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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Carlos Pereira, um sogro do pior?

"MÁRIO FIGUEIREDO é o novo presidente da Liga de Clubes e há quem acredite ter tido peso determinante nesta surpreendente eleição a entrevista concedida recentemente por António Oliveira à RTP. Ao seu jeito de sempre, de admirável anarquista por conta própria, António Oliveira apontou para a Olivedesportos como o berço e o caixão do futebol português e do seu cortejo das mais variadas ruínas.

No entanto parece abusivo concluir que a vitória de Mário Figueiredo resultou da expressão da revolta dos clubes contra a empresa de Joaquim Oliveira que distribui entre todos, em função das respectivas grandezas e pequenezas, os proventos das transmissões televisivas de cujos direitos é proprietária há duas décadas.

Foram os clubes pequenos que elegeram Figueiredo e sobre isso não restam dúvidas. Benfica, FC Porto e Sporting apoiaram formalmente a candidatura do candidato derrotado. António Laranjo, cujo currículo nestas andanças é bem superior e mais impressionante do que o do candidato vencedor.

O Know-how de Laranjo é inquestionável. Foi ele o responsável máximo pela organização do Europeu de 2004, em Portugal. Se alguma coisa correu mal, como, por exemplo, o resultado da grandiosa final com a Grécia, Laranjo está isento de culpas porque não foi ele quem autorizou ou organizou aquele cortejo triunfal, um verdadeiro arraial campino, que acompanhou patrioticamente o percurso do autocarro da selecção nacional entre Alcochete e o Estádio da Luz. E depois foi o que se viu.

O currículo de Mário Figueiredo, em comparação, é bem mais curto. Profissionalmente, fez carreira num famosíssimo escritório de advocacia portuense, o que lhe poderia até valer uma maior consideração e estima por parte de quem, neste processo eleitoral, insistiu em menosprezar a sua candidatura.

Como se Figueiredo, em termos de futebol, não tivesse nada de mais sonante para apresentar do que o facto de ser genro de Carlos Pereira, presidente do Marítimo, um clube muito rebelde como é do conhecimento público.

Carlos Pereira? Já viram o filme, não viram? Valha-nos, um sogro do pior!

A vitória pelo voto dos pequenos contra os grandes é sempre uma alegria, nos tais termos de futebol e nos outros termos também. Os três grandes tinham declarado o seu apoio ao candidato Laranjo e nada fazia prever que esta inesperada troika de interesses muito reais sucumbisse nas urnas como sucedeu.

Laranjo, certamente, não iria ter uma vida fácil porque gerir no terreno os conflitos entre os maiores deve ser uma incomensurável dor de que já se livrou.

Mas o que terá levado os três grandes, por regra sempre desavindos, a apoiar em conjunto uma candidatura de um homem sem telhados de vidro à presidência da Liga de Clubes?

Terá o Benfica apoiado António Laranjo na convicção de que o seu presidente da Liga obrigaria, por exemplo, o Sporting a pagar os trabalhos de recuperação da área vandalizada do Estádio da Luz, tal como os regulamentos da Liga recomendam?

Terá o Sporting apoiado António Laranjo certo de que, por exemplo, jamais seria obrigado a pagar ao Benfica as ditas obras e mais certo ainda de que jamais o seu presidente da Liga mexeria uma palha para que fossem retiradas as polémicas imagens que tão exaltadamente decoram o corredor de acesso aos balneários da equipa visitante no Estádio de Alvalade?

E o FC Porto? Que encantos viu o FC Porto na candidatura de Laranjo para além de poder ufanar-se de que o seu presidente da Liga quase, quase, quase que tinha nome de fruta?

Mas Laranjo perdeu e Figueiredo ganhou. Agora vai ter de ser ele a dirimir estas e outras questões da actualidade sempre conturbada do futebol nacional.

E algumas dessas questões nasceram precisamente com a vitória de Mário Figueiredo no passado dia 12. Como a eminência do alargamento da divisão principal de 16 para 18 clubes, bandeira eleitoral da sua campanha. Foi com esta bandeira que o candidato dos pequenos deu o xito nos grandes.

Não é uma bandeira boa. O alargamento não vai trazer riqueza aos pequenos porque o bolo é o mesmo ainda que o número de convivas possa aumentar.

Com o alargamento irá haver uma nova distribuição da pobreza e, de modo nenhum, uma nova distribuição da riqueza. E cá estaremos todos para ver acontecer.

As maiores felicidades ao novo presidente da Liga são, no entanto, os votos de todos os bons desportistas e de todos os democratas, que ainda são alguns.


O Benfica fez um belo jogo com o Vitória de Setúbal. Sem Aimar, Javi Garcia, Garay e Gaitán no onze titular e com sete jogadores que só chegaram à Luz no Verão passado - Artur, Emerson, Matic, Witsel, Nolito, Bruno César e Rodrigo -, a equipa produziu um espectáculo de qualidade e ganhou expressivamente depois de ter começado o jogo a perder graças a uma bola que, embatendo na aresta errada do crânio do nosso Luisão, traiu o nosso guarda-redes, poker face Artur.

O lance foi infeliz, pois foi. Mas não houve choraminguices. O Benfica reagiu com um espírito adulto, com um futebol que dá gosto ver e voltou a golear.


PESSOALMENTE, assaltam-me grandes dúvidas sobre este Benfica de 2011/2012.

É que não sei se gosto mais de Rodrigo ou se gosto mais do Cardozo. Sim, são dúvidas luxuosas, reconheço. E acho que vou andar nesta feliz indecisão até ao final da temporada.

Peço perdão aos assobiadores do paraguaio se os ofendi.

Mas, olhem, foi de propósito.


POR falar em choraminguices, ontem Domingos Paciência ultrapassou-se a si próprio, o que é muito difícil. Um treinador de uma equipa grande, vir fazer queixas de dois jogadores do Braga porque lhe disseram «toma!» no túnel, no fim do jogo, é francamente de mais.

Toma?! É que nem «toma lá e vai almoçar» ou «...embrulha» ou «enxerga-te». Apenas «toma!» e deu logo direito a choradeira e a discurso sentido sobre a ingratidão de Hugo Viana e de Mossoró, jogadores que já teriam acabado as respectivas carreiras se Domingos não os tivesse feito ressuscitar do limbo em que penavam.

No seu vale de lágrimas, o treinador do Sporting ainda teve discernimento para se insurgir contra os «médicos, fadistas e carpinteiros» da casa que lhe moem a paciência todos os dias com os seus comentários na comunicação social.

Tomem!


«QUEM me dera escrever como o Messi joga», disse António Lobo Antunes um dia destes.

O nosso maior escritor é um esteta. A sua ambição é puramente literária, não provoca celeumas entre os seus pares e foi facilmente entendida pelos literatos do mundo inteiro. Lobo Antunes tem como émulo um futebolista excepcional, provavelmente o melhor de todos os tempos.

E qual o sarilho? Nenhum.

Bom, pensando melhor, há sarilho, sim senhores. Mas apenas com Cristiano Ronaldo que não deve ter achado lá muita graça à declaração de António Lobo Antunes. E todo o mundo literário, e não só, sabe bem como Cristiano Ronaldo é suscetível quando se trata de Lionel Messi.


E ontem a coisa ainda ficou pior. Embora Cristiano Ronaldo tenha marcado o golo do Real Madrid que pode não ser suficiente para a decisão da eliminatória da Taça do Rei visto que o Barcelona foi outra vez ao Santiago Bernabéu fazer aquela coisa do costume...

O Javi Garcia e o Rodrigo fazem muita falta ao Real Madrid.

E bonito bonito, foi ver o Fábio Coentrão aos 70 minutos desarmar o Messi.

Entretanto, praticamente à mesma hora no Estádio da Luz, o Benfica venceu o Santa Clara para a Taça da Liga. O jogo foi sensaborão. Só quando Nolito entrou em campo é que a coisa animou e de que maneira.

O Nolito poderá não fazer muita falta ao Barcelona. Mas faz sempre falta ao Benfica quando não joga ou quando jogo menos bem."


Leonor Pinhão, in A Bola

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