"Antes do último fim-de-semana havia duas coisas que o Benfica tinha e a que muito dificilmente o FC Porto podia ainda almejar: uma delas é a Taça Latina; a outra é uma certa superioridade moral. Concentremo-nos nas boas notícias: ainda temos a Taça Latina. A outra, pela qual tinha mais estima, terá ficado seriamente comprometida pelos apedrejamentos em redor do estádio e bolas de golfe lançadas para o relvado, mas sobretudo pela decisão oficial de, num ato que desrespeita a história e os valores do clube, se tentar impedir os naturais festejos dos jogadores campeões.
Agora, uma autocrítica. Um dos problemas desta coluna é que cito mais frequentemente o Sousa Tavares e o Rui Moreira do que indivíduos famosos pela sua perspicácia, mas sem por isso deixarem de possuir um notável sentido de humor. Trata-se de uma falha que urge reparar, desde já: depois dos 5-0 escrevi neste espaço que “o campeonato da revolta é um que o clube da Luz nunca ganhará. A revolta é a marca dos pequeninos”. Lamentavelmente, o último domingo fica na história como o dia em que o Benfica foi pequenino. Não é fácil, convenhamos, para um clube desta envergadura.
Dito isto, resta-nos o consolo de assistir à expressão pública e privada da indignação que inúmeros benfiquistas sentiram perante a decisão dos responsáveis encarnados, e estabelecer um paralelo com a atitude complacente que a totalidade dos adeptos portistas toma perante, entre outros escândalos, o apito dourado. Se fôssemos como eles, quando nos falassem no apagão da Luz, diríamos: não vi nada, isso não está provado. E se nos dissessem para irmos ao YouTube ver, que estava lá tudo, responderíamos: o Benfica nem sequer foi condenado nos tribunais civis, limitou-se a sofrer uma punição inconsequente no âmbito da justiça desportiva. Seria fácil. Mas não o fazemos. Ainda há esperança."
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