Últimas indefectivações

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Os caprichos do estrelato

"Tinha Ricardo Carvalho na conta de um homem discreto e sensato, para além de ser, reconhecidamente, um dos melhores defesas do futebol europeu. A sua carreira, mesmo tendo entrado na recta final por força da idade, ilustra bem o segundo aspecto da minha afirmação.

O modo abrupto e pouco solidário como abandonou a Selecção, em ruptura com o seleccionador e com os colegas, foi uma demonstração de arrogância egocêntrica e de quebra de solidariedade com o colectivo que só pode ser entendida como um lamentável capricho do estrelato.

Na origem dessa triste decisão esteve, sabe-se praticamente desde o momento inicial, o facto de não ter visto assegurada a titularidade do jogo com Chipre.

Esta situação merece uma breve reflexão e pelo menos um comentário de remate. Jogadores como Ricardo Carvalho, e outros portugueses que atingiram o merecido estrelato internacional, caem por vezes na perigosa tentação de, na fotografia da equipa só conseguirem olhar para eles próprios, não medindo as consequências dos seus actos a curto e longo prazo.

Terá sido isso o que aconteceu com o jogador do Real Madrid. Ou então, numa leitura menos linear, ele tinha vontade de sair de vez e encontrou nesta situação o pretexto ideal para o fazer. No entanto, tudo me leva a crer que não tenha sido esse o caso e que a saída intempestiva tenha sido fruto de um momento de emotividade descontrolada. Deplorável, de qualquer modo.

Exemplar foi, neste processo, o comportamento de Cristiano Ronaldo que, mesmo antes de ser conhecida a decisão de Carvalho, fez declarações que valorizavam a força do colectivo, a liberdade de escolha do seleccionador e o dever de solidariedade com a equipa. Contrariando a imagem de um jogador individualista e impulsivo, deu provas de maturidade e de capacidade de liderança dentro da equipa, mesmo posicionando-se com subtileza contra um companheiro de equipa no Real. Há quem se estrague com o estrelato e quem acabe por amadurecer com ele."


José Jorge Letria, in O Benfica

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