"A partir de 1 de julho, a disciplina tática, em detrimento do talento puro, ganha outra relevância. Porque serão os detalhes a mandar...
Calma, muita calma. Nem éramos o flop por muitos anunciado depois da vitória tardia e da exibição cinzenta, frente à Chéquia, nem somos os campeões europeus anunciados, após um triunfo robusto e uma exibição convincente ante a Turquia. Já referi, e volto a fazê-lo, que nestas grandes competições há sempre tendência para o exagero, ou somos muito bons, ou muito maus, quando, realmente, só há uma forma, parafraseando Paulo Bento, de encarar um Campeonato da Europa: jogo a jogo.
E devemos ter consciência de que num Europeu ou num Mundial, há, afinal, dois: aquele que se joga na fase de grupos, e o outro, muito mais calculista, que entra em campo nos duelos de mata-mata.
Para Portugal, que se sente desconfortável quando tem de desmontar autocarros, como sucedeu com a Chéquia (bloco baixo, defesa a cinco, linhas juntas e boa qualidade no jogo aéreo), e está muito mais à- vontade quando o adversário decide, como a Turquia, jogar olhos nos olhos, os oitavos de final não são uma má notícia, porque torna-se menos provável defrontar equipas radicalmente defensivas. Porém, a partir dessa fase, o erro paga-se com língua de palmo, e os jogos são definidos, ou nos detalhes, ou dos onze metros (é só lembrar os sinais diferentes do Polónia-Portugal, de Marselha, em 2016, ou do Portugal-Espanha, de Donetsk, em 2012).
Para já, segue-se a Geórgia, depois de amanhã, e não seria mau se Roberto Martínez perguntasse a Humberto Coelho o que fez em 2000, numa situação similar, em que após dois jogos já tínhamos ganho um grupo onde só estavam Alemanha, Inglaterra, e a melhor Roménia de sempre, de Gica Hagi. O atual vice-presidente da FPF, à altura selecionador nacional, mandou a segunda linha para o encontro com a Alemanha, e venceu com um hat trick de Sérgio Conceição, que ainda hoje deve fazer parte dos pesadelos de Oliver Kahn.
Numa competição de fim de época, que, se tudo correr bem, terá sete jogos num mês, há que racionalizar os efetivos, por um lado poupando-os a esforços desnecessários, e por outro apostando num modelo de jogo tanto quanto possível económico, coisa que parecemos habilitados a fazer. A equipa de Roberto Martínez dá sinais de estar a crescer, o que é interessante neste tipo de competições. Porém, a partir de 1 de julho, talvez não seja pior o selecionador valorizar mais a disciplina tática, em detrimento do talento puro..."
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