"NUM táxi por Lisboa na noite de domingo. Ruas vazias, comércio fechado, nada que cative a atenção. O som do rádio do carro, absurdamente alto, transforma-se no acontecimento da curta viagem. Está sintonizado numa estação qualquer e o motorista ouve enlevado o rescaldo do jogo entre o Vitória de Setúbal e o Benfica.
Jorge Jesus acabara de falar e os repórteres de serviço comprazem-se em graçolas sobre a gramática do treinador do Benfica.
São uns verdadeiros intelectuais da bola estes repórteres.
Ou, pelo menos, era o que pareciam na noite de domingo até que um deles se espalha ao comprido nas benditas traições da língua portuguesa, anunciando, doutoralmente, ao vasto auditório que a polícia «interviu» sobre os adeptos no final da partida.
Oh pá, não é «interviu» é interveio... enxerga-te!
A rampa de trampolim com que Costinha nos brindou no decorrer da sua entrevista à Sport TV também se arrisca a ficar na história do nosso futebolês. Não se trata de nenhum erros gramatical apenas de uma metáfora excepcionalmente criativa que em nada diminui o ex-director do futebol do Sporting.
Costinha, que nas suas indumentarias gosta de misturar riscas com quadrados, limitou-se agora a misturar a imagem de uma rampa de lançamento com um trampolim. Sendo artefactos diferentes acabam por servir para o mesmo fim.
No Sporting, até há factos objectivos que justificam a metáfora de Costinha. Cristiano Ronaldo, por exemplo, fez do Sporting a sua rampa de lançamento para o Manchester United. Já Caicedo fez do Sporting o seu trampolim para o Levante.
É sempre tudo uma questão de dimensão, quer da dimensão do salto quer da dimensão do saltador.
TRATAR Costinha por «ex-director do futebol do Sporting» logo na noite de segunda-feira não é maldade alguma. No entanto, não é preciso ser-se grande criativo para reconhecer que Costinha se demitiu em directo na televisão quando reconheceu publicamente a sua incompetência para o cargo com esta frase suicida: «Couceiro veio resolver aquilo que eu tenho resolvido, ou seja... nada.» É óbvio que Costinha se despediu a ele próprio. Não é tão óbvio que tenha, para já, conseguido despedir José Couceiro.
SE por estes tempos Pinto da Costa decretar um black-out, como já fez tantas vezes no passado, ninguém, no seu perfeito juízo, pode garantir o que se irá passar com André Villas-Boas.
Será que aguenta a rolha?
Será que consegue ter de ficar calado com tantas coisas que tem sempre para dizer?
E se o presidente do clube decretar um black-out quem é que assume, na SAD portista, a responsabilidade de reduzir Villas Boas às conversas com Vítor Pereira?
Vítor Pereira, acrescente-se, o seu adjunto e não Vítor Pereira, o presidente dos árbitros, visto que são duas pessoas diferentes embora tenham o mesmo nome e igual importância prática.
É que nunca se viu, nem se ouviu, um treinador com 11 pontos de avanço sobre o seu perseguidor directo manifestar tanta consternação por o campeonato ainda não ter acabado.
Consternação que o leva até aquele estado infantil de contar pequeninas mentiras a ver se engana a família. Depois da tremideira do jogo com o Rio Ave, depois das assobiadelas das bancadas, vir dizer em público que a sua equipa deu «uma resposta fortíssima depois da derrota com o Benfica» é, no mínimo, tolice.
No entanto, vir dizer que precisava de ganhar aquele jogo «nem que fosse com um golo marcado com a mão» já é bastante menos infantil e como o postulado não vem ferido de nenhum erro gramatical é natural que não mereça a menor contestação ou reprimenda por parte da comunicação social que se preocupa com a arte de falar português.
Mas também este assunto - o dos golos com a mão - não é do departamento de Villas Boas embora o FC Porto já tenha tido um jogador, Paille, um francês, que se destacou com goleador-manual com a aprovação dos homens do apito da altura.
Por isso mesmo, golos com a mão são do departamento de Vítor Pereira, o presidente dos árbitros, e não de Vítor Pereira, o adjunto de André Villas Boas.
JARA marcou um bonito golo em Setúbal. Nos últimos 6 jogos, o argentino fez 4 golos. Não haja dúvida de que se trata de um excelente reforço de Inverno embora tenha chegado no Verão. O que é preciso é saber esperar.
NO último fim-de-semana, Messi marcou três golos ao Atlético de Madrid e Cristiano Ronaldo marcou dois golos à Real Sociedad.
Para quem gosta de futebol e se está nas tintas para a rivalidade entre o Barcelona e o Real Madrid, e até para a questão patriótica que nos liga a Cristiano Ronaldo, este despique imparável entre o génio do português e o génio do argentino redunda numa delícia para os olhos.
Que continue assim o mundo dividido sem conseguir descortinar qual deles, na verdade, é o melhor.
Há vezes que parece que é um e às vezes parece que é o outro, de tal modo são ambos excepcionais como nos persistem em provar a cada semana que passa.
Para apreciar este festim de futebol é essencial não tomar partidos por nenhum deles, coisa estranha de se pedir quando se trata de futebol. Mas não tomando partido por nenhum, toma-se o gosto pelos dois e o gozo redobra.
Enfim, trata-se apenas de um conselho para aumentar a nossa qualidade de vida enquanto espectadores.
ONTEM à noite, Portugal perdeu com a Argentina por 2-1 mas enquanto Cristiano Ronaldo esteve em campo o resultado saldava-se num empate.
Quem quis ver o jogo sob a perspectiva única do apregoado duelo Ronaldo-Messi terá concluído que o português ganhou ao argentino por um a meio. Ou seja, Ronaldo marcou uma vez e Messi fez meio golo porque foi dele o passe para o golo de Di Maria.
O jogo terminou com o golo da Argentina, de grande penalidade cobrada por Messi.
Já estava Rui Patrício na baliza e a abalada nação sportinguista bem merecia ter visto o seu guarda-redes defender um chuto de onze metros de Lionel Messi. Mas o argentino não se comoveu... bola para um lado e guarda-redes para o outro e Paulo Bento lá perdeu o seu primeiro jogo como seleccionador nacional."
Leonor Pinhão, in A Bola
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