Últimas indefectivações

domingo, 15 de abril de 2012

Pastelaria Horta

"1. As recentes notícias sobre o envolvimento de um dirigente desportivo num caso de arbitragem - as palavras são medidas, atenta a indefinição dos contornos do caso tal como emerge na comunicação social -, associado à pretensa violação da privacidade de árbitros através de redes sociais, conexionando com o conhecimento de um texto publicado no Facebook de um observador provocador e insultuoso para um determinado clube, constituem mais um conjunto de situações que recolocam a arbitragem no centro das atenções pelas piores e mais perversas razões.
É tempo de os árbitros perceberem que não é com reacções corporativas que resolvem problemas. Como também é tempo de os dirigentes desportivos compreenderem que o sistemático exercício de pressão sobre os árbitros nada resolve. Como, finalmente, é tempo de os poderes públicos - detentores originários de múnus regulamentar e disciplinar - intervirem de forma determinante e perentória. Acompanhamos há muitos anos a actividade desportiva. Anos de mais para ignorar os seus vícios e as suas zonas de sombra. O mero exercício de constatação objectiva leva-nos a concluir pela estranheza de determinadas arbitragens, de determinadas decisões, de tantas alegadas deficiências de apreciação de lances quer sob o ponto de vista disciplinar, como do ponto de vista técnico.
Todos clamamos ser de bradar aos céus a indiscriminada e pouco criteriosa amostragem de cartões no início de jogos, como nos indignamos com intervenções que pontuam as partidas, destruindo-lhe a fluidez, desestruturando estratégias de jogo, desconcentrando jogadores. Não são os penalties que marcam o erro grave e perturbador do árbitro. Uma ocasional má colocação ou instantânea desatenção podem justificá-lo. É a sucessão destas pequenas intervenções que pode ou não definir a tendenciosidade de uma arbitragem. Todos hoje o sabemos.
Ora, o mais grave e perturbador de tudo é que este fenómeno não se esgota nas fronteiras nacionais. Assistindo às arbitragens da Liga dos Campeões, ou da Liga espanhola, ou, num breve apelo à memória, em recentes edições do Campeonato do Mundo, vemos replicadas estas práticas que tanto nos indignam nacionalmente. E a favor de quem? Esta a questão nuclear. O Benfica foi prejudicado em ambos os jogos que disputou com o Chelsea. Verdade insofismável. O futebol inglês tem um clube nas meias-finais da Liga dos Campeões. Facto ou consequência? Provavelmente ambos. O Real Madrid foi prejudicado gravemente em dois jogos recentes da Liga espanhola. Esse prejuízo contribuiu para a diminuição da diferença pontual com o Barcelona. Facto ou consequência? Provavelmente ambos. E se recordarmos os benefícios da Alemanha e do Brasil num Campeonato do Mundo, parecendo determinados para se encontrarem na final, colocaremos a mesmíssima pergunta.
O que manda, pois, na indústria do futebol? A verdade desportiva ou os interesses financeiros? Qual dos vectores domina em caso de conflito? Esta é a pergunta a que ninguém quer responder. Mas cuja resposta, infelizmente, vai emergindo dos factos conhecidos com crescente clareza. Mas, para além destas reflexões, convém reflectir acerca de notícias que lemos e que indiciam fiscalização de vida privada de cidadãos. E, nesta sede, ao mínimo indício justificado, a relação de confiança entre cidadãos e instituições tem de ser posta em causa. Não é o fair-play desportivo. É a essência da cidadania.
2. (...)
3. (...)"

Fernando Seara, in A Bola

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