Quero no início desta noite, recordar que no património do Sport Lisboa e Benfica figura a dedicação constante daqueles que sempre foram a razão de ser deste Clube: os seus sócios e adeptos.
O Benfica – nunca o podemos esquecer e eu nunca o esqueço – é um projecto de pessoas. É por isso que a vossa presença aqui hoje dá sentido aos 106 anos que aqui celebramos. É difícil não sentir num momento como este o peso da história.Celebrar o nosso aniversário só faz sentido se nessa comemoração houver uma forte motivação quanto ao futuro.
O Benfica sempre viveu entre duas realidades: Ter muito futuro e, ao mesmo tempo, ter muito passado.
Durante anos passamos por momentos que puseram à prova o valor das nossas convicções e a força da nossa união. Conseguimos chegar até aqui porque acreditámos que era possível, porque decidimos avançar sem medo, porque conseguimos transformar os problemas em oportunidades.
Não tivemos medo de correr riscos, de assumir as dificuldades, porque aquilo que sempre engrandeceu o Benfica nunca foi a perfeição, mas antes o acreditar que podemos melhorar todos os dias.
Os balanços de actividade têm sempre a vantagem de nos fazer olhar para o caminho percorrido e medir o acerto do rumo adoptado. O que até aqui foi feito mostrou, por um lado, que escolhemos a direcção certa, mas indica também a dimensão dos desafios que temos pela frente!
A minha promessa para com o Clube foi sempre a mesma: uma promessa de trabalho e responsabilidade. Quando assumi estas funções, parti com a ideia de que só poderia ajudar o Benfica se fosse eu, se não mudasse. Foi o que fiz!
Posso ter errado em algumas ocasiões – seguramente que sim – mas tenho a consciência de que só erra quem tem de tomar decisões e de que quando errei o fiz com o propósito único de ajudar o Benfica.
A história julgará o meu tempo, mas o que certamente não poderá julgar é a minha dedicação e o meu esforço!
O Benfica tem uma história longa, única. Sabe por onde ir e como ir, prefere percorrer caminhos originais, sem nunca seguir atrás de outros. Porque a melhor maneira de não ficar para trás é garantir que somos nós que assumimos o nosso destino.
Quando olho para o nosso passado mais recente vejo marcas da nossa capacidade de inovar, de fazer primeiro, de fazer diferente. Vejo as marcas originais dos nossos fundadores!
A nossa estratégia passa por desenvolver o Benfica, e essa estratégia é única, adapta-se aos novos tempos e às novas realidades, mas que é cem por cento própria.Para uma instituição, existir é renovar-se e compreender o que cada tempo exige dela, é por isso importante celebrar a nossa história em momentos como este, mas ao mesmo tempo compreender que a história não espera por nós e que o que já fizemos já é passado!
Nunca devemos perder o nosso inconformismo, nem o nosso espírito crítico, porque a partir desse momento estaremos a condenar tudo o que conseguimos fazer até aqui!
O Fundo de Jogadores, a Fundação Benfica, a Benfica TV, ou a nova imagem das Casas do Benfica, são apenas quatro das marcas mais recentes da nossa história e que provam que a melhor maneira de honrar a memória e o exemplo dos nossos fundadores passa por continuarmos fieis ao nosso modelo. E o nosso modelo é simples: Sermos nós para sermos melhores!Acabei de citar quatro ‘marcas’ recentes do Benfica, mas quero esta noite destacar uma delas em particular: a Fundação Benfica. Nunca esqueço as minhas origens, o que sou e as dificuldades que passei.
Por isso é que a Fundação Benfica representa tanto para mim, reflecte muito do que imaginei e desejei quando aqui cheguei. O Benfica é muito mais do que um Clube de futebol, por isso deve estar empenhado na construção de uma sociedade mais justa e mais generosa.
O Benfica foi, é e será sempre uma instituição solidária, empenhada e socialmente responsável. Este é o meu compromisso.O futebol, hoje, tem uma dimensão universal. Os sócios e adeptos do Benfica estão nos quatro cantos do Mundo. E o Benfica tem de responder a esta chamada benfiquista! É ao mesmo tempo uma necessidade e uma obrigação. E a única maneira de o fazer é globalizar o Benfica. Mas quando falo de globalizar o Benfica não falo da sua história ou do seu prestigio. Esse é reconhecido por todos nos cinco continentes.
Quando falo de globalizar, falo de levar as Casas do Benfica e a Benfica TV a todas as comunidades onde existam portugueses, onde existam benfiquistas. Esta é uma decisão estratégica que está tomada e que é coerente com a história e a dimensão do Benfica.
Todos juntos temos sabido percorrer um caminho que foi muito duro no início, que foi difícil de percorrer durante muitos anos, mas na verdade o caminho da mudança nunca é fácil. E se é certo que o pior já passou, devemos ter consciência de que a realidade continua a ser exigente no presente. Nada do que fizemos até agora servirá, se não continuarmos empenhados em relação ao muito que ainda temos por fazer.
Temos de estar conscientes de que para ganhar, o primeiro que temos de fazer é reconhecer a dificuldade que isso representa.
Vão surgir obstáculos que temos de estar preparados para ultrapassar. Alguns estão previstos, outros não, mas temos de estar unidos para superar tudo o que possa vir a acontecer. É em momentos como este que – todos nós - sendo muitos, verdadeiramente devemos ser apenas um!
Enquanto caminhamos temos de saber que seremos sempre mais fortes quanto mais unidos estivermos. Que aquilo que nos deve importar não é o que passa ao lado ou o que dizem de nós. O essencial somos nós, o essencial é estarmos unidos à volta dos nossos objectivos.Mas estar concentrados no essencial não significa estar menos atentos ou vigilantes em relação a alguns comportamentos que apesar de absurdos não são inocentes!
Algumas pessoas têm de perceber que há uma coisa mais importante do que ganhar: a verdade! Não o perceberam no passado, esperemos que o entendam agora!
A verdade é um valor absoluto, pode ser negada, mas não pode ser mudada. Pode ser branqueada – até por alguma justiça – mas mesmo assim não muda a sua essência, porque uma mentira quando não é reparada não desaparece, torna-se apenas maior!
Podem contestar as leis que eles próprios aprovaram, podem até contestar o sol ou a chuva, o frio ou o calor. Mas a única coisa que deveriam contestar é a hipocrisia e a falsa moral que tanto apregoam mas que, verdadeiramente, nunca tiveram.
Podemos continuar a aceitar aqueles que fazem da divisão, do conflito e do cinismo o seu modo de vida, ou podemos rejeitar tudo isso e exigir comportamentos orientados pela seriedade, pelos princípios, pela ética. É neste caminho que nos devemos manter e batalhar para que outros o façam.
Não há vítimas, nem cortinas de fumo, nem conferências de imprensa colectivas ou manifestações encomendadas que possam branquear certos comportamentos. O único que há é gente que perdeu o pouco que lhe restava de vergonha.Num tempo atrás – não muito distante – dominado pela “escuridão” não vi os “ofendidos” de hoje levantar a sua voz de indignação. Pelo contrário, o que eu assisti foi ao seu silêncio cúmplice que amarrou o futebol português a uma mentira que durou mais de uma década.
É aliás assustador a naturalidade com que alguns viveram o passado e calaram!
Bem podem falar de centralismo que nós falamos do país, bem podem gritar contra o sul, porque esse é o melhor sinal de que – passados tantos anos – ainda não perceberam a verdadeira dimensão de Portugal.
Ao contrário do que alguns assumem, as instituições desportivas não são boas ou más consoante decidem a nosso favor ou contra nós. As instituições são boas quando decidem com isenção, com independência, com verticalidade. Esse é o sentido das reformas pelas quais o futebol português se deve bater!
E é esta mudança que alguns, habituados a pessoas de outros tempos, de outro carácter e de outros princípios, ainda não se habituaram.
O testemunho que vos deixo aqui hoje é este: vamos continuar como até aqui, seguros das nossas capacidades, optimistas em relação ao futuro, mas exigentes em relação ao presente.
Permitam-me que termine a minha intervenção com duas referências individuais. A primeira é alguém que completa este ano 50 anos desde que chegou ao Benfica.É uma referência viva do nosso Clube, uma marca do Benfica e de Portugal no Mundo. Alguém para quem o futebol não é um jogo mas uma razão de vida e que ainda esta semana foi muito justamente homenageado pela UEFA: Eusébio da Silva Ferreira.
Quanto à segunda pessoa que quero aqui evocar, podia falar-vos das qualidades pessoais de um homem marcante pela sua simplicidade.Podia falar-vos da sua competência profissional. Mas prefiro, aqui, falar-vos de um homem bom que vai fazer falta ao Benfica.Quero, por isso, lembrar aqui a pessoa e o exemplo de Walter Marques.
Viva o Benfica!”
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ResponderEliminarOBRIGADO