestionavelmente, o maior nome do Basquetebol português
Mau perder (negativo)
Infelizmente, os acontecimentos que se seguiram à Final de Basquetebol não surpreenderam ninguém. O crónico mau perder portista está personificado nas imagens do seu presidente a discutir com a Policia, responsabilizando-a, quiça. pela perda de um título com o qual já contava. Depois, seguiu-se um comunicado vergonhoso, que demonstra o desespero ali reinante.
Há muito a fazer no Desporto português para que um dia vencedores possam comemorar os títulos tranquilamente. Mas enquanto a impunidade sancionar as piores práticas, será difícil termos esperanças nesse futuro.
(...)"
Luís Fialho, in O Benfica
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