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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Bruno Lage e o 12.º jogador do Benfica


"Se é cedo para estabelecer diferenças com Schmidt no futebol jogado, Lage aposta as fichas todas, nesta fase, na tentativa de garantir o apoio dos adeptos. E faz ele muitíssimo bem!

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Em finais de maio de 2022, quando chegou a Lisboa para segurar o leme dos encarnados, Roger Schmidt falou ao coração dos adeptos. «Amo futebol, e se amas futebol, amas o Benfica», disse, logo no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, palavras que ecoaram como (boa) música nos ouvidos dos benfiquistas. O título nacional festejado um ano depois solidificou a relação, então com bastantes altos e uns quantos baixos sem expressão que não se notaram na grande festa do Marquês.
Na temporada seguinte, enquanto a equipa desiludia e era batida em todas as frentes, exceto na Supertaça, o treinador germânico não resistiu à pressão dos assobios e declarou uma guerra que estava destinado a perder. «Se os adeptos quiserem cuspir nos nossos jogadores, atirar objetos, esse tipo de adeptos deve ficar em casa», afirmou, em abril, na antevisão à receção ao SC Braga. O último dia de agosto foi o derradeiro de Schmidt na Luz, sem surpresa, ponto final na ligação ao Benfica já o terceiro anel e restantes setores do estádio desejavam há muito o divórcio.
Ainda sem tempo para treinar, Bruno Lage introduziu algumas mudanças táticas — Leandro Barreiro deixou de fazer dupla de tração atrás com Florentino, Rollheiser e, sobretudo, Kokçu mudaram a face do meio-campo, no caso da adaptação do argentino uma ideia original de Schmidt, e Akturkoglu deu vida ao flanco esquerdo — e investiu forte na reconquista dos adeptos. Se é cedo para estabelecer diferenças profundas com o antecessor no futebol jogado, Lage aposta as fichas todas, nesta fase, na tentativa de garantir o apoio incondicional do 12.º jogador. E faz ele muitíssimo bem!
Soa a forçado o bater no peito selados triunfos na receção ao Santa Clara e na visita a Belgrado diante do Estrela Vermelha? A resposta a esta pergunta pouco interessa, interessa, isso sim, do ponto de vista do técnico português, contar com alicerces tão importantes no edifício que começa a construir.
Nem vale a pena lembrar que esta nova versão mais expansiva de Lage, em contraste com a revelada na passagem anterior pelo clube, não ganhará jogos. Os problemas do futebol do Benfica no ocaso da era Schmidt, para quem já se esqueceu, estavam longe de ser explicados em exclusivo com o relacionamento difícil entre o alemão e as bancadas. Lage saberá isso melhor que nós, porque aqueles que agora vibram com ele são os mesmos que vibraram com Schmidt ou Jorge Jesus, antes das peripécias de uma bola mais dada a beijar redes próprias que as do outro lado do campo transformarem timoneiros bestiais em bestas.
A 23 de janeiro de 2002, na apresentação de José Mourinho nas Antas após ter trocado o União de Leiria pelo FC Porto, à data com os dragões praticamente afastados da luta pelo campeonato, o futuro special one prometeu: «Tenho a certeza de que no próximo ano vamos ser campeões nacionais.» À entrada para a 6.ª ronda, Bruno Lage não precisa de pensar a tão longo prazo como o conterrâneo de Setúbal anteviu naquele dia. Em setembro nada está perdido.

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Campeonato, Taça de Portugal e prova europeia — a Taça dos Clubes Campeões Europeus e a Taça das Taças obrigavam a um máximo de oito jogos até se atingir a final, a Taça UEFA implicava realizar mais dois no mesmo trajeto. O calendário nacional chegou a resumir-se a três provas, com as célebres quartas-feiras europeias a serem a exceção aos duelos nacionais de fim de semana. Depois, surgiram Supertaça Cândido de Oliveira, competições da UEFA cada vez mais alargadas, Taça da Liga e, agora, Mundial de Clubes.
Os jogadores começam a sair da toca, a reclamar contra o excesso de partidas, as queixas e ameaças de greve pairam nas entrelinhas dos discursos de Mbappé, Haaland, Rodri, Alisson, Koundé, Bernardo Silva, Courtois ou Bellingham — o médio do Real Madrid participou em 251 encontros oficiais antes dos 21 anos, David Beckham em 54, para comparar dois ingleses.
Mais que reduzir o número de desafios e dos troféus em disputa, o futuro poderá ter que passar pela constituição de plantéis alargados para responder às exigências. Com os orçamentos dos clubes já a bater no teto, era curioso tentar perceber se as estrelas estariam dispostas a abdicar de parte dos rendimentos para abrir espaço à contratação de novos companheiros, sob pena de o futebol ser terreno fértil para o síndrome de burnout e outras patologias de esgotamento profissional.
The show must go on, é inevitável a este nível de negócio, mas não é tolerável que, por exemplo, Julián Álvarez tenha estado convocado para 83 partidas (Manchester City e seleção argentina, utilizado em 54 e 18, respetivamente) em 2023/24 e o compatriota Romero (Tottenham) fosse capaz de acumular milhas de viagens aéreas num total de cerca de 160 mil quilómetros.

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Internacional em todos os escalões de formação, Francisco Ramos, 29 anos, voltou a jogar na sexta-feira, fim de um calvário que durava desde que, em abril de 2023, fraturou a perna direita. «Do ouvir que não iria jogar mais, até ao momento de hoje. Risco grande de amputação da perna. Quatro cirurgias em apenas uma semana. Centenas de sessões de fisioterapia. Dor, superação e resiliência. Há histórias piores. Há muitas. Isto é o resumo da minha», reagiu o médio dos polacos do Radomiak nas redes sociais. Bem-vindo de regresso, Chico!"

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